Se é verdade que Natal é sempre que um homem quiser, a época do verdadeiro Natal é esta onde a boa vontade e o espírito natalício trazem ao de cima inúmeros sentimentos e valores como o respeito, a tolerância, o amor ao próximo, o saber dar sem olhar a quem, e sem qualquer rigor científico, o presépio, o Pai Natal, os presentes, os enfeites, as luzes de néon, tudo isso nos motiva e (quase) nos obriga a sã convivência cristã, a dar tréguas, a perdoar aos nossos inimigos, mesmo que a mania de andar atrás da tristeza se baseie no princípio insensato de gostar por não gostar, esquecendo, por momentos, todas as agruras da vida, os adversários, os inimigos e os ódios. Até os de estimação.
Este sentimento dá lugar à dispersão de todos os afetos e quando lhes mexemos vem ao de cima aquele misto de felicidade e alegria nessa sensação de amor/ódio, perguntando a nós mesmos se isso será saudável ou doentio?
Todas as sensações no Natal são tão ricas que não conseguimos passar cartão aos avisos do tal código genético, dispensando o melhor conselho de Unamuno «o ódio requer realidades presentes».
E depois damos conta que até Marcelo já gosta de Passos, que no futebol, afinal, somos todos amigos. Que politicamente desejamos boas festas aos adversários. Que nas associações culturais, desportivas, recreativas e humanitárias vota-se como de grandes amigos se tratasse e até o Pinóquio, aconselhado por Gepeto, deixa de mentir.
Aliás, a Minnie do alto do pedestal abraça o Zé Grandão e o rato Mickey e até o próprio coronel Cintra, nesta altura, deixa de dar ordens ao Mancha Negra, ao pato Donald e ao Pluto. E já agora o Picachu faz as pazes com o gigante Pé de Feijão, o Bafo de Onça dialoga com o Grilo Falante, o El Caganer já gosta do Galo de Barcelos, o boneco da Madeira apaixona-se pela Barbie e até o Ken atura a abelha Maia. O espírito natalício é este mesmo e nem a epopeia de Dickens ou os espíritos fantasmas de Scrooge o poderão por em causa.
Nesta crónica anunciada do Natal deveríamos todos, sem exceção, reclamar, talvez pedir, tal qual faz o Calimero, tudo aquilo que durante o ano não fomos capaz de dizer, de soltar cá para fora tudo o que nos vai na alma, pois se o não fizermos ficamos iguais àquele escritor que não ladra e pela mesma razão também não morde, ou o outro que liricamente só sabe ladrar à lua e, enquanto isto, vamos dando conta daquele malandreco do filósofo que, aplicando com toda a calma argumentação e calculismo, taticamente sabe mamar a cabra e assim abocanhar o melhor osso.
Para si, caro leitor, votos sinceros de continuação de felizes festas.
Por: Albino Bárbara