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Todas solteiras e boas raparigas

Na Urgueira, uma anexa do Jarmelo, quase toda a população é solteira, uns por opção, outros por devoção

E os exemplos não ficam por aqui. «São mais mulheres solteiras do que homens», constata. Hoje já são menos, alguns morreram, outros partiram para outras localidades, seguiram a vida religiosa ou foram para os lares. Pelas suas contas, e se não lhe falha a memória, «ainda há cerca de dez solteiros na Urgueira», ou seja, quase toda a população da aldeia. «Sim, porque depois só há mais dois casais com os filhos que vieram de fora», revela a moradora. Maria da Purificação, com 93 anos, olhos azuis claros, curvada e amargurada pelo tempo, também é solteira. No entanto, prefere não falar do assunto, remetendo-se ao silêncio, mas antes ainda se descai: «Então, não me casei porque os homens são ruins!», atira. Numa das maiores propriedades da aldeia vivem três irmãos, todos solteiros. «Não se sabe o porquê, não encontro nenhuma explicação», afiança Avelino Moreira, de 79 anos, em cima do tractor, enquanto se esquivava a mais questões, porque a lavoura não pode esperar. Entretanto, Maria Moreira, 70 anos, vai tentando encontrar justificações para o seu caso: «Aconteceu… Foi uma opção», conclui, garantido, no entanto, que «não foi por falta de namoricos». E recorda que antigamente era diferente e «não havia a liberdade que têm hoje os jovens», diz, enquanto a outra irmã, Filomena Moreira, entra na conversa. Sempre viveram juntas, na mesma casa em que nasceram. «As pessoas são livres e a vida proporcionou que assim fosse», contrapõe esta, para quem a educação austera dos pais talvez tenha sido o principal factor, e por isso, «se aparecia algum jovem casadoiro era logo ripado», diz por brincadeira.

Patrícia Correia

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