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Um ímpar conjunto monumental

Anotações

O património do distrito nem sempre merece a devida atenção por parte dos seus naturais e residentes que, em muitos casos, procuram lugares distantes na procura de outras realidades.

Aqui, por perto, encontram-se diversos monumentos de arquitetura militar que são testemunhos de épocas passadas e reencontro com a nossa história. Se por um lado o seu conhecimento representará, para os visitantes, um enriquecimento cultural e identitário, por outro fomentará a dinamização das localidades ou sítios onde estão construídos, incrementando o turismo interno, com todas as vantagens daí decorrentes.

Das várias propostas que poderemos formular, acerca do património monumental deste distrito, deixamos, a título de exemplo, a histórica fortaleza de Almeida, assim como algumas breves anotações.

A importância da fortaleza de Almeida cedo foi reconhecida; após o primeiro de Dezembro de 1640, o rei D. João IV ordenou a sua reparação, face aos momentos e às difíceis contendas que se avizinhavam.

Desde logo ficou percetível o papel preponderante que Almeida ia ter no processo bélico de manutenção da independência. A vila foi transformada em sede do quartel-general do Governador de Armas da Beira, constituindo-se na mais importante praça do reino português.

D. Álvaro de Abranches, um dos conjurados da Revolução de 1640 e membro do Conselho de Guerra de D. João IV, foi o primeiro Governador de Armas de Almeida, empenhando-se, de imediato no seu eficaz guarnecimento, rentabilizado o sistema de fortificações de que estava dotada.

Mais tarde a história de Almeida cruza-se com as célebres, quanto dramáticas, invasões francesas. Destas, a terceira incursão, conduzida por André Massena, foi a que deixou marcas mais profundas na denominada “Estrela de Pedra”.

Após a conquista de Ciudad Rodrigo (Espanha), em 10 de Junho de 1810, pelas tropas francesas o objetivo do exército invasor era o domínio da praça portuguesa, que teria cerca de 2000 habitantes e estava guarnecida com 5 000 soldados e 115 peças de artilharia. Com a aproximação das forças francesas, o comando do exército anglo-luso apelou aos habitantes para abandonarem as suas casas e levarem os seus haveres.

Nos primeiros dias de Agosto de 1810 o Marechal Massena mandou avançar o Oitavo Corpo do exército francês, sob o comando de Junot, dando início ao cerco de Almeida, a 10 de Agosto, cuja guarnição militar era chefiada pelo coronel inglês Guilherme Cox, sendo Tenente-Rei o almeidense Francisco Bernardo da Costa.

O cerco decorria há 17 dias quando, ao cair da noite, uma granada francesa provocou uma explosão em cadeia que destruiu o paiol principal, onde estavam armazenadas 75 toneladas de pólvora; centenas de mortos e enormes danos no interior da fortaleza foi o balanço imediato da tragédia. Na manhã seguinte, 27 de Agosto de 1810, Massena exigiu do comandante inglês a rendição imediata da praça, o que acabou por suceder nessa noite.

A fortaleza de Almeida, em estilo Vauban, tem uma planta em forma de estrela irregular, integrando seis baluartes: o de S. Francisco, São João de Deus, Santa Bárbara (designado também de Praça Alta), do Trem (ou de Nossa Senhora das Brotas), Santo António e São Pedro, articulados com idêntico número de revelins.

O conjunto monumental, deste baluarte beirão, encontra-se rodeada por largos e profundos fossos. Para além das majestosas Portas de Santo António e São Francisco destacam-se no complexo desta fortaleza abaluartada as casamatas, espaços subterrâneos cuja estrutura e solidez os tornava imunes às bombas da época.

No interior do perímetro amuralhado encontra-se o Quartel das Esquadras que ficou a dever-se ao Conde de Lippe (Frederico Guilherme de Schaumburg-Lippe), edifício onde estiveram instaladas forças de infantaria; a antiga Casa dos Governadores da Praça de Almeida; o edifício do Corpo da Guarda Principal (onde funciona a Câmara Municipal), a Igreja da Misericórdia, a Casa dos Vedores Gerais, a Casa da Câmara e o Antigo Convento de Nossa Senhora do Loreto (actual Igreja Matriz) são outros edifícios emblemáticos desta vila do distrito da Guarda.

Esta vila é, sem dúvida, um património ímpar da região e do país.

Por: Hélder Sequeira

Comentários dos nossos leitores
carolina carolina_256@sapo.pt
Comentário:
Bom dia Sendo a internet um mundo gobal, deveria haver o cuidado de, logo no titulo do artigo, mencionarem o distrito, a que se referem ao longo do texto. Eu depreendo que seja o distrito da Guarda, depois de observar um mapa e de observar o nome dos concelhos de cada distrito, mas esta conclusao não foi imediata, e roubou-me algum tempo. O famoso tempo…, que passa tão depressa e muitas vezes nao nos permite ler mais, ou visitar certas localidades do país. Carolina Lisboa
 

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