Paulo Langrouva, Presidente da Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo
P – O mandato acaba de começar, quais são as grandes opções para os próximos quatro anos em Figueira de Castelo Rodrigo?
R – Temos grandes projetos. À semelhança do que aconteceu no mandato anterior, continuaremos focados em cuidar das pessoas e, além do público sénior, o nosso público-alvo vai ser a juventude do concelho. Queremos fixá-los no nosso território e manter uma ligação próxima para os colocar em sintonia com aquilo que são os grandes projetos para o futuro, não só em termos de dinamismo empresarial, mas também de dinamismo por parte do município. Penso que estaremos em condições de atacar a vertente jovem e criar algumas dinâmicas direcionadas para a nossa juventude.
P – Mas é possível atrair jovens para estas aldeias da Beira Douro, esta região do interior profundo?
R – Estou convencido que sim. Prova disso é termos iniciado o projeto da Plataforma da Ciência Aberta, onde temos dois jovens cientistas, vindos de fora, que deixaram os seus projetos pessoais nas grandes cidades para virem abraçar um novo projeto inovador a nível nacional. Eu acho que temos mais alguns, nomeadamente o projeto das “Aldeias Lares”, que está inserido numa iniciativa que, no mandato anterior, chamamos “Estou no Radar” e que também vai criar emprego e dinâmica vocacionada para os jovens. Trata-se de criar uma ligação integeracional entre o público mais idoso e o mais jovem, no sentido de manter a juventude nas suas aldeias, proporcionando-lhes condições para fazer atividades diversas, desde artesanato ao desporto. Ou seja, queremos dar-lhes uma panóplia de atividades com o intuito de os manter motivados e empenhados nas suas próprias terras. Com isso daremos também a possibilidade aos jovens de acompanhar e trabalhar com este público sénior e criamos assim uma interação muito interessante.
P – Há também a intenção de que os emigrantes originários deste concelho possam regressar?
R – É um projeto que também será inovador, em que vamos fazer um aproveitamento do que designamos de “Estatuto do Residente não habitual”. Quem se queira aqui fixar durante determinadas temporadas poderá ter benefícios fiscais. Por outro lado, pretendemos criar também dinâmicas empresariais, conjugando um benefício fiscal, que é um possibilidade dada pelo Estado, com as dinâmicas próprias do município. É o tal estatuto de benefício fiscal zero para incentivar e motivar o regresso dos nossos jovens emigrantes ou, eventualmente, de estrangeiros que se queiram fixar no território proporcionando-lhes as condições ideais para a sua permanência.
P – É quase o que o país está a tentar fazer com os vistos Gold. Ou seja, a política fiscal como alavanca para atrair pessoas, ainda que sejam pessoas reformadas?
R – Claramente. Teremos uma reunião com o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas para começarmos a abraçar o projeto. Vamos arrancar com ele em janeiro e a partir daí vamos estar no terreno, num périplo por França, Espanha, Holanda e Irlanda, por exemplo, para criar uma rede europeia de interligação com o projeto de Ciência Aberta, que em Inglês designamos “Open Cience Center”.
P – A ciência também pode ser uma mobilização e uma atração turística em Barca d’Alva, onde há um cais. Como é que está a relação com o Douro neste momento no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo?
R – A nossa relação é ótima. Temos uma parceria com a Douro Azul, estabelecida a 7 de julho deste ano. Estamos numa fase de apresentação de projetos na Câmara Municipal para licenciar e para que depois se possa fazer a tal recuperação do edificado da antiga estação de caminhos-de-ferro em Barca d’Alva. Ali vai nascer um hotel de charme e um restaurante. O projeto de arquitetura está finalizado, os projetos de especialidades estão a ser concluídos e decorrem negociações com a APDL por causa do cais e a partir daí estão reunidas as condições para que, em breve, tenhamos uma apresentação pública de um empreendimento que certamente surpreenderá muita gente. O investimento rondará os 4 milhões de euros e vai trazer uma dinâmica completamente diferente para Barca d’Alva em termos de atração turística e de permanência de turistas na região, que depois vamos conjugar com a rede de oferta turística do concelho. Falo do Centro de Interpretação da Batalha de Castelo Rodrigo, da requalificação da Torre da Almofala, do futuro Centro de Interpretação Judaico do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo – já aprovado e que arrancará brevemente. E temos outro, que vai de encontro à atração de jovens, que é a criação da Casa do Artista em Castelo Rodrigo. Nós criamos uma cooperativa artística no concelho que, se calhar, é a única do distrito e quem está à frente do projeto é um jovem que veio de Guimarães e se sediou no concelho.
P – A Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo, pela imagem que se criou e pela promoção a nível nacional que se conseguiu, é uma âncora essencial para o desenvolvimento do projeto turístico que a Câmara tem para o concelho?
R – Naturalmente que sim. Neste momento, Castelo Rodrigo goza de uma projeção que era quase impensável há meia dúzia de anos. Com o impulso dado por termos sido vencedores no concurso das “7 Maravilhas de Portugal”, conseguimos ter uma visibilidade externa incrível, que nos projetou além-fronteiras e incrementou o número de visitas aos postos de turismo nestes últimos meses. Tudo fruto desta publicidade gratuita que conseguimos.
P – É, portanto, uma aposta para continuar?
R – Claramente. Ainda esta semana tive uma reunião com a organização das “7 Maravilhas de Portugal” para darmos um novo impulso e uma nova projeção a Castelo Rodrigo. Aproveitando o facto de haver sete aldeias que ganharam este concurso e que se criou uma rede de interligação entre elas, vamos lançar projetos tendentes também à dinamização e potenciação da oferta turística da nossa Aldeia Histórica.
P – Já referiu duas âncoras bastante objetivas, Castelo Rodrigo e Barca d’Alva. Em obras está já o Centro de Interpretação da Batalha de Castelo Rodrigo. Para quando a sua abertura e o que vai ali nascer no “coração” da vila?
R – Vamos dar uma nova alma e uma nova esperança a esta zona histórica e central do concelho. O Centro de Interpretação é, de facto, uma obra emblemática que vai possibilitar criar uma dinâmica turística importantíssima no “coração” da sede de concelho ligada a um evento que foi um marco histórico: a Batalha da Salgadela. Estamos a criar este centro, cujas obras já começaram e estão a uma grande velocidade, que terá um investimento na ordem dos 700 mil euros. Temos financiamento assegurado de cerca de 600 mil euros e portanto este será um projeto emblemático e com alguma envergadura. Estará pronto em finais de junho do próximo ano e a sua mais-valia será termos num único espaço uma exposição dinâmica do que foi a Batalha de Castelo Rodrigo e da sua importância na história de Portugal.
P – O que está a ser feito na Torre da Almofala?
R – Vai ser lançada a obra de requalificação. Como sabem, a Torra da Almofala está numa fase crítica em termos de sustentabilidade da estrutura e conseguimos um financiamento de 400 mil euros para a sua beneficiação. É um monumento nacional que atualmente está consolidado com andaimes para suster as paredes, mas neste momento temos que partir para outra fase, que, além da sustentabilidade e consolidação da estrutura, possibilite criar um centro de interpretação ambiental e histórica. Noutra área, vamos também criar a praia fluvial na Barragem de Sta. Maria de Aguiar no próximo Verão.
P – Também vai haver investimento na rede viária concelhia, no sentido de quem vem possa mais facilmente movimentar-se?
R – Estamos a fazer uma forte aposta nas acessibilidades. Por exemplo, no Colmeal há um hotel que é uma estrutura importantíssima da nossa hotelaria e estamos a requalificar a igreja local. A aldeia está a renascer e vamos passar a ter missas ali, o que era impensável há meia dúzia de anos. Essa é uma das acessibilidades que vamos ter de melhorar. Recentemente também lançámos uma obra de grande envergadura, com um investimento de quase 800 mil euros, para criar uma nova variante que liga a parte da capelinha ao centro da sede do concelho. Vai dar origem a uma avenida moderna, estruturada e acessibilidade para facilitar toda esta dinâmica e também para criar uma zona de expansão residencial para outras áreas que estavam um pouco condicionadas.
P – Há otimismo nas suas palavras. Olhando para o mandato anterior, o que correu menos bem que esteja a ser corrigido e quais são ainda as fragilidades a corrigir nos próximos tempos para que este mandato consiga ser o retrato desse otimismo?
R – Obviamente que tivemos alguns precalços no mandato anterior, não vale a pena esconder. Tínhamos uma série de problemas que foram sendo resolvidos em tempo recorde. Uma das falhas notórias foi não termos conseguido instituir as chefias de divisão na Câmara, uma mudança fundamental para se criar a tal descentralização de poder. Esta reorganização é fundamental e estamos neste momento a trabalhar no regulamento interno que será submetido à próxima reunião de Câmara e com isso lançaremos depois os concursos para chefes de divisão, o que nos permitirá descentralizar algumas competências e poderes para que esses responsáveis possam, com alguma agilidade, tomar conta dos vários setores da Câmara. Outro dos problemas é que o próprio quadro comunitário só entrou em funcionamento na segunda metade de 2016. Ora, apesar de tudo e de tardio, ainda conseguimos ir buscar financiamento para os investimentos que temos previstos para o concelho. Estou convencido que o próximo quadro comunitário vai sofrer algumas alterações, pelo menos é esse o eco que nos vai chegando, e temos que aproveitar todo o potencial do próximo quadro comunitário. E para isso temos que ter uma dinâmica de organização interna funcional, ágil e que permita, com celeridade e foco, ir buscar aqueles apoios financeiros para alavancar os projetos que temos em curso.
P – Uma das apostas neste concelho é a agricultura. O que está a ser feito para recuperar e desenvolver ainda mais a colaboração com o mundo rural?
R – É de facto um setor primordial no concelho. Estamos a trabalhar num projeto muito importante, tendo já sido submetida candidatura ao Portugal 2020, que é o regadio do concelho. Se for aprovado, será um dos projetos mais estruturantes para o desenvolvimento da nossa agricultura. Neste momento a candidatura está em análise, já nos foram solicitados esclarecimentos, já respondemos e estamos otimistas quanto à sua aprovação. Trata-se de tentar fazer o aproveitamento da água do concelho através de um reservatório que será colocado, por exemplo, na Serra de Nave Redonda, de onde será canalizada por gravidade para as respetivas freguesias (Vilar Torpim, Reigada, Nave Redonda, Mata de Lobos e Figueira de Castelo Rodrigo). Isto vai possibilitar a rega gota a gota quer da vinha, quer do olival, entre outras culturas, e será uma completa revolução da nossa agricultura. Quero também destacar o vinho “Pinking” lançado pela Adega Cooperativa, que é uma referência e é produzido exclusivamente em Figueira de Castelo Rodrigo. Isso aliado à nossa sala de provas gourmet passamos a ter os ingredientes necessários para alavancar a nossa agricultura. Também temos um protocolo com a Cooperativa de Olivicultores de Escalhão, no âmbito do qual aprovámos 60 mil euros para a modernização da sua linha produtiva. E vamos apostar ainda mais nesta cooperativa porque o nosso azeite é de grande qualidade, basta apenas fazer uma remodelação em termos de imagem, marketing e publicitação para que o consigamos exportar ainda mais.
P – Há alguma estimativa de quanto custará a implementação do regadio?
R – Será da ordem dos 1,5 a 2 milhões de euros. A água virá da Barragem de Sta. Maria de Aguiar. Há no concelho 1.100 hectares de vinha, eu diria que desses 400 hectares serão abrangidos pelo regadio, que é quase 50 por cento da nossa área de vinha. Também há a possibilidade de candidatarmos o regadio da Vermiosa e podemos ter dois regadios a funcionar. É um empreendimento que está em fase de estudo, mas temos é que criar a dinâmica necessária para se aprovar um e depois partir para o outro.
P – Está, portanto, otimista em relação aos próximos anos deste concelho?
R – Estou muito otimista. Temos um conjunto de fatores que são essenciais para garantir o desenvolvimento do município. Estamos com uma dinâmica muito grande em termos de projeção do concelho a nível nacional e até internacional.
P – O que falta para que essa projeção possa ter um resultado económico para as pessoas?
R – Penso que a juventude é um fator essencial. Porquê? Se conseguirmos fixar os jovens e criar condições para que eles possam ficar, essa dinâmica será essencial para alavancarmos o desenvolvimento do concelho.
P – Que outros serviços de saúde é que eventualmente vão disponibilizar às pessoas?
R – Além do seguro de saúde municipal, que já é uma referência a nível nacional, lançámos também o seguro de saúde dentário através do qual as pessoas podem ir tratar um dente gratuitamente em qualquer uma das clínicas aderentes. Está em estudo a possibilidade de se criar uma dinâmica nova na área da saúde, mas não posso revelar muito mais porque estamos em negociações sob pena de condicionarmos esses projetos. A aposta passa por dar qualidade de vida e bem-estar às nossas populações. Penso que o facto das pessoas hoje em dia terem acesso à saúde e aos cuidados em termos de estomatologia é fundamental para que se sintam bem e queiram permanecer em Figueira. No dia 1 de novembro passamos a ter mais uma médica no nosso Centro de Saúde. Com o seguro de saúde vaticinava-se que estavamos a matar o Serviço Nacional de Saúde, prova contrária é que antes só tínhamos dois e agora temos quatro médicos no Centro de Saúde, além dos três que estão afetos ao cartão de saúde. No fundo, temos sete médicos, números que poucos concelhos do interior terão.
Perfil:
Natural da África do Sul, Paulo Langrouva (1969) diz ser presidente da Câmara «por coincidência».
«Nada fazia prever que um dia seria autarca, nem nunca sonhei com isso. Foi um mero acaso, mas que se está a revelar uma experiência rica e importante», refere. O edil figueirense regressou à terra natal do pai – a mãe é natural de Pinhel – quando tinha 16 anos juntamente com a família, que esteve emigrada 28 anos. Concluiu o ensino secundário em Pinhel e licenciou-se em Economia na Universidade Nova de Lisboa. É pai de trigémeos com 15 anos, mas confessa que o cargo não lhe permite estar mais tempo com família nem praticar os seus hobbies (desporto e jogging). «Pratiquei karate durante vários anos, agora já não», revela.
Paulo Langrouva gostaria de ser lembrado por ter conseguido criar dinâmicas que invertam o ciclo do despovoamento que afeta o seu concelho: «Temos que povoar, criar riqueza e dinâmicas empresariais para fixar pessoas e travar a perda populacional», considera, adiantando que o objetivo dos seus mandatos é «dar qualidade de vida e bem-estar aos figueirenses». O autarca socialista foi eleito pela primeira vez em 2013 e reconduzido em outubro para um segundo mandato. Garante que não está preocupado com uma terceira recandidatura porque o seu foco «não é a reeleição» mas os projetos para os próximos quatro anos. «Não estou a fazer obra só para dizer que fiz, não estou a fazer elefantes brancos. Estamos a fazer obra com determinada utilidade efetiva para as populações e capacidade para atrair turismo para a região», sublinha.
Tem no computador uma «ferramenta essencial» e não perde tempo com as redes sociais – tem Facebook –, mas aproveita-as porque «podem ter um papel preponderante se forem devidamente usadas». Quanto ao futuro, Paulo Langrouva diz-se «muito concentrado» em Figueira de Castelo Rodrigo e garante que não tem qualquer aspiração politica ou partidária que vá para além do concelho. «Quero dedicar-me de corpo e alma a este concelho. Fui eleito pelos figueirense, estou a trabalhar para esta população e tenho que me manter focado nela pelo menos quatro anos», afirma o autarca.