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ULS procura novo diretor para serviço de Cirurgia

António Ferrão foi destituído de funções na semana passada, mas o seu sucessor dificilmente será encontrado no clima de “guerilha” que se vive entre os médicos. Diretor clínico pondera nomear «transitoriamente» um dos seus adjuntos para manter o serviço a funcionar.

O serviço de Cirurgia do Hospital Sousa Martins, na Guarda, não deverá funcionar no próximo 5 de junho porque não haverá médicos disponíveis para a escala. Nesse dia, nove dos onze clínicos que ali trabalham voltam a tribunal por causa de uma queixa de um colega. «Vou encerrar o bloco porque nesse dia não vou ter cirurgiões, só poderei manter a Urgência», adianta o diretor clínico da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda, Gil Barreiros.

Já não será a primeira vez que esta situação se verifica, mas desta vez acontece pouco depois da administração hospitalar ter dispensado o diretor do serviço, António Ferrão, conforme noticiou o INTERIOR na última edição. Gil Barreiros sublinha que o Conselho de Administração foi «encostado à parede» pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), que detetou a «falta de audição prévia» à nomeação do médico para direção do serviço de Cirurgia após queixa apresentada pelo cirurgião Paulo Correia. «É um argumento discutível, mas a IGAS não esteve com contemplações e deu-nos um prazo para cumprir a decisão», acrescenta o responsável. O que aconteceu no passado dia 19 de maio. Confrontado com esta “sentença”, António Ferrão já disse que não está disponível para continuar na Guarda «em qualquer outra função» e que regressará ao Hospital de São João, no Porto – de onde veio em 2013 ao abrigo do regime de mobilidade –, assim que possa.

«Deixa de ser diretor de serviço, mas está em mobilidade na Guarda até ao final do ano, pelo que esperamos que ocupe o seu lugar de cirurgião até lá», sublinha o diretor clínico da ULS, concedendo que «o ambiente da Cirurgia exigia um diretor que viesse de fora para apaziguar aquilo». O que não aconteceu e, pelo contrário, até se agravou nos últimos tempos. O serviço tem vivido num clima de “guerrilha” e de tensão constante desde que António Ferrão assumiu a direção do serviço. O motivo é o antigo diretor, Paulo Correia, que tem apresentado sucessivas queixas-crime que chegam a paralisar por completo o funcionamento do serviço cada vez que os clínicos têm que ir a tribunal.

«A ULS já tentou conciliar as partes, mas todas as tentativas resultaram em mais ameaças de processos, de um lado e do outro», lamenta Gil Barreiros, para quem está «má publicidade» não é boa para a Cirurgia do Sousa Martins. «Sabendo do que passa, um especialista pensará duas vezes antes de vir para a Guarda, mas isto tem que mudar, o serviço tem que adquirir equilíbrio com gente nova e interessada em trabalhar». A solução ainda não foi encontrada e dificilmente o será nas atuais circunstâncias. O responsável recorda que a lei da carreira médica estipula que os assistentes graduados seniores podem coordenar os serviços das suas especialidades. Ora, na Cirurgia, apenas Paulo Correia e Augusto Lourenço estão nessa fase da carreira. «Podemos nomear um deles, mas com todas as contingências daquele serviço, quem põe todos os colegas em tribunal terá muitas dificuldades em geri-lo», constata o diretor clínico.

Em alternativa, Gil Barreiros pondera nomear «transitoriamente» um dos seus adjuntos na direção clínica para manter o serviço a funcionar. «Mas não nos queremos precipitar, não temos pressa», garante, recordando que a função de diretor de serviço é um lugar da confiança da direção clínica, não é remunerada «nem tem qualquer suplemento».

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