Os avisos existiam e nem eram assim tão poucos, estando eu a par de quase todos eles. Mas, ainda assim, recentemente, por minha conta e risco, mesmo desconfiando daquilo que trazia para casa, decidi alugar aquele que foi por muitos considerado o pior filme do ano passado (e talvez de muitos outros). Mais conhecido por «Gigli», ao chegar à Europa trouxe já colado a si um outro nome, forma talvez de enganar quem também estava a par de tais advertências. Quem não se lembra das famosas t-shirts «I Survived Gigli»*, distribuídas à saída de algumas salas de cinema no país do Tio Sam, onde este filme era exibido? Na Europa, «Gigli» passou a «Tough Love», em Portugal «Duro de Matar». O nome mudou, mas ao que realmente interessa já não havia nada a fazer. Quase apetece recorrer ao título (de muito mau gosto) utilizado por um jornal aqui da região na passada semana, no seu editorial, aquando da mudança de governo: «Mudaram as moscas…».
Já é quase um facto cientifico, ou se ainda o não é pouco faltará. Um filme onde entre Jennifer Lopez é um mau filme. Um filme onde entre Ben Afflek tem elevadas probabilidades de o ser também. Agora imaginem um onde entrem ambos. Sim, em «Gigli» eles andam por lá juntos, ocupando mais de 90% do tempo do filme com a sua presença. Ele tenta ser um bad boy, ela tenta ser lésbica. Aqui é tudo tentativas. Nada chega a ser alguma coisa. E até custa ver Christopher Walken a tentar fazer de mad cop, e Al Pacino numa tentativa inglória de ser um grande mafioso, ou lá o que é suposto ser. O argumento nunca leva a lado nenhum e a realização, de tão preguiçosa, era melhor que nem existisse. A história, essa, não passa de uma tentativa (mais uma…) de mostrar duas pessoas, que ao serem contratadas para procederem ao rapto do irmão de um famoso juiz, que assim poderia não condenar Al Pacino, acabam por se apaixonar. Ou antes, Afflek, o Gigli que dá título ao filme, apaixona-se por Lopez, e esta, aos poucos, até vai tentando «mudar de equipa» para que tal paixão possa resultar. No fim já nada disto interessa e o importante é que o filme acabe rápido. Os últimos dez ou quinze minutos são disso exemplo, quando visivelmente já ninguém sabe o que deve fazer. Se, como já aqui se escreveu uma vez a propósito de «Swept Away – Ondas de Paixão», um filme pode ser tão mau que até é bom, este «Gigli» é tão mau que só pode mesmo ser mau. E ponto final.
Para recuperar de «Gigli», só mesmo com uma «Terapia de Choque». Protagonizada pela dupla Jack Nicholson/Adam Sandler, esta terapia parecia ter tudo para se transformar numa excelente comédia. Para já não falar da deliciosa e irresistível Marisa Tomei, que aqui mais não faz que fazer de Marisa Tomei, mas que importa isso quando é de Tomei que se está a falar? Não foi ao caso que escrevi «esta terapia parecia ter tudo». É que, de gag em gag, nunca «Terapia de Choque» se consegue realmente impor. Falta um fio condutor forte ao longo de todo o filme. Tudo fica pelo ligeiro. Os tiques de Nicholson e Sandler, já conhecidos de todos, são explorados até ao limite, não trazendo nada de novo. E se numa comédia, para muitos, a verosimilhança pode sempre ser esquecida em troca de uma boa gargalhada, essas gargalhadas deixam certamente de surgir quando o filme passa todo o tempo na indecisão entre ser verosímil ou apenas ridículo, esquecendo tudo em seu redor. Sem ser aquilo que prometia, vê-se sem prejuízo de se dar o tempo por perdido.
* Eu sobrevivi a Gigli
Por: Hugo Sousa
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