O secretário-geral do PCP, com quem partilho essa confusão onomástica entre primeiros nomes e apelidos, arrumou a questão presidencial dividindo-os em castas. Havia os candidatos engraçadinhos e os outros. No entanto, tal como Jerónimo pode ser nome próprio ou de família, o epíteto engraçadinho suporta essa ambivalência polissémica de ser sinónimo de palhacinho e de bonitinho.
Embora muitas vezes já tenha sido confrontado várias vezes com a dúvida do lugar no meu nome onde se encontra Jerónimo, querendo as pessoas saber se está no início ou no fim, a qualificação de engraçadinho que tantas vezes me dedicam nunca a ninguém suscitou a mais leve incerteza. Nem por uma única vez fui amavelmente questionado “Mas chamou-te engraçadinho por seres giro ou idiota?”, insinuando a resposta evidente de ser eu uma criatura que deve muito ao juízo e ainda mais ao espelho.
Espanta-me, por isso, a indignação generalizada com o comunista Sousa. Na verdade, o secretário-geral parecia estar a fazer um ato de contrição, confessando que o seu apóstolo Silva não era nem belo nem cómico, ao contrário de outros candidatos. Houve quem ouvisse nas suas palavras laivos de machismo por desconsideração com Maria de Belém ou Marisa Matias, mas nunca esquecerei enquanto a memória me resista que os únicos peitos que vi nesta campanha foram os de Henrique Neto.
E se havia candidatos engraçadinhos (e até alguns engraçadistas, vocábulo que devemos a Pacheco Pereira), o mais divertido destas eleições foram os resultados. Embora um conservador fique desconfiado a olhar para este boomerang da história bolchevique em que os trotskistas ganham aos estalinistas duas vezes consecutivas, eu ganho esperança que um dia os caixa de óculos baixotes e gorduchos tenham graça, mas não apenas daquela que faz rir.
Por: Nuno Amaral Jerónimo