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Tunning ou “chunning”?

Quando construtores, como a Porsche, criam automóveis que possuem linhas de uma beleza intemporal, estão longe de imaginar que vai haver alguém que, após comprar um dos seus veículos, não está ainda completamente satisfeito e se prepara para adicionar mais uns adereços à sua máquina, ou seja, fazer um Tunning (traduzido à letra, significa, afinar, sintonizar) à portuguesa.

Imaginemos então um destes indivíduos num fantástico Porsche Carrera 4, acabado de comprar, exercício sublime de um estilo que vem sendo apurado desde há 40 anos.

Para começar, e porque o excelente ar condicionado que acompanha a sua máquina, na sua perspectiva, não chega, coloca no óculo traseiro duas cortinas tapa-sol verde-garrafa com duas cabeças de leão, porque o tipo é adepto do Sporting e toda a gente tem que ficar a saber, e uma ventoinha de ligar ao isqueiro; de seguida cola um cão de plástico, daqueles que abanam a cabeça com os movimentos do carro, na chapeleira; pendura um rabo de raposa no espelho retrovisor e cola uma imagem de Nª Srª de Fátima e as fotografias da família, no tablier, numa moldura que diz “Paizinho, pensa em nós”. No exterior da viatura e na traseira aproveita para colar alguns adereços com inscrições do tipo, rabbit injection, turbo, 16 soupapes, “20buscar” e outras. Ao lado de cada um dos fantásticos escapes de origem, coloca três borrachas anti-estática com uns enormes triângulos vermelhos, que orgulhosamente passa a arrastar pelo asfalto; em cada porta cola três borrachas reflectoras-protectoras, de côr verde, para combinar com a cor do carro, vermelha; aplica quatro enormes palas nas cavas das rodas, para não sujar as embaladeiras, claro e, na frente, coloca quatro novos e enormes faróis de nevoeiro e um par de faróis de berma, que vai trazer ligados sempre que possa, o que totaliza, com os faróis de origem, mais de 1000 watts de potência de luz. Por falar em potência, na sua irrepreensível aparelhagem Alpine topo de gama vai ouvir apenas musica dos seus autores “clássicos” preferidos, leia-se Tony Carreira, Emanuel, Ágata, Duo Ele e Ela e outras aberrações do mesmo género. Para terminar, e porque, a última coisa a colocar-se numa árvore de Natal é a estrela, resolve colocar uma antena de CB bem no meio do tejadilho e três antenas de telemóvel, tantas quantas as empresas que operam no mercado.

Conseguem imaginar um filme assim? Não é difícil pois não? Apesar de ser uma caricatura, está bem próxima da realidade. Estes autodidatas da estética automóvel nunca deveriam de deixar de andar a pé, pois, as reacções que provocam nos outros, quando se pavoneiam com as suas obras-primas, vão do riso à histeria, podendo em casos mais graves, levar ao vómito e à cefaleia.

A maior parte dos tunning que por aí circulam não passam, na realidade, de “chunning”, termo que resulta da conjunção do termo em inglês, tunning, com o calão, “chunga”, que significa, rançoso, reles. O mês de Agosto traz uma “mais-valia” a este universo, com a invasão das “avec-voitures”, “gitano-transformadas” na França, Suiça, Luxemburgo ou Alemanha, muitas delas de gosto bem duvidoso.

Gostos não se deveriam discutir, mas a verdade é que, qualquer tentativa lusa ou luso-descendente de transformar e personalizar viaturas, fica a galáxias de distância do bom gosto evidenciado por magos da transformação automóvel como os que podemos ver no Rides ou Overhaulin’, no Discovery Channel.

Força, IPO’s, na vossa mega-missão que consiste em obrigar tunnings e chunnings a serem “super-de origem”. Os nossos olhos e estômagos agradecem.

Por: José Carlos Lopes

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