Confesso que não percebo nada de agricultura. Mas espanta-me que este seja um assunto esquecido na comunicação social da região: de vez em quando, fala-se vinhos, e pouco mais. Os políticos, então, ignoram-no por completo. Nunca vi nenhum debitar um plano ou a mais vaga ideia sobra a matéria, fosse em que eleição fosse – já nem me refiro, claro, ao resto do tempo. A agricultura parece estar morta e enterrada na cabeça desta gente. Pensando bem, isto não faz sentido. Sobretudo se tivermos em conta que a desertificação do interior é, em grande parte, resultado do abandono das terras.
A entrada na União Europeia (na altura, CEE) e as opções, em consequência, dos governos de Cavaco Silva ditaram a morte de um sector já então moribundo. Cavaco, esse homem fatal, trocou vinhas e olivais por uns patacos. Hoje, os especialistas são unânimes em reconhecer que se cometeu um erro crasso, com efeitos irreversíveis e desastrosos.
Sei que não é possível produzir na região de forma rentável grande parte dos produtos agrícolas. Sei que a geração anterior à minha é a última que ainda sabe como se fazem as coisas. Muito bem. Mas eu pergunto: não é possível apostar nalguns nichos para comercialização? Não é possível criar estímulos para o cultivo das terras, ainda que só para consumo doméstico? Não há mesmo nada a fazer?
Há tempos lembro-me do líder do grupo Jerónimo Martins queixar-se que não conseguia comprar em Portugal morangos em quantidade suficiente para os seus supermercados. E a seguir o homem dizia não compreender como é que ninguém nas regiões do interior se lembrava de apostar na produção deste produto, quando havia óptimas condições maturais para o fazer.
A agricultura é, antes de mais, um sector estratégico por razões geopolíticas. Houve sempre preocupação ao longo da história por parte dos Estados em assegurar a auto-suficiência agrícola, independentemente dos critérios económicos. Portugal importa percentagens assustadoras daquilo que consome. Significa isto que a crise que estamos a atravessar pode assumir proporções devastadoras, nunca antes vistas. Antes, independentemente das volatilidades das bolsas e dos mercados financeiros, havia sempre umas batatas e um porco para comer. Hoje, são poucos os que ainda sabem produzir batatas e, por isso, se as coisas derem realmente para o torto, muita gente vai passar fome.
Mas, eu, repito, não percebo nada do assunto. Gostava era de conhecer a opinião de quem percebe. Vá lá, manifestem-se: o assunto é sério.
Por: José Carlos Alexandre