Com a mesma intensidade com que esperava pelo Pai Natal quando era pequena, espero agora pela chegada do bolo-rei. Não me falem em consoada sem bolo-rei, que eu não acredito nisso… Ou talvez sim, já que a vida é feita de coisas novas e experiências diferentes, e em Islamabad não há bolo-rei!
Foi o casamento de uma amiga que me trouxe ao Paquistão nesta quadra natalícia, e jamais me arrependerei… Nunca os meus olhos viram tanta magnificência: flores, joias, lantejoulas, brilhos (muitos!) e uma alegria absolutamente contagiante; literalmente uma mão cheia de festas, de música, de glamour, de folia e de incontáveis sorrisos rasgados. Vi os vestidos mais deslumbrantes que alguma vez pude imaginar, mulheres de traços carregados e de uma beleza indescritível, capazes de suportar joias enormes e esplendorosas a combinar na perfeição com as suas maquilhagens extraordinariamente bem feitas e os longos cabelos muito bem aprumados.
Se os casamentos aqui são todos assim? Parece que não, mas este conta com cinco dias de festa a começarem em casa da noiva, naquilo que é para nós a despedida de solteira. Seguiu-se a festa de apresentação do noivo e da sua família e viu-se, pela primeira vez, o futuro casal a trocar olhares envergonhados. Desde que as famílias decidiram casá-los, de acordo com a tradição, iniciaram o noivado e falaram ao telefone algumas vezes. No dia seguinte, em casa da avó da noiva, numa ampla zona de oração dividida de forma a manter homens e mulheres separados, assinaram-se os papéis; cada um de seu lado e ela debaixo de um longo véu vermelho. Só depois da permissão da família dela para se casar e de estarem oficialmente casados, ele entrou na zona de oração feminina e sentou-se ao lado dela, e por debaixo do véu também. Agora era oficial! Todavia, ainda não foi desta que vimos o recém casal sair junto… A festa continuou no dia seguinte e sinto que me faltam as palavras para descrever o que vi! A família do noivo entra primeiro e sobre ela pairam incontáveis pétalas de rosas perfumadas lançadas pelos convidados da noiva; alguns minutos depois, os amigos dela irrompem no salão, carregando-a numa padiola devidamente ornamentada, onde ela e muitas flores desfilam em perfeita harmonia por entre os presentes e em direção a ele. Já lado a lado, o casal assiste ao faustoso espetáculo de música e dança preparado pela família e pelos amigos da noiva. A expectativa era elevada, pois ao que parece os ensaios perduraram por longas semanas; diga-se, valeu a pena e foi nesse momento que a cultura e a tradição paquistanesas definitivamente me arrebataram.
Hoje, a festa continua e, pela primeira vez, vou optar por um look mais clássico, totalmente ocidental – um vestido preto comprido, uns pumps pretos e uns brincos simples mas muito elegantes; sei que por parte da noiva este será o último evento, mas desconheço como se vai desenrolar. Contudo, posso avançar que esta noite ainda vai cada um para sua casa.
Ao que se vê, a família do noivo tem um papel menos ativo, mas, em contrapartida, tem-se dedicado à preparação da casa que os receberá (por tradição, a casa dos pais dele, com quem habitarão futuramente) e à derradeira festa de arromba que servirá para receber aquela que, depois de muitas cerimónias, é finalmente esposa e viverá com o marido, espero que felizes para sempre!
E quanto a mim, ao Natal e ao bolo-rei, por favor, guardem-me uma fatia!
Joana Dente
@pitangaboss
* Jurista, fashion stylist e makeup artist