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« Se alguns jogadores provarem que têm mais valor e a sorte surgir, o Sp. Sabugal tem condições para garantir a manutenção»

Cara a Cara – Rui Nascimento

P- O que correu mal esta época no Sporting Clube do Sabugal?

R- Os resultados finais. A qualidade de jogo estava lá, treinadores competentes e ambiciosos também, com um presidente dinâmico e sempre presente, atletas de qualidade existiam, a organização estava a readaptar-se muito bem às novas exigências e as condições de trabalho do clube são boas. As dinâmicas de vitória são importantes não só para a sobrevivência das estruturas, mas também de quem delas faz parte. Independentemente de quem seja a responsabilidade, quando não se ganha tudo é questionado.

P- Foi demitido, ou houve rescisão amigável?

R- No fim de tudo houve vontade mútua. Infelizmente a avaliação de um treinador é sempre feita pelos resultados e não pela competência. O presidente demonstrava confiança em mim, mas nos últimos tempos a atmosfera estava a ficar pesada, pois alguns elementos da direção e adeptos não aceitavam o facto de não ganhar, escusando-se a entender as diversas variantes deste novo processo. O facto de ter sido no meu comando que a equipa alcançou o patamar mais elevado da sua história deixou de ser importante e de colocar a equipa a praticar um futebol competitivo num patamar nacional também. O facto de abdicar de meia dúzia de “artistas” para que jovens de valor e alguns até naturais do Sabugal fizessem parte da estrutura do clube também não foi compreendido. Nem foi ponderado o facto desta prova ter quatro voltas e ainda apenas ter passado uma. As lesões, castigos e qualidade de alguns jogadores que não corresponderam às expetativas foram branqueadas. Tardiamente, também dei conta de pessoas ativas na estrutura que desde o início da época apenas pretendiam dificultar o meu trabalho, pois inexplicavelmente nem sequer aceitaram e valorizaram o título distrital no meu primeiro ano de clube. Assim, quando a pressão existe em forma desmedida e sem sentido, nada melhor que analisar o cenário, pois os jogadores merecem estabilidade para o sucesso e o clube está acima de qualquer pessoa.

P- Na sua opinião, a que se deve este fraco desempenho do SC Sabugal no Campeonato de Portugal?

R- Não se pode avaliar o desempenho de uma equipa numa prova com quatro voltas e duas fases quando apenas se cumpriu uma volta da 1ª fase. Até este momento, o desempenho apenas foi fraco a nível dos resultados finais, pois a equipa conseguiu bater-se de igual para igual com todos os adversários, tendo disputado os jogos sempre com a possibilidade de vencer. Aliás, a nova equipa técnica vai encontrar uma equipa com critérios, bem organizada, que compreende muito bem o jogo e sabe onde pode pontuar. Se alguns jogadores provarem que têm mais valor e a sorte comece a surgir, há condições para fazer um resto de campeonato tranquilo e garantir a manutenção.

P- A equipa teve azar a mais ou não está preparada para competir neste escalão de futebol?

R – Quem tenta equiparar este campeonato à antiga IIIª Divisão está muito enganado, pois o amadorismo já é muito pouco. No entanto, neste momento a equipa já está bem mais adequada a essas novas exigências, podendo equiparar-se nalguns sectores às restantes equipas. Aliado a isso esteve, infelizmente, alguma falta de sorte que ditou desfechos menos justos. No Praiense perdemos o jogo na fase final com um penálti ingénuo (3-2). Em casa com o Nogueirense tivemos duas expulsões, uma delas logo aos 7 minutos, e mesmo assim disputámos o jogo até ao final. São apenas alguns exemplos…

P- Disse que não foi “tido nem achado” na constituição do plantel, o que acha? É curto, ou não é o ideal para este campeonato?

R- Essas declarações foram mal interpretadas, pois obviamente houve jogadores que foram solicitados por mim. No entanto, a direção não chegou a acordo com outros que pretendíamos por um ou outro motivo. Posteriormente foram contratados atletas de valor desconhecido, pois vieram através de um empresário. Infelizmente, alguns deles estão a ter prestações longe do pretendido e, aliando isso aos castigos e muitas lesões, o plantel acaba por ficar curto. Mas estando tudo em condições, é suficiente e formado por atletas muito competentes.

P- O facto de não ter experiência além do distrital também terá contribuído para os maus resultados numa prova mais competitiva?

R- A experiência faz parte do processo de aprendizagem e não é exceção no futebol. Se neste momento iniciasse uma nova época nos Nacionais tenho consciência que estaria muito mais apetrechado, não pelo falta de conhecimentos do jogo e suas condicionantes, mas pela estrutura que é importante possuir. Além de plantéis numerosos, as equipas que defrontámos possuíam orçamentos substancialmente mais elevados que o nosso, plantéis com jogadores experientes e equipas técnicas e atletas quase todos profissionais. Por isso, a capacidade do treinador neste patamar está mais associada às “armas” que tem para trabalhar do que propriamente ao resultado, pena é que nem toda a gente entenda isso. Por isso, não tenho qualquer problema em afirmar que eu e o meu adjunto Rui Afonso temos competência para os Nacionais.

P- O que falta às equipas do distrital da Guarda para singrarem num campeonato nacional?

R- Temos bons atletas, bons treinadores e de há um tempo para cá, boas infraestruturas desportivas. Mas isso não chega. Entre muitas coisas, julgo ser necessário reformular as competições para as tornar mais competitivas, pois os títulos distritais são quase sempre disputados a duas, três equipas no máximo, quando uma só não passeia. Seria também importante que algumas estratégias fossem criadas para que os jovens com potencial desportivo, quando chegam à idade sénior, não tenham que abandonar a região para estudar ou trabalhar. Depois, é preciso que as empresas ou entidades governamentais atribuam ao futebol o valor que realmente merece. E onde o apoio existe é importante que as pessoas sejam responsabilizadas pela sua gestão. É também preciso reformular os elevados encargos obrigatórios que a modalidade acarreta, pois o interior está gradualmente a abandonar o futebol por incapacidade financeira. Por fim, é necessário que as “quintas” deixem de existir e se trabalhe em prol do desenvolvimento desportivo local.

P- Já tem convite de outros clubes? Quais? De que escalão?

R- Atualmente estou a tentar “desligar a ficha”, pois foi um ano e meio muito intenso e cheio de emoções fortes, com férias curtíssimas e os índices de pressão elevadíssimos. Quero refletir no que correu bem e menos bem e aproveitar para estar mais tempo com os amigos e a família. Todos os clubes têm treinador neste momento, mas sim, tenho sido abordado por alguns, que não vou referir. Vou analisar e caso tome uma decisão terá que ser bastante ponderada, pois são os valores pessoais e desportivos que me movem. Sou um treinador jovem, ambicioso, que tem o privilégio de ter um adjunto fantástico e está confiante nas nossas capacidades, por isso quando surgir um projeto que reúna os meus pré-requisitos, avançarei.

Perfil:

Treinador de futebol

Idade: 41 anos

Profissão: Técnico superior de Desporto na Câmara Municipal da Guarda

Currículo: Licenciado em Desporto com Pós-graduação em Treino Desportivo, atualmente a terminar Mestrado em Desporto. Como treinador sénior, orientou o CCDR Vila Cortês – Campeão da Taça de Honra da A.F. Guarda; e o SC Sabugal – Campeão Distrital da A.F. Guarda

Naturalidade: Guarda

Livro preferido: “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez

Filme preferido: “Um Cidadão Exemplar”, de Felix Gary Gray

Hobbies: Desporto, cinema e viajar

Rui Nascimento

Sobre o autor

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