A probabilidade de incumprimento subiu para 29,42% e os juros das obrigações do Tesouro no mercado secundário a dez anos dispararam para 6,62%. Bolsas europeias no vermelho depois das eleições em Itália.
Depois do impasse político gerado em Itália com os resultados das eleições legislativas antecipadas, os investidores no mercado da dívida voltaram à psicologia de temer pela zona euro e reiniciaram uma trajetória de exigir um prémio maior em relação às dívidas de alguns “periféricos”.
Depois de ontem terem fechado em 6,17%, as yields das obrigações do Tesouro (OT) português a dez anos no mercado secundário dispararam hoje de manhã para 6,62%, segundo dados da Bloomberg, alcançando o máximo deste ano, ocorrido a 11 de fevereiro, no dia da reunião do Eurogrupo. Todos os prazos abriram em alta.
A probabilidade de incumprimento da dívida portuguesa que, ontem, havia descido para 28,37%, já abaixo do mínimo anual atingido no dia de “regresso aos mercados” (23 de janeiro), subiu, agora, para 29,42%, segundo dados da CMA DataVision. Mais de um ponto percentual de subida.
A trajetória de subida do risco de incumprimento abrange, também, Itália (afetada pelo tsunami político), Espanha e Irlanda. O risco da dívida italiana subiu de 19,6% no fecho de ontem para 22,58% na abertura de hoje. Escapam, por ora, à alta do risco, a Grécia e Chipre. Esta última, graças à vitória da Aliança Democrática na segunda volta das presidênciais no domingo, deverá ver o processo de resgate acelerado. O risco de bancarrota de Chipre desceu para 41,16%. Ontem havia fechado em 43,59%. É o nível mais baixo desde que a ilha entrou no “clube da bancarrota” em março do ano passado.
No mercado secundário, observa-se, também, a subida das yields das obrigações italianas e espanholas. Em contraste, as yields das obrigações francesas e alemãs estão em descida refletindo a tendência dos investidores para as considerar refúgios seguros, e em particular no caso dos Bunds alemães. As yields dos Bunds no prazo a dez anos desceram hoje para 1,49%.
Os resultados eleitorais em Itália apontam para uma maioria de bloqueio no Senado que pode impedir a estabilidade de um governo com maioria absoluta na Câmara de Deputados formado pela coligação vencedora liderada por Bersani e pelo Partido Democrático. As eleições revelaram a emergência do Movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo (o partido mais votado para a Câmara de Deputados), a derrota do primeiro-ministro Mário Monti, o “tecnocrata” apoiado pela troika, e o renascimento de Sílvio Berlusconi. Os analistas apontam para a probabilidade de convocação de novas eleições, havendo a possibilidade de ser, apenas, dissolvida uma das câmaras do Parlamento.
O Departamento do Tesouro italiano leva hoje a cabo um leilão de bilhetes do Tesouro a seis meses onde tem o objetivo de emitir 8,75 mil milhões de euros.
Depois da Ásia, bolsas europeias no vermelho
As bolsas europeias abriram no vermelho, com destaque para o mini-crash na bolsa italiana com o índice MIB a cair mais de 4%. O PSI 20, índice da bolsa de Lisboa, descia 1,86%. Depois de Itália, as bolsas com maiores quedas na Europa, são a espanhola (índice IBEX 35 a cair mais de 2,8%) e a francesa (índice CAC 40 a cair mais de 2%).
Wall Street foi, ontem, a primeira a fechar no vermelho e já hoje entraram no vermelho as bolsas asiáticas, com destaque para a japonesa, cujo índice Nikkei 225 cai mais de 2%.