O projeto de classificação do Campo da Batalha de São Marcos, em Trancoso, como Monumento Nacional está novamente em consulta pública. Contratempos e mudanças na lei têm adiado a homologação de uma decisão que está tomada desde 2004.
A resolução do secretário de Estado da Cultura foi publicado na passada sexta-feira em “Diário da República”, considerando-se toda a área a classificar como zona non aedificandi – onde é proibido qualquer tipo de construção – com fundamento em parecer da secção do Património Arquitetónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura de 26 de outubro de 2011. Com esta, é a terceira vez que a tutela manifesta a intenção de classificar o sítio como Monumento Nacional. Em 2004, a ministra da Cultura de então, Maria João Bustorff homologou a decisão, mas o despacho nunca foi publicado em “Diário da República” devido à queda do Governo de Santana Lopes. Três anos depois foi a vez de Isabel Pires de Lima aprovar o Monumento Nacional, só que o despacho de homologação e a respetiva publicação no jornal oficial também não aconteceram. Desde então entrou em vigor nova legislação e foi necessário reapreciar o processo, que está concluído decorrendo agora os 30 dias da consulta pública.
Localizado no lugar de São Marcos, nas freguesias de São Pedro e Torres, o sítio é de grande importância histórica já que ali ocorreu uma das grandes batalhas pela independência de Portugal do reino de Castela. Travada a 29 de maio de 1385, esta peleja é encarada como o prenúncio da decisiva Batalha de Aljubarrota, de 14 de agosto do mesmo ano, que consolidou a autonomia do país, entregando definitivamente a Coroa Portuguesa ao Mestre de Avis, D. João I. Segundo reza a lenda, a contenda deixou os castelhanos “a pão e laranjas” e ainda hoje esses produtos são distribuídos às crianças das escolas locais no Dia da Cidade.
Um acontecimento que vai ser perpetuado num centro de interpretação, a desenvolver pela autarquia. De resto, o Campo da Batalha de S. Marcos vai integrar uma rede nacional de locais históricos evocativos das Guerras da Independência (1383-85), juntamente com Atoleiros e Aljubarrota. O projeto contempla prospeções arqueológicas, a requalificação paisagística do local, percursos pedonais para o centro histórico e o castelo de Trancoso, bem como a reconstituição da batalha uma vez por ano. Quanto ao Centro de Interpretação deverá surgir no antigo Palácio Ducal, na cidade, devido às condicionantes de construção em S. Marcos. Irá disponibilizar, de forma pedagógica, informação sobre a batalha, a História de Portugal e expor os achados descobertos no campo, nomeadamente na vala comum onde foram enterrados os 400 cavaleiros castelhanos mortos na refrega.
Luis Martins