Um espaço sem ternura e sem encanto, um lugar de bafios e mofo, com algum verdete, onde se encontram memórias de todos os tipos. Como um porta luvas de um carro antigo, onde nunca há luvas, e onde se podem ver outros mil detalhes que nos recordam passados. Uma estantaria imensa de envelopes carregando histórias, de imagens de momentos sem autores. Tudo são sombras, onde se nos detivermos longamente podemos ver um rosto de avô, umas roupas de antanho, uns pormenores que nos dizem algo disperso, algo enevoado. O arquivo morto de qualquer casa ou empresa ou entidade pública é um mundo de quilómetros de memórias. Os cérebros carregam-se destes espaços também, mas vão esbatendo a recordação até ficarem sobretudo as coisas boas, os pedaços da história que nos fazem sorrir. O divórcio, o litígio, a desavença têm seu arquivo morto. Viver no arquivo morto é viver na penumbra, escolher as luzes dos candeeiros aos momentos de Sol. Mas há quem se enfie nestes tristes momentos que se convertem na infelicidade. O arquivo morto ideal deve ser digitalizado. Deve conter tudo, sem excepção, mas não deve ser aberto a qualquer um. As pessoas devem saber pegar a história com critérios de bom senso. Não podemos esquecer as histórias demoníacas do Holocausto, do Estalinismo, do tempo de PolPot. Não podemos esquecer as grandes obras da humanidade. Devemos preferir as segundas, mas manter a história sem chafurdar nela como um tipo mergulhado num lugar taciturno e lúgubre. A memória é também bom e mau, é também felicidade e tristeza. O meu arquivo morto quer-se mais de histórias alegres e dias felizes.
Por: Diogo Cabrita