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Um jornal da Beira Serra

(…) Tenho uma enorme dívida para com “A Comarca de Arganil”, um jornal que acolhe generosamente os meus escritos, de há quase três anos a esta parte, permitindo-me liberdade de expressão. E se escolhi um jornal da Guarda para manifestar a minha gratidão aos responsáveis da “Comarca” é, principalmente, devido ao espaço que me concedem para falar de nomes, terras e eventos da Beira Interior.

Nesse espaço, que nunca preciso de medir, já evoquei a aldeia de Vila Fernando, terra de meus avós. Também Pinhel foi referida, a propósito de uma obra de Josué Pinharanda Gomes e de Manuel C. M. Neves. Aliás, Pinharanda Gomes, o profundo e erudito pensador nascido em Quadrazais, foi também fruto de um ligeiro apontamento a propósito da sua vida e vastíssima obra. Estou ainda a recordar-me que fiz um comentário acerca de uma das suas obras (que ultrapassam a vintena) de Mário Simões Dias, também ele escritor cristão, nascido em 1936 no Pombal Rochoso, na beira do rio Côa. Também escrevi sobre “A Guarda” quando, em 2004, comemorou o centenário do nascimento.

Como guardense tenho, pois, razões de sobra para estar grato a um jornal que, não precisando nada de mim, tão bem me dá guarida. “A Comarca de Arganil” comemorará 105 anos de vida a 1 de Janeiro de 2006. Profundamente regionalista, o jornal dá conta de tudo o que se passa na região e tem o condão de criar laços de solidariedade e amizade entre os conterrâneos que se unem nas obras a que metem ombros, sejam elas de pequena ou grande dimensão.

Não sendo um jornal da Igreja, bem parece que é, pois número após número surgem, em diferentes tonalidades, várias mensagens cristãs. Raro na nossa imprensa é o espaço que dedica à poesia. E, por vezes, os versos são tão belamente urdidos pelos seus autores que mereceriam constar de antologias ao lado, por exemplo, de uma Florbela Espanca ou de um Fernando Pessoa.

Mais que democrático, é um jornal pluralista. Se assim não fosse, muito do que para lá escrevo seria engavetado. Termino, agradecendo a “O Interior”, que ora publica este escrito (tendo de resto, dado sempre “asilo” às minhas prosas), e à “Comarca” pelas razões já aduzidas, formulando sinceros votos para que ambos, o primeiro no cume da Beira Interior, e o segundo no alto da Beira Serra, mantenham viva a chama (quase extinta).

J.M. Marques Crespo de Carvalho, Coimbra

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