A modernização do último troço da Linha da Beira Baixa, de 46 quilómetros entre a Covilhã e a Guarda, vai finalmente deixar de ser uma miragem e as obras devem arrancar ainda esta semana.
Depois de um primeiro anúncio em julho de 2017, na Covilhã, a modernização do troço entre as duas cidades motivou duas cerimónias públicas, ambas na Guarda, uma em dezembro de 2016 e outra em novembro de 2017, mas só à terceira foi de vez. Na passada segunda-feira, decorreu na estação ferroviária da Covilhã o ato de consignação da empreitada e lançamento dos trabalhos, que incluem a construção da Concordância das Beiras, de ligação entre a Linha da Beira Alta e a Linha da Beira Baixa.
Como a Comissária Europeia dos Transportes e Mobilidade, Violeta Bluc, presente na cerimónia, lembrou «o relógio está já em contagem decrescente». O prazo para concluir a obra é de 18 meses e, se nada falhar, a modernização da linha será inaugurada ainda antes do fim de 2019. Integrado no plano “Ferrovia 2020, o investimento é de 77 milhões de euros, 52 milhões dos quais respeitantes à obra física, e permitirá reabrir um troço que estava fechado desde 2009. Segundo António Laranjo, presidente da Infraestruturas de Portugal (IP), esta intervenção contempla a eletrificação de 56 quilómetros de via e a modernização de 46 quilómetros, uma vez que os restantes dez já tinham sido intervencionados em 2009. Será feita ainda a automatização de 18 passagens de nível e suprimida uma no concelho da Guarda, vão ser reabilitadas seis pontes ferroviárias, cujos pilares se mantêm, sendo apenas colocados novos tabuleiros. Haverá também obras em quatro apeadeiros e na estação de Belmonte para que possam circular comboios de mercadorias com 750 metros de comprimento.
«Este investimento permite finalmente que a ligação entre a Covilhã e a Guarda volte a funcionar e em condições muito melhores do que as que existiam no passado» sublinhou o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, que também esteve na Covilhã. Pedro Marques disse acreditar que no final dos trabalhos o interior do país sairá beneficiado, pois a obra vem «fomentar a coesão territorial e aproxima esta região», mas não só. A ligação das linhas da Beira Baixa e da Beira Alta na Guarda aproxima também as Beiras de Espanha, «algo muito importante para a competitividade das empresas desta região do interior, nas suas exportações para o país vizinho e para a Europa», afirmou o governante.
Já Violeta Bluc reconheceu a importância da ferrovia na região e lembrou os governantes portugueses que esta aposta vai ao encontro das ambições nos corredores europeus e por isso pediu que «não desperdicem esta oportunidade», financiada em 80 por cento pelos fundos comunitários. Para Vítor Pereira, autarca da Covilhã, trata-se de uma obra «há muitos anos esperada, não apenas nestes nove anos em que esteve parada». O edil admitiu que a empreitada traz «alguma esperança» e é «um importante sinal para o interior português».
Linha da Beira Alta terá de esperar
A modernização da Linha da Beira Alta e os incidentes que aconteceram nos últimos dias, que obrigaram o corte temporário da circulação de comboios, estão também entre as preocupação do Governo. Mas, segundo o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, a intervenção não será para já.
«Temos de ter estas obras da Linha da Beira Baixa muito avançadas ou mesmo concluídas para que possamos ter mais comboios a circular por aqui e para que possamos ter mais períodos de obras na Beira Alta», justificou Pedro Marques. O governante acrescentou, no entanto, que havia trabalhos a decorrer naquele troço, já identificado devido ao perigo de deslizamento de terras, e sublinhou que «estamos a trabalhar na linha da Beira Alta e vamos poder trabalhar mais para que os comboios possam passar». Além da eliminação das passagens de nível, a empreitada prevê a construção de uma nova concordância entre a Linha do Norte e a Linha da Beira Alta, na Pampilhosa, para evitar que as composições com destino a Vilar Formoso tenham que fazer um desvio de alguns quilómetros para sul, como agora acontece.
Reações:
PS da Guarda diz que obra tem a «marca» do atual Governo
A concelhia do PS da Guarda considera que as obras de modernização do troço Guarda-Covilhã da Linha da Beira Baixa têm «o timbre do Governo do PS».
Em comunicado, Agostinho Gonçalves sublinha que «na luta contra a interioridade e o isolamento este é o verdadeiro Movimento que o interior exige: o Movimento de pessoas e bens, potenciado por uma maior mobilidade com a criação de itinerários alternativos, a redução do tempo de percurso, o aumento dos níveis de conforto e das condições de segurança». Para o líder da concelhia, a obra tem «a marca do Governo do PS no desenvolvimento do interior e na defesa de uma maior coesão territorial». Os socialistas destacam algumas das intervenções previstas, como a concordância das Beiras «através da criação de uma nova ligação entre as linhas da Beira Baixa e da Beira Alta» e a construção de uma nova ponte sobre o rio Diz.
PSD considera que a Guarda «já merecia este bom avanço»
O PSD da Guarda considera o arranque das obras de modernização do último troço da Linha da Beira Baixa é «um passo relevante», mas recorda que «não era a primeira vez que o que está para ser deixa de o ser».
Em comunicado, o líder da Distrital, Carlos Peixoto, admite que «não há razões para duvidar que, desta vez, será mesmo de vez», sublinhando que o distrito da Guarda e a região «já mereciam este bom avanço, que deve deixar todos satisfeitos». Contudo, o dirigente social-democrata recorda que «há apenas quinze dias uma análise publicada na imprensa tenha dado conta de que o “Ferrovia 2020” só tem 15 por cento das obras prometidas no terreno». E acrescenta que falta agora o Governo «transformar a Guarda num dos mais estratégicos eixos ferroviários do país, fazendo emergir no seu seio uma plataforma de duas modernas e competitivas linhas ferroviárias, a da Beira Baixa e a da Beira Alta».
Ana Eugénia Inácio
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