«O INTERIOR é um jornal que gosta de colocar as coisas em causa». Provavelmente, o Luís Baptista-Martins não se recordará da primeira conversa que tivemos, mas aquelas suas palavras permanecem até hoje na minha cabeça e nortearam sempre as minhas ações enquanto trabalhei n’ O INTERIOR. Estávamos em junho de 2002 e eu, prestes a concluir a licenciatura em Ciências da Comunicação na UBI, decidi aceitar o desafio, pese embora na altura não tivesse percecionado de imediato o alcance daquelas palavras do diretor deste semanário.
Foi já no pleno exercício das funções de jornalista, primeiro como estagiário e depois como profissional efetivo, que senti na prática – e muitas vezes “na pele” – o real significado das palavras do Luís. Não foram raras as ocasiões em que “atores” dos mais diversos quadrantes e áreas da região me tentaram dissuadir de abordar determinada matéria “só” porque era incómoda ou delicada, utilizando expressões como “mas que interesse é que isso tem? Vocês deviam era falar disto…”. As represálias – leia-se cortes na publicidade – eram muitas vezes imediatas, como se os jornais devessem apenas, como muitos fazem, ser veículos de notícias positivas para as mais diversas instituições da região. Esse seria, porventura, o caminho mais fácil para a sobrevivência financeira de um jornal regional. Resido atualmente numa cidade com dois diários regionais e em que basta folheá-los para notar a dependência informativa e publicitária da autarquia da capital do distrito. A “contrapartida” notória é esses jornais publicarem notícias positivas e que não alimentem polémicas indesejadas para quem está na governança.
Não foi, e não é, esse o trilho que O INTERIOR decidiu seguir nos mais de 12 anos em que lá trabalhei. É com orgulho que digo que fui parte ativa de um jornal irreverente e, modéstia à parte, considero que contribuí para o seu crescimento e solidez. A maioridade está a chegar e o ADN há-de continuar a ser o mesmo para o futuro, a bem do rigor informativo.
Por: Ricardo Cordeiro
* Jornalista de O INTERIOR entre junho de 2002 e dezembro de 2014