Arquivo

“Terrorislão”

Os meus amigos conhecem a minha opinião acerca do papel histórico da religião na Europa e no mundo desde há séculos. Esse papel sempre foi o do derramamento de sangue dos desalinhados ou infiéis, contrários à respetiva crendice num alá, maomé, deus, jesus, buda ou moisés (todas as minúsculas são propositadas). Se recuarmos alguns séculos podemos verificar que tivemos, na Europa, o vergonhoso papel do Vaticano numa infame “idade das trevas” onde, pelo fogo, foram silenciados milhares de “infiéis”, muitos dos quais, mentes brilhantes. Foi o domínio global do cristianismo e a estagnação do pensamento e da tecnologia no mundo, dito, civilizado. Em pleno século XX assistimos na Europa e médio oriente a inúmeros conflitos de base religiosa: muçulmanos vs judeus, muçulmanos vs cristãos e cristãos vs judeus, conflitos que ainda duram e outros que acabaram após autênticos genocídios.

É um facto histórico que judaísmo, cristianismo e islamismo são três ramos dissidentes de uma só religião que terá surgido no médio oriente. Começaram como seitas e foram crescendo, arrastando o povo trabalhador dos campos para os seus templos e obrigando-os a rituais mais ou menos estúpidos e improdutivos, os quais continuam até aos dias de hoje. Todo o indivíduo de pensamento livre e/ou contracorrente era, imediatamente, rotulado de impuro ou infiel sofrendo duras contrariedades no seu quotidiano, sendo obrigado a manter-se no rebanho, a fugir ou a pagar com a própria vida essa ousadia. Como em todas as religiões há quem não leve à letra livros muito antigos, ditos, sagrados e consiga viver em paz com a diferença religiosa do seu semelhante, mas também há quem, em nome da sua religião, aproveite para perpetrar as maiores barbaridades contra o seu semelhante, justificando, desta forma, os seus atos de terror.

O século XXI é a vez do islamismo radical se substituir ao cristianismo criminoso na Europa e no mundo. Referi que houve um pecado original em toda esta situação: O papel dos EUA e aliados com a respetiva intervenção desastrosa no Iraque, Síria, Líbia e Afeganistão. A ganância das corporações americanas e inglesas, bem como francesas e alemãs, geraram hordas de descontentes que se prontificaram a engrossar as fileiras do embrionário Estado Islâmico do Iraque e Síria – ISIS, para os inimigos. Pensando, erradamente, que os conflitos ficariam confinados aos estados ocupados e destruídos, a Europa e os EUA ficaram parados enquanto milhões de refugiados invadiram as fronteiras externas europeias (muitos deles indocumentados), alguns dos quais proto-bombas-relógio prontos para entrar em ação à distância de uma mensagem de email. O recrutamento, pela internet, de cidadãos europeus para a causa é também um facto preocupante, bem como o papel doutrinador, de alguns clérigos radicais em mesquitas por essa Europa fora. Tudo tem serviu para por em prática a máxima do “olho por olho, dente por dente”.

Esta guerra surreal que se está a iniciar entre portas não vai terminar, nem sequer é possível que isso aconteça. Esta vai escalar e acabar com a paz e as liberdades individuais, em nome da segurança, e virar cristãos, judeus e outros, contra tudo e todos os que simbolizarem o terror na Europa. Certamente os danos colaterais vão ser enormes por cá, como o foram por lá. O desgoverno europeu, a inércia e a falta de um plano de ataque concertado e vigoroso aos problemas emergentes – imigração em massa (a partir de países desmembrados e instabilizados pelos “bondosos” EUA e suas sanguinárias corporações industriais) e terrorismo intraportas – são o caldo onde o islamismo ultrarradical, ultraortodoxo, cego e anacrónico continuará a florescer, deixando o cidadão comum com uma sensação de impotência total e medo, muito medo. Ao fim e ao cabo o objetivo supremo do ISIS – controlar pelo medo. Exige-se uma resposta unificada e ultramusculada. Haverá sangue, muito sangue, dos dois lados da barricada religiosa. A Europa não voltará a ser o que era.

Por: José Carlos Lopes

Sobre o autor

Leave a Reply