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Trabalhadores revistaram carros de administradores da Vodrages

Responsáveis de têxtil de Vodra, sem laboração desde 13 de Janeiro, estiveram retidos na fábrica durante mais de onze horas

A revolta saiu à rua domingo à noite em Vodra (Seia) e reteve durante mais de onze horas os administradores da Vodrages no interior daquela fábrica têxtil, parada desde 13 de Janeiro. O protesto e a vigilância só terminaram ao final da noite após a revista de três veículos ligeiros pelos trabalhadores, que suspeitaram que algum material pudesse estar a ser retirado da empresa. Um forte aparato da GNR esteve no local para garantir a segurança das sete pessoas, mas não se registaram incidentes.

Tudo aconteceu ao princípio da tarde, quando alguns trabalhadores se aperceberam da presença dos responsáveis na residência da administração naquela unidade industrial. O receio de que tentassem levar material ou matéria-prima espalhou-se rapidamente pela freguesia, levando algumas dezenas de operários a concentrarem-se frente à entrada principal da empresa e a impedir a saída das pessoas. Por outro lado, os funcionários quiseram aproveitar a oportunidade para reclamar o pagamento do salário de Dezembro e 50 por cento do subsídio de Natal, ainda em dívida. Carlos João, presidente do Sindicato Têxtil da Beira Alta (STBA), explicou que aquela manifestação «espontânea» dos populares ficou também a dever-se à estranheza do regresso, num domingo, dos responsáveis da Vodrages, quando «fugiram e abandonaram a empresa a 5 de Janeiro, sem qualquer explicação, tendo a laboração parado a 13 de Janeiro». O sindicalista acusou ainda a administração de «gestão duvidosa, pouco séria e nada cuidada, prejudicial aos trabalhadores e à economia regional». Carlos João disse mesmo que a situação foi sentida como uma «afronta» aos trabalhadores, que chegaram a ameaçar não deixar sair os administradores «sem pagarem ou darem uma efectiva garantia de pagamento dos ordenados em atraso».

Contudo, já perto da 23h30, ambas as partes chegaram a um entendimento. «A saída só foi possível após a revista dos três veículos que os administradores levaram até à empresa para garantir que não estavam a retirar qualquer material», explicou o dirigente do STBA. Uma tarefa executada por um trabalhador, nomeado pelos restantes trabalhadores presentes para revistar os carros. A Vodrages sucedeu à Vodratex em Março de 2000, no âmbito do plano de recuperação de empresas têxteis da corda da serra. Estes acontecimentos verificaram-se poucos dias depois da Câmara de Seia ter reclamado um programa específico por parte do Governo para reabilitar o sector e relançar a actividade económica no concelho. Eduardo Brito, autarca local, exige uma intervenção «determinada e resultados visíveis» do Estado na região, recordando que o PRASD continua sem consequências. Os candidatos a deputados pelo círculo da Guarda vão ser os primeiros confrontados com esta pretensão. De resto, o presidente diz-se indignado com a «insensibilidade» do Governo face aos problemas registados em empresas têxteis do concelho, já que nalguns casos o Estado detém, através do IAPMEI, parte substancial do capital.

No início do ano encerraram a Alvalã (Vila Cova à Coelheira) e a Jamobril (Loriga), deixando 70 desempregados, estando a Vodrages, com 80 trabalhadores, «à beira de fechar as portas em definitivo e sem sinal da administração», avisou. Situação que o presidente considerou «vergonhosa» e para a qual o município alertou «há muito» o Governo, que detém 31 por cento do capital da empresa. De resto, Eduardo Brito tem mantido algumas conversações com o IAPMEI e espera que venham a ser tomadas algumas iniciativas neste domínio. Por outro lado, a Câmara de Seia está a diligenciar junto da Segurança Social para que os trabalhadores possam começar a receber o subsídio de desemprego «o mais rapidamente possível», bem como outras acções junto do Instituto de Emprego para que sejam criadas alternativas. Entretanto, a autarquia deliberou para já a isenção do pagamento de taxas e tarifas municipais e transportes escolares aos operários destas empresas, disponibilizando ainda apoios financeiros para aquisição de material escolar. O Gabinete de Acção Social está já a analisar cada caso.

Luis Martins

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