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Terapêutica com oxigénio

Fundação Portuguesa do Pulmão

O oxigénio é uma molécula formada pela fotossíntese das plantas. É um gás incolor e inodoro, corresponde a 21% do ar atmosférico, e é utilizado pelos seres vivos no processo de respiração.

Quando o ar atmosférico penetra nos pulmões, a nível alveolar, efetua-se um processo biológico de troca de oxigénio pelo anidrido carbónico. Desta forma, o sangue venoso transforma-se em arterial. O oxigénio é depois transportado pelo sangue arterial de duas maneiras: dissolvido no plasma ou ligado a uma proteína transportadora de elevada afinidade que se chama hemoglobina. Quando o sangue arterial chega aos tecidos, a hemoglobina liberta o oxigénio que é imprescindível para a produção de compostos de alta energia.

À redução do nível de oxigénio no sangue chama-se hipoxémia e à sua falta total anóxia.

A hipoxémia manifesta-se clinicamente de várias formas: aumento da frequência cardíaca e respiratória; adejo nasal; retração costal; cianose; arritmias; tremor; confusão mental e, no limite, prostração e coma. São múltiplas as causas de hipoxémia, desde a altitude, às doenças do foro hematológico, neurológico, cardíaco e respiratório.

As doenças pulmonares que causam hipoxémia podem ser agudas, tais como pneumonias ou derrames pleurais; ou crónicas, sendo as mais frequentes as fibroses pulmonares, as sequelas de tuberculose e a DPOC (doença pulmonar obstrutiva crónica).

Nestes casos, mesmo utilizando terapêutica adequada, por vezes permanece a hipoxémia, sendo por isso necessário administrar oxigénio numa concentração superior à do ar atmosférico na tentativa da sua correção.

As fontes de oxigenoterapia disponíveis atualmente são o oxigénio gasoso, o oxigénio líquido e os concentradores de oxigénio. O oxigénio gasoso apresenta-se habitualmente contido em botijas que, pelo seu peso e dimensão, funcionam como dispositivos fixos, o que limita a mobilidade dos doentes a uma divisão da sua casa. O oxigénio liquido, disponível em unidades portáteis, tem a enorme vantagem de permitir a mobilidade do doente. Este tipo de oxigénio é uma terapêutica cara, não sendo a sua comparticipação pelo Serviço Nacional de Saúde idêntica em todo o território nacional, o que condiciona muito o seu uso. Os concentradores de oxigénio são aparelhos que extraem o oxigénio do ar atmosférico. De aparelhos fixos e barulhentos, estão a evoluir para equipamentos silenciosos e transportáveis. Sem risco de explosão, parecem ser os equipamentos do futuro. O maior inconveniente para a sua utilização é o custo associado ao consumo de energia elétrica, o que, num contexto social desfavorecido, pode ser um constrangimento importante.

As formas mais frequentes de administração do oxigénio são por sonda nasal, por óculos nasais ou por mascara facial, sendo a escolha dependente de critérios clínicos e da adesão do doente. Quando corretamente prescrito, os seus benefícios são múltiplos, desde o retardar das consequências cardíacas resultantes das doenças pulmonares, à maior tolerância ao esforço e à melhoria das capacidades intelectuais e saúde mental dos doentes.

O oxigénio é um medicamento pelo que deve ser usado cumprindo escrupulosamente a prescrição médica relativamente ao débito e o número de horas de utilização.

No caso especifico da DPOC, o seu benefício no aumento da sobrevida só acontece naqueles doentes que cumprem períodos prolongados de 15 ou mais horas diárias.

Atualmente, na ULS da Guarda o número de doentes que efetuam oxigenoterapia domiciliária é de cerca de 1.500, ou seja, aproximadamente 10/1.000 habitantes.

Esta realidade representa um enorme encargo financeiro pelo que deve existir o máximo rigor na prescrição e utilização da oxigenoterapia.

Por: Luís Ferreira

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