O apodrecimento do regime é cada vez mais evidente. Os partidos do que se chama “arco do poder” não têm solução para os problemas do país e parecem servir apenas para dar emprego a novas gerações do que os russos chamavam, com desprezo e revolta, nos tempos da URSS, apparatchicks.
Um sinal de que isto é assim, de que o objectivo é encontrar solução para os militantes e não para o país, é permitirem que gente cada vez menos qualificada chegue ao topo do aparelho partidário. Outro é terem no poder um discurso totalmente distinto do que têm na oposição. O facto de conseguirem ganhar eleições com esse discurso, mentindo cada vez mais descaradamente, levou-os a perder o respeito pelo país. Essas mentiras em que temos vindo a cair como patos são meios para chegar ao poder como fim em si mesmo, não porque, como Maquiavel, entendam que os fins justifiquem os meios – subentendendo-se que esses fins sejam nobres. Não são. São apenas a forma que o sistema lhes proporciona de chegar à gerência da agência de empregos.
Dos partidos que não pertencem ao “arco do poder” pouco há também que esperar senão novas questões fracturantes, ou de costumes, ou reivindicação cega e dura.
É por isso necessário um novo partido. Seria bom que o Livre, que ainda não tem programa, responda de forma coerente a uma questão básica, como sendo a da viabilidade do país, sem fugir à resposta a algumas questões que essa viabilidade implica. Por exemplo: a dívida é para pagar? Se não é, como vai financiar-se o Estado após o “default”? Ou acreditam que alguém nos vai emprestar dinheiro se deixarmos de honrar a actual dívida? Ou acreditam ainda que é possível o Estado passar a ter défice zero, ou até saldo positivo? Neste caso, que despesas do Estado iremos cortar? E a Segurança Social, que propostas há para a tornar sustentável, num país cada vez mais envelhecido e com cada vez menos contribuintes? Taxando ou confiscando fortunas, como propõe o Bloco de Esquerda? E quando esta receita terminar, quando deixar de haver fortunas ou houver a esperada fuga maciça de capitais, que fazer? Ficamos na União Europeia ou saímos? E como é com o peso do Estado na economia, é para reduzir ou vamos passar de vez para o socialismo? (Esta última pergunta é apenas retórica.)
Espera-se assim muito do novo partido, e embora muita da sua gente venha da esquerda radical, da que também faz parte do problema, há que lhe dar o benefício da dúvida.
Por: António Ferreira