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«Todas as intervenções no Centro Histórico da Covilhã serão regulamentadas»

Cara a Cara – Entrevista

P-O Gabinete Técnico Local constituído para a zona histórica da Covilhã já terminou. Que balanço faz dos dois anos de trabalho?

R-O trabalho terminou em Agosto do ano passado, mas este ano reconstituímos o Plano de Pormenor, porque foram sugeridas algumas alterações à legislação. Neste momento, estamos a acompanhar a aprovação do plano pelas entidades competentes. De resto, o primeiro ano de trabalho foi mais vocacionado para a fase de investigação, diagnóstico e levantamento e, no segundo ano, desenvolvemos a proposta do plano de pormenor. Aqui, criou-se um regulamento que vai especificar todos os pontos de intervenção e onde estão definidas as geometrias, os materiais, as cores e as caixilharias a utilizar nas casas, enfim, tudo que se pode fazer para que as intervenções futuras nesta área não a descaracterizem ainda mais daquilo que está.

P-Esse foi o principal problema diagnosticado?

R-A descaracterização do centro histórico é um dos principais problemas. Trata-se de uma zona muito antiga, onde as pessoas usaram os materiais que queriam para resolverem os problemas das casas. A partir do momento em que o plano que desenvolvemos entre em vigor, tudo isso será regulamentado. Há edifícios que, pelo valor e simbolismo que têm para a cidade, terão que seguir os parâmetros que nós estabelecemos. Mas além dos estudos aos edifícios, fizemos também um estudo sócio-económico dos habitantes daquela zona que nos serviu de base para a proposta. Com estes estudos, conseguimos definir as prioridades em termos de edifícios a recuperar e as pessoas com mais carências. Provavelmente as pessoas gostariam de ter visto um trabalho mais imediato na rua, mas este trabalho é moroso e tem que passar primeiro por todos estes estudos. É que, acima de tudo, isto é um trabalho para o futuro. Importa realçar ainda que com este trabalho que desenvolvemos, foi possível criar regras de estacionamento no centro histórico. Pode não agradar a todos, mas conseguimos regrar o trânsito, pois havia sítios que eram caóticos. As pessoas aproveitavam todos os becos para meter o carro e isso às vezes complicava a circulação dos carros de bombeiros e ambulâncias.

P-Este diagnóstico será útil para o trabalho a ser desenvolvido pela empresa de recuperação de imóveis degradados?

R-Sim. Mas temos que ter em atenção que muitos dos 400 edifícios existentes na zona intra-muralhas pertencem a privados e a Câmara aí não pode intervir. Por agora, a Câmara fez os arruamentos e as repavimentações de toda aquela área. E esse é o primeiro passo a dar numa situação destas. Os edifícios que são camarários estão agora em projecto e alguns em concurso para se avançar com obras, alguns deles no âmbito da nova empresa municipal. Quanto aos edifícios privados, é sempre complicado intervir, pois muitos dos arrendatários são idosos e com rendas muito baixas. Daí que os senhorios não queiram fazer intervenções pois não têm o retorno do investimento. Mas com estas sociedades de reabilitações urbanas, a lei já obriga os proprietários a recuperarem as casas devolutas e, em caso de recusa, a que as autarquias possam tomar medidas.

P-Estão a preparar agora o GTL para a zona da judiaria. Quanto tempo durará o estudo?

R-É também para dois anos. O projecto já está aprovado e vai ser constituída uma nova equipa, da qual fará parte também um arqueólogo, pois trata-se de uma zona histórica que necessita de muita investigação. Ainda hoje há muito comércio naquelas ruas e acho que esse tem que ser um dos pontos fundamentais para localizar a zona da judiaria. É certo que há imóveis com menos nobreza do que o centro histórico, mas há edifícios com características muito interessantes, como as janelas manuelinas e portas com marcas judias.

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