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Turismo em espaço rural marca pontos em tempo de crise

O distrito da Guarda continua a ser um ponto de passagem obrigatório para os amantes da ruralidade. Paisagens e produtos endógenos são atrações que convergem com o turismo em várias unidades da região

A crise espelha-se em todos os sectores, mas o otimismo ainda reina no turismo em espaço rural (TER), já que a oferta variada continua a trazer portugueses e estrangeiros à região. Por vezes, a vertente rústica usa as imagens de marca do distrito da Guarda, como a agricultura e a paisagem, para chamar a si quem quer descobrir as encostas e produtos locais. Mesmo com realidades particulares e diferentes, as unidades mantêm a confiança na aposta, recorrendo a novidades ou promoções para melhorar a sua competitividade. Numa viagem pelos concelhos de Mêda, Pinhel e Trancoso, há vários motivos apresentados para optar pelo TER.

Quinta Calcaterra (Mêda)

Nas proximidades da Aldeia Histórica de Marialva (Mêda) encontra a Quinta Calcaterra. Com um convite ao repouso inerente à tranquilidade da natureza, a unidade é também o ponto de partida para uma viagem aos concelhos vizinhos, a fim de contactar com a riqueza histórica que estes proporcionam.

Inserida na modalidade de agroturismo, a quinta quer manter a sua identidade, ainda que aliada a uma redução dos preços: «Vamos baixar os preços para aumentar a nossa competitividade, enquanto a nível agrícola vamos apostar num amendoal e num olival», adianta Diamantino Moutinho, gerente da Calcaterra. «Tem estado um pouco mais fraco que o habitual, mas não se trata de uma quebra considerável», considera o responsável.

Mais do que os problemas financeiros dos portugueses, o facto de «estarmos no interior faz com que seja teoricamente mais difícil vingar neste ramo», ressalva. Todavia, Diamantino Moutinho mostra-se otimista e apresenta projetos que poderão vir a tornar-se realidade a médio prazo: «Queremos construir a ruína existente para criar um bar e ter ao lado uma piscina natural – sendo que já temos uma piscina exterior –, bem como um pavilhão multiusos para eventos», revela. As atividades promovidas no espaço são variadas, destacando-se os passeios de burro, de BTT e de jipe, assim como visitas a locais de interesse nas proximidades, que incluem provas de produtos. Mais em www.calcaterraturismo.com.

Casa do Redondo (Mêda)

A Casa do Redondo, na aldeia de Rabaçal (Mêda), divide-se entre o turismo de habitação e a organização de serviços de catering. Esta unidade de TER desafia o público a conhecer não só a história dos concelhos que a envolvem, mas também a de uma família com raízes na região.

Para Maria Cristina Inocêncio, sócia-gerente da Casa do Redondo, o balanço do primeiro trimestre do ano no alojamento é positivo: «Mantivemos a nossa ocupação em relação ao ano anterior, sobretudo devido ao aumento da procura por parte do turista estrangeiro». Porém, a responsável lamenta as dificuldades colocadas aos portugueses: «Com a queda do poder de compra e o valor absurdo das portagens houve uma queda bastante acentuada nos turistas nacionais», lamenta. Já os serviços de catering perspetivam uma «ligeira redução», relacionada com a «crise económica que o país atravessa», considera.

Cristina Inocêncio não ignora o momento atual, sendo que as perspetivas «não serão as mais risonhas». Não obstante, a responsável reitera que «compete-nos contrariar essa tendência procurando novos mercados, criando novos produtos e prestando sempre um serviço de excelência». A curto prazo o enfoque é o controlo de custos e a divulgação do espaço. «A promoção passará certamente pela associação da nossa casa a outras unidades e projetos», sublinha a sócia-gerente. A unidade colabora também com o projeto de divulgação turística desenvolvido pela associação Raia Histórica – Associação de Desenvolvimento do Nordeste da Beira. A Casa do Redondo, através da associação com a Turihab (Solares de Portugal), foi certificada pela APCER – Serviços de Certificação, Educação e Formação, Auditoria e Inspeção, Energia. Mais em www.casadoredondo.pt.

Casas do Côro (Mêda)

As Casas do Côro – Turismo de Aldeia são uma das referências da região. É em Marialva (Mêda) que estas casas se misturam com a envolvência e tranquilidade que proporciona o ambiente rural. As Casas do Côro dispõem de casas, quartos de casal (individuais e Twin) e várias suites júnior. Quem as visitar pode ainda usufruir dos recursos que, no exterior, ladeiam cada uma das casas, bem como a piscina ou o conforto da casa.

Um dos destaques é a suite eco-sustentável dos Bogalhais, um espaço único, ecológico e “portátil”, que combina a envolvência natural com a vista sobre Marialva. As Casas do Côro convidam ainda à atividade física, com BTT, caça e pesca, cruzeiros no Douro, desporto aventura, desportos náuticos, passeios todo o terreno e percursos pedonais. Até ao fecho de edição não foi possível falar com os responsáveis por estarem numa feira em São Paulo (Brasil). Mais em www.casasdocoro.pt.

Encostas do Côa (Pinhel)

A Encostas do Côa fica na Quinta Nova (Pinhel) e é apresentada como um sonho partilhado por uma família. Na procura inadiável da valorização de tudo o que está presente no ambiente rural, o espaço é um convite à descoberta do que o rodeia, desde as pessoas aos sabores. O turismo rural é a proposta que carateriza esta unidade de TER, que proporciona o contacto com a natureza, a biodiversidade e a tradicional apicultura.

«O negócio está bom e recomenda-se. Tem havido bastante procura e no verão chegámos mesmo a ter uma ocupação na ordem dos 80 por cento», adianta José Fernandes, mentor do projeto. A razão do sucesso prende-se com a combinação da paisagem com as ofertas lúdicas: «Estamos na encosta, que tem uma paisagem belíssima, e temos valências atrativas como um ginásio com SPA e canoagem», destaca o responsável.

Todavia, apesar da adesão à oferta já existente, a Encostas do Côa vai incluir em breve novas atrações, que visam dar resposta a outros públicos. É o que acontece com o parque de caravanismo, novidade a que se aliam os desportos radicais, como BTT, slide, escalada ou uma casa a seis metros de altura. José Fernandes não tem dúvidas que a unidade «vai beneficiar com isso e ter sucesso. Ainda não abrimos oficialmente mas temos tido contacto com particulares e associações que se mostraram agradados porque a oferta é muito pouca e este é um ponto de passagem para a própria Europa», salienta o responsável. Mais em www.encostasdocoa.pt.

Quinta das Pias (Pinhel)

Totalmente renovada há um ano, a Quinta das Pias – a 500 metros da cidade de Pinhel – alia o turismo rural à agricultura biológica familiar. A quinta deve o seu nome às mais de cem pias de pedras espalhadas pelo espaço, que vão desde a pia batismal à pia onde comiam os animais. Com uma área total de três hectares, na margem esquerda da Ribeira das Cabras, esta unidade de TER inclui uma piscina aberta todo o ano, um campo polidesportivo e a possibilidade de caminhar de bicicleta entre animais e árvores.

Também um museu/lagar de azeite pede uma visita, sem esquecer as árvores centenárias e animais diversos. Carlos Miguel, gerente da Quintas das Pias/Risoturismo, mostra-se otimista face à próxima época: «Só fizemos um ano em fevereiro mas à partida esperamos que a procura aumente», afirma, acrescentado que «não estamos nos tempos melhores mas vai andando». O responsável evidencia as valências ao dispor na Quinta das Pias como o court de ténis a agricultura biológica, imagem de marca da unidade. Mais em www.quintadaspias.com.

Solar dos Almeidas (Trancoso)

O Solar dos Almeidas, no Terrenho (Trancoso), constitui uma oferta no turismo de habitação há cerca de quatro anos. O solar remete-nos para o século XVII, gravado no património arquitetónico medieval, num cruzamento entre a riqueza histórica e natural. Contudo, apesar da contínua aposta no TER, a unidade já vivenciou melhores dias. «O negócio está péssimo. Há condicionantes legais, que têm a ver com obrigações, e também custos extra para o utilizador nos acessos», salienta Amílcar César, proprietário e gerente do Solar dos Almeidas.

«A frequência é muito baixa, o turismo está morto. Sempre disse que a IP2 nos ia levar de vez lá para fora», lamenta. Nem os estrangeiros mantêm a adesão de outros tempos: «Vinham e agora já não, se calhar há uma questão mais profunda que é a falta de dinamismo da zona, que não chama», considera Amílcar César. Todavia, o mercado nacional pode contrariar esta tendência de descida: «Tenho esperança que a falta de poder de compra leve a que o turismo seja feito mais dentro do país», reitera.

O proprietário mostra-se descontente com as exigências resultantes da separação entre o turismo de habitação e o turismo rural como, por exemplo, ter de servir refeições por não haver nenhum restaurante a menos de cinco quilómetros. «Os condicionantes afetam os alojamentos de forma geral», realça. Porém, a associação à Raia Histórica procura «trazer gente dos meios urbanos», e assim dar nova vida ao Solar dos Almeidas. Mais em www.solardosalmeidas.net.

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