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Turismo Científico

Mitocôndrias e Quasares

No Boletim Municipal “Guarda Viva”, nº10, surge um texto onde se refere a criação futuro de um centro de investigação e monitorização da Saúde e Ambiente. Esta unidade de investigação é apresentada como um dos vetores de desenvolvimento da cidade, e numa perspetiva mais alargada da região, quer a nível científico/tecnológico quer a nível turístico.

Esta ideia de criação de um centro de investigação como motor do desenvolvimento turístico, faz-me recordar uma ideia que venho defendendo ao longo destes últimos anos – Criação de um Centro de Ciência na Guarda!

O conhecimento científico e tecnológico é, hoje, consensualmente, apontado como um dos principais pilares das dinâmicas de desenvolvimento económico, social e cultural das sociedades contemporâneas. Neste sentido, a influência social da ciência propagou-se às diferentes formas de pensar, disposições cognitivas e orientações da ação da vida quotidiana das sociedades de tal modo que, nas últimas duas décadas, assistiu-se ao incremento de debates acerca de temas científicos e tecnológicos na sociedade. O cidadão necessita de participar ativamente na discussão destes temas, precisa de entender as grandes questões que se põem à ciência na época contemporânea sendo, deste modo, importante alargar à população em geral, ou pelo menos a segmentos tão vastos quanto possível, a apreensão de aspetos fundamentais inerentes à ciência. A importância de promover a participação do cidadão na ciência apresenta duas dimensões: a primeira associada ao papel da ciência, enquanto dispositivo cognitivo, retórico e comunitário de produção de estratégias de sobrevivência na relação homem/natureza; a segunda, como mecanismo dos governos para legitimar decisões políticas, relacionadas com a ciência e a tecnologia, através da responsabilização dos cidadãos nas definições das estratégias a desenvolver. Esta é a tese do relatório da The Royal Society of London que defende que, uma melhor compreensão da ciência pelo público pode constituir um elemento determinante para a promoção da prosperidade nacional, elevação da qualidade da decisão pública e privada e enriquecimento da vida do indivíduo. (The Royal Society of London, 1985). É neste contexto que, nas últimas duas décadas, se tem reconhecido a importância de aumentar a proporção de cidadãos cientificamente literados para participarem no debate público sobre ciência e tecnologia, surgindo deste modo o conceito de Literacia Científica. A Literacia Científica tem sido marcada pela volatilidade desde que surgiu no final da década 50 do século passado, sendo alvo de interpretações e reinterpretações. Inicialmente caracterizada de forma empírica como um objeto pessoal que permite compreender: a inter-relação entre a ciência e a sociedade; a dimensão ética dos cientistas no desenvolvimento do seu trabalho; a natureza da ciência; os conceitos básicos de ciência; diferença entre ciência e tecnologia e a inter-relação entre a Ciência e Humanidade. O conceito de literacia científica pode ser encarado de uma forma empírica como a capacidade do indivíduo conseguir ler e escrever sobre ciência e tecnologia. Esta visão empírica foi sendo substituída por uma visão mais próxima da que defende que a literacia científica está relacionada com o que o público deve saber sobre ciência o que, usualmente, implica a compreensão da natureza, objetivos e limitações da ciência associada à compreensão das mais importantes ideias científicas. Deste modo e como defende Thomas e Kindo a comunicação de ciência vai “ajudar a criar pontes entre o saber do senso comum das diferentes culturas, e o novo conhecimento científico internacionalizado”

Esta minha argumentação mostra a importância da promoção da ciência, pelo que tal como defendi na blogosfera é possível criar um polo de divulgação de ciência de modo a aumentar a dinâmica cultural de ciência na cidade e na região. Esta iniciativa seria pioneira na região portuguesa e espanhola, senão vejamos: os centros de ciência viva mais próximas da Guarda, em Portugal, são Coimbra, Aveiro, Proença-a-Nova e em Vila Real a abrir proximamente. Em Espanha, o mais próximo que existe é em Valladolid. Neste sentido, um centro de ciência poderia servir a Guarda, Covilhã e Viseu, e mesmo a região espanhola próxima da fronteira, com a qual estamos cada vez mais ligados por projetos transfronteiriços.

Deste forma, a questão principal centra-se na capacidade de mobilização para uma aventura destas. Em tempos de crise, é fundamental ter a capacidade de inovar e arriscar, de definir novas fronteiras para o desenvolvimento da cidade e da região. Crie-se uma troika e construa-se o centro!!

Por: António Costa

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