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Última jornada

Extremo Acidental

Na semana passada fui convidado para participar num encontro de químicos – profissionais e estudantes de Química, não confundir com substâncias que alteram a consciência. Foi-me pedido apresentar uma visão alternativa desta ciência. Além da irresponsabilidade, fiz questão de referir que a única alternativa proporcionada pela Química aconteceu numa tarde de Primavera de 1989, quando tive de optar entre o teste de Química e uma palestra de Miguel Esteves Cardoso. Faltei ao teste. Nem assim causei impressão entre a companhia adolescente.

Para me enquadrar com o público, fiz alguma pesquisa online e deparei-me na web com moléculas de nomes estranhos, como Cadeverine, Fucitol ou Germylene. Espero que a Luciana Abreu não aprenda Química. Tenho a impressão que se a actriz conhecesse a tabela periódica, a próxima filha chamar-se-ia Lantânia Viiktórya.

Relembrei a existência de organismos conhecidos como retrovírus. Não me lembro de ver nenhuma imagem destes retrovírus, mas imagino-os com bigode, óculos Rayban e calças à boca de sino.

Como leitor de banda desenhada, incluindo as aventuras da Marvel, sempre desejei que conhecimentos de Química juntassem o Surfista Prateado ao Homem de Ferro para constituírem a Liga Metálica.

Lembrei ao público que a diferença entre os místicos e os cientistas é que enquanto uns estão envolvidos em práticas misteriosas e quase secretas, à procura das respostas mais obscuras da existência, os místicos, pelo contrário, são uns líricos inofensivos.

A Química é uma ciência tão complexa que até os títulos das outras conferências das jornadas usavam vocábulos de versos de Mário de Sá-Carneiro. Num poema chamado “ CnH2n+1OH” (ou “Álcool” para os totós das humanidades) o poeta modernista escreveu a seguinte estrofe:

Efeitos genotóxicos, castelos,

Resvalam bactérias em procissão;

Volteiam-me iónicos amarelos,

Os sistemas de microextracção.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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