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«Temos um cartaz melhorado em relação à edição do ano passado»

António Oliveira, presidente da direção da AENEBEIRA

P – Quais as expectativas para mais uma edição da secular Feira de São Bartolomeu?

R – As expetativas são as habituais. É mais uma edição da Feira de São Bartolomeu onde esperamos, naturalmente, ao longo dos 11 dias uma frequência muito significativa da população da região que habitualmente visita este certame, quer para visitar o artesanato, as atividades económicas, a exposição de maquinaria agrícola, quer também quem a visita procurando a parte lúdica, as diversões, os espetáculos ou as tasquinhas. Portanto, as nossas expetativas são as habituais para este evento que já tem centenas de anos de tradição.

P – Quais as principais novidades da edição deste ano?

R – A edição deste ano tem uma novidade que me apraz registar. No salão das atividades económicas, no pavilhão multiusos, decidimos criar um espaço para o qual convidámos muitos dos nossos produtores de produtos regionais como charcutaria e enchidos, queijos, doçaria, compotas e vinhos. Convidámo-los para esse espaço de 36 metros quadrados, onde estarão permanentemente quatro expositores – não serão exatamente os mesmos todos os dias –, por exemplo, um de doces regionais, outro de enchidos, um de queijos e outro de vinhos. Será um espaço de degustação e de venda de forma a promover toda a fileira dos nossos produtos regionais e os nossos produtos endógenos. Vamos ver qual a reação, mas estou convicto que nesta altura há muita gente, entre muitos emigrantes e muitas pessoas que residem noutras zonas, e é natural que isto funcione, uma vez que há sempre uma grande empatia face aquilo que são os produtos tradicionais e próprios da nossa região. Isso tem muito a ver com o saber fazer tradicional e com as nossas raízes. Essa é a grande novidade ao longo de toda a feira deste ano.

P – O objetivo é também criar uma maior interatividade entre o público e os produtores?

R – Exatamente. Há produtores regionais que habitualmente não estão sequer representados nesta feira porque esta não é a altura certa para isso. É mais na Feira do Fumeiro, mas nós quisemos aproveitar os muitos milhares de pessoas que visitam o certame, que têm aqui as suas origens, mas que não residem aqui e muitas vezes nem no país, para contactarem com os nossos produtos regionais ligados à nossa cultura e às nossas tradições.

P – No ano passado, optaram por baixar os preços dos stands no sentido de contrariar o decréscimo de procura dos expositores. Essa opção mantém-se?

R – Sim, este ano limitámo-nos a manter os preços da edição de 2012. Todos os espaços de exposição têm exatamente os mesmos valores da edição do ano passado, seja no salão de atividades económicas, seja no artesanato, tasquinhas, restaurantes ou nos espaços para exposição de maquinaria agrícola, sector automóvel ou para as diversões.

P – Essa opção foi uma aposta ganha?

R – Foi uma aposta acertada. De facto, o preço no salão de atividades económicas era o preço possível para equilibrar a oferta e a procura, mas naturalmente que com a crise económica dos últimos anos passou a haver uma menor procura de espaços e tivemos de nos adaptar, reduzindo o preço, e facilitar o acesso de outros expositores à feira e isso resultou o ano passado e este ano manteve-se.

P – Quantos expositores vão estar presentes?

R – Vamos ter ocupados cerca de 210 espaços de exposição, sendo que há expositores que ocupam mais do que um espaço de exposição e aí estamos a falar de lotes, stands, restaurantes, tasquinhas…

P – Em termos de visitantes, tem algum número estimado que gostaria de atingir?

R – Habitualmente falamos sempre que, ao longo dos 11 dias da Feira de São Bartolomeu, teremos entre 120 mil a 140 mil visitantes e são essas as nossas expetativas para esta edição. Este ano temos um cartaz melhorado em relação à edição do ano passado, cujo orçamento foi apenas suportado pela AENEBEIRA, uma vez que a Câmara não podia, dada a existência da lei dos compromissos, e não tinha disponibilidade. Desse modo, nós tivemos de assumir todo o custo da feira, bem como o seu prejuízo e, naturalmente, que também tivemos que reduzir na contratação de artistas com nomes menos sonantes. Este ano já não é assim. Temos, pelo menos, cinco dias com espetáculos de grande dimensão. A Ana Malhoa amanhã (dia 16), o João Pedro Pais no sábado (dia 17), o Quim Barreiros no dia 21, o Leandro no dia 22, que não está anunciado nos primeiros cartazes, pois só mais recentemente foi contratado, e os The Gift no dia 24. Portanto, é um cartaz melhorado em relação ao do ano passado, para além de haver outros grupos de qualidade como os Lucky Duckies, que este ano encerrarão a Feira de São Mateus, em Viseu, e que estarão em Trancoso no dia 23.

P – Quais os preços das entradas para os diferentes dias?

R – Ao longo destes 11 dias de Feira teremos cinco dias com um bilhete de entrada de 2,50 euros – Ana Malhoa, João Pedro Pais, Quim Barreiros, Leandro e The Gift; haverá dois dias em que o preço é de 1,50 euros – Hi-Fi (no dia 20) e Lucky Duckies. A entrada é livre nos restantes dias, pelo que não haverá bilhetes hoje, dia de abertura da Feira, que será inaugurada pelas 18h30; no dia 18 com Nortada, um grupo da região; no dia 19 com Stereo Attic e A Caixa, duas bandas locais; e no dia 25, o último dia, com o Festival de Folclore, em que tradicionalmente a entrada é livre. Ou seja, haverá quatro dias de entrada livre, cinco dias com entradas a 2,50 euros e dois com os bilhetes a 1,50 euros.

P – Este ano a Câmara Municipal de Trancoso já volta a comparticipar?

R – Este ano, os espetáculos mais importantes, bem como toda a logística dos mesmos com estruturas, palcos, iluminação e camarins, tirando as bandas locais, são suportados pelo município. Eu já tinha dito que o investimento do ano passado era irrepetível e a associação não teria hipótese de suportar novamente o esforço financeiro que fez no ano transato.

P – Qual é o investimento global da Feira?

R – Este ano, o investimento global da Feira ronda os 212 mil euros, acrescidos de IVA, dos quais a Câmara tem todo o processo dos espetáculos mais significativos que terá um custo de cerca de 100 mil euros mais IVA e a AENEBEIRA terá custos com a montagem da Feira e alguns espetáculos de bandas locais no valor de perto de 112 mil euros. Ou seja, mesmo assim, a parte de despesas que cabe à Associação é ligeiramente superior à da Câmara Municipal.

P – Quais as receitas previstas em termos de cobrança de bilhetes?

R – O total dos rendimentos que a Associação espera arrecadar situa-se na ordem dos 135 mil euros. Isto significa que, no seu conjunto, entre a Câmara e a AENEBEIRA, a Feira terá um défice, o que é natural, de cerca de 77 mil euros, esforço esse que nós suportámos na íntegra no ano passado e este ano, felizmente, não seremos nós a suportá-lo.

P – Como de costume, são esperados visitantes não só da região, como de fora dela, mas também os muitos emigrantes que por esta altura estão cá de férias?

R – Sim, nota-se a presença dos muitos emigrantes que estão entre nós e a influência que a Feira tem fundamentalmente a norte à região do Vale do Douro e a uma série de concelhos neste eixo, que tem como limite Freixo de Espada à Cinta, Torre de Moncorvo, São João da Pesqueira, Armamar, Tabuaço, Penedono, Sernancelhe ou Moimenta da Beira. Todos estes são concelhos cujas suas gentes tradicionalmente acorrem à realização da Feira de São Bartolomeu, visitando-a, quer ao longo das sextas-feiras, dia grande por ser dia de mercado, quer durante a noite aos espetáculos e visitando a Feira ao longo do seu decurso.

P – Os emigrantes continuam a ter um grande peso nesta altura?

R – Naturalmente que sim. Este ano uma parte da Feira decorre num período onde a emigração já não será muito forte, uma vez que estou convicto que a partir do dia 22, 23, os emigrantes iniciam a sua viagem de regresso aos países onde residem. Mas, de facto, este ano a alternativa ao 15 a 25 de agosto era muito má porque seria de 9 a 19, o que seria uma data muito baixa para a realização da Feira e nós quisemos manter o que eram as datas tradicionais do certame. Embora com isso e com esta nossa postura de realizarmos a feira este ano um pouco mais tarde vimos a Feira de São Mateus passar a iniciar-se mais cedo que a Feira de São Bartolomeu. Tradicionalmente, há 30 ou 40 anos, a Feira de São Mateus começava a 6 de setembro, depois veio para 30 de agosto, depois para 20, depois para 14 e agora começam a 9 de agosto, sendo que o dia de São Mateus é só a 21 de setembro. Mas nós não temos condições para colocar uma feira com essas caraterísticas em Trancoso a funcionar mais do que 10 dias. É completamente impossível.

P – Esta Feira leva séculos. Como se explica que, depois de, nos anos 80, ter estado um bocado moribunda, esta revitalização tenha feito com que o evento seja um dos mais importantes desta região?

R – Essa reestruturação foi uma solução iniciada nos anos 90, reorganizando o espaço da Feira, distinguindo claramente entre uma feira que é de exposição e que tem também uma parte lúdica e a venda. A parte lúdica, com as diversões, espetáculos, as tasquinhas e os restaurantes existentes no centro da Feira, distinguindo claramente este espaço do que é a função do mercado semanal. Antes estava tudo misturado e, de certo modo, a feira de ano tradicional estava esgotada com a revolução dos transportes que permitiu o acesso de todas as populações aos mercados semanais e portanto não fazia sentido continuar nos moldes em que estava. Em Trancoso, tal como noutras localidades, talvez aqui um pouco mais tardiamente, iniciou-se um processo de reestruturação da Feira, valorizando essa componente expositiva de dinamização da atividade económica e, simultaneamente, a componente lúdica do evento, acabando com uma dicotomia que havia. A Feira de São Bartolomeu acabava por ser o mercado mais próximo dos dias 20, 21, 22 ou 23. O mercado mais próximo era o dia principal da feira e depois os feirantes ficavam aí mais três ou quatro dias e, simultaneamente, a Câmara fazia decorrer outra iniciativa que eram as Festa da Vila, que eram realizadas no Parque Municipal. Acabámos com essa dicotomia e avançámos com essa reestruturação da Feira que valorizou fundamentalmente a componente expositiva e de dinamização da atividade económica. Por outro lado, valorizou o aspeto lúdico do evento e acabou com a dicotomia feira anual e festas da Vila.

P – Apesar da crise, está confiante no sucesso desta edição?

R – Naturalmente que sim. Não é segredo para ninguém que as pessoas têm menos dinheiro no bolso, mas enfim as expetativas são as possíveis em tempos de crise. Também a pensar nesse fator da crise, há quatro dias com entradas gratuitas. Ninguém pode dizer que não vem à feira por que não pode pagar.

P – De alguma forma a cobrança de portagens na A23 e A25 afetou a afluência de visitantes à Feira?

R – Não tenho muito essa consciência e creio que não é muito significativo porque as populações que aqui se deslocam são na sua grande maioria oriundas do distrito da Guarda e de parte do distrito de Viseu, situadas entre o Mondego e o Douro, que não necessitam de circular pela A25. Como se sabe, as pessoas dos concelhos da Guarda e de Celorico da Beira têm a alternativa, que todos bem conhecemos, que é o antigo percurso do IP5. Quanto a concelhos como Fornos de Algodres, Mêda ou Aguiar da Beira, também acedem aqui sem ser pela A25. Portanto, para esta feira não tem reflexo. A cobrança de portagens tem é um reflexo negativo na Feira dos Sabores, porque aí acreditamos que se faça sentir.

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