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«Temos que envolver mais a Feira das Tradições na cidade e no seu comércio»

P – A Feira das Tradições faz este ano 20 anos, o que explica o sucesso deste evento?

R- O sucesso gira à volta essencialmente daquilo que foi e continua a ser o envolvimento das pessoas do concelho Pinhel. Os pinhelenses tentam transpor para a Feira das Tradições tudo aquilo que sabem fazer, que foi o passado de Pinhel e do concelho e também tudo aquilo que as novas empresas do município querem colocar ali para dar a conhecer. Eu acho que o sucesso tem sobretudo a ver com a vivência, ou seja, cada um dos pinhelenses vive verdadeiramente a Feira das Tradições.

P – Para esta edição, a expetativa é alta, quais os aspetos essenciais que possam levar mais pessoas à feira das tradições?

R- Penso que o facto de mostrarmos aquilo que de melhor temos traz sempre gente à Feira das Tradições. Como o nome indica, é um evento associado às tradições, que as pessoas gostam sempre de recordar. Falamos de 20 anos da feira, já é uma feira maior de idade, temos um número considerável de pessoas que gosta de vir. Mas esta feira em particular vai ser principalmente o “virar a página” porque entendemos que a Feira das Tradições já atingiu uma dimensão que tem que ser revista do ponto de vista financeiro para que não passe a ser inviável para a Câmara Municipal continuar a fazê-la. E portanto vamos apresentar um novo projeto para conseguir diminuir os custos do certame e, ao mesmo tempo, dotar o concelho de Pinhel de uma infraestrutura que não servirá apenas para a feira. Falo de um pavilhão que será apresentado no sábado num projeto em 3D pelos arquitetos e irá também conter tradição. Posso já desvendar um pouco do projeto e dizer que parte do edifício vai ser construído com o granito de Pinhel, não em bloco, mas com as aparas que saem da pedra na própria pedreira. Os arquitetos quiseram deixar uma característica muito importante, pois o granito é uma tradição de Pinhel e tem alguma importância económica. Este pavilhão vai ser trabalhado de forma a receber a feira como ela é hoje, mas será também multifuncional para que possa acolher outros eventos, permitindo que Pinhel possa ter um espaço virado para a cultura e também para a vertente empresarial. O edifício vai ser colocado dentro da cidade, pelo que vamos devolver a feira ao núcleo central de Pinhel. Situar-se-á na zona industrial e, portanto, estamos a fazer com que o próximo certame não fique tão afastado da cidade, como acontece atualmente na ex-Rohde. Antigamente, a Feira das Tradições era realizava-se perto do campo de futebol e junto às escolas e, portanto, vamos devolvê-la para esse espaço.

P- Qual é o impacto da Feira das Tradições na economia local?

R- São 35 mil pessoas que entram na feira, o que é significativo. Ao longo destes dias os nossos restaurantes estão completamente cheios e há algo que era feito nas primeiras edições da Feira das Tradições que quero recuperar. Antes havia uma coisa curiosa, o empenho de todos os comerciantes em colocar nas suas montras aquilo que tinham de tradição na sua área, por exemplo, no caso dos meus pais, que vendiam eletrodomésticos, colocavam aparelhos antigos para recordarmos como era antes. Temos que envolver mais a Feira das Tradições na cidade e no seu comércio, não só em termos de montra, mas também abrir ou fazer atividades da feira fora do espaço para podermos atrair gente para os estabelecimentos comerciais de Pinhel. Esta é uma ideia que estamos a desenvolver, mas também baseada naquilo que foi uma tradição das primeiras edições porque acho que é positivo trazer a Feira das Tradições mais para junto do comércio.

P- Ainda falta algum produto à Feira das Tradições para continuar a afirmar-se o grande momento do ano?

R- A Feira das Tradições tem uma lacuna muito grande e reconheço isso. Falo do granito, que praticamente não está representado, participando apenas de uma forma pontual. Há um trabalho muito sério que vamos começar em colaboração com o NERGA para tentarmos criar uma associação com todos os empresários da área do granito e podermos trabalhar toda esta área. Poderá ser aqui o primeiro passo para que as pessoas do comércio do granito possam ver a Feira das Tradições como uma boa oportunidade para o negócio e colaborar com a Câmara nesta questão.

P- Tem alguma recordação em termos pessoais da feira?

R- Tenho muitas, até porque fui diretor da feira durante doze anos, tenho bons e maus momentos, mas são os bons que interessam. Recordo-me do primeiro “boom” que a Feira das Tradições teve quando colocámos as tasquinhas. Na altura, desafiámos dois grupos, o Grupo de Amigos de Pinhel e os Cortiços, este último que ainda lá está hoje, e montámos umas tendas no campo de futebol. Esse ano nevou, mas o espírito ficou, acendemos fogueiras e assámos chouriças. Os pinhelenses gostaram daquele espírito e do convívio proporcionado e no ano seguinte já não precisamos de convidar ninguém, tivemos imensa gente que queria ter as tascas, tal como hoje temos. Este ano vamos ter 21 tasquinhas e restaurantes. Esse caso marcou-me de uma forma positiva porque percebi que foi ali que a feira deu o “boom” e depois o espírito das tasquinhas e dos espetáculos permitiu que se criasse uma vida social à volta do certame. Para mim foi o momento mais feliz, pois conseguimos dar a volta à feira.

P- Este ano vão ter um espaço específico para os produtos agrícolas, é uma aposta no setor primário do concelho? É por aqui o caminho para dar a conhecer os produtos que se fazem nas terras de Pinhel?

R- O setor primário é seguramente a aposta do concelho de Pinhel, é ele que faz girar a nossa economia e, portanto, nunca podemos abandoná-lo. Temos feito uma aposta muito forte no concelho e vamos continuar a fazê-lo, mas também percebemos que agora que vamos passar para outra fase de promoção dos vinhos de Pinhel temos de juntar aos vinhos outros produtos, como as cavacas, o mel, entre outos, num espaço próprio. Este modelo em que apresentamos o que de melhor temos no concelho vai depois acompanhar-nos a nível nacional ou internacional, onde a Câmara estiver a divulgar o concelho. Vamos desenvolver este espaço com os vinhos e com os nossos produtos de excelência. Eu diria que nada como beber um bom vinho de Pinhel acompanhado de uma cavaca de Pinhel.

P- Que vai acontecer ao Centro Logístico de Pinhel quando a Feira das Tradições sair? Vai ser para as empresas de Pinhel, nomeadamente as que já estão instaladas?

R – Temos um contrato de seis anos com a empresa que está instalada no centro logístico. Estamos à espera de uma outra fábrica que virá logo a seguir à feira e, se tudo correr bem, no próximo mês teremos uma unidade que nos vai ajudar a escoar os produtos do setor primário. São boas notícias para o Centro Logístico. Há ainda espaço para acolher mais empresas. Quando procuro empresas para se instalarem em Pinhel eu tenho que levar algo em troca, por exemplo, apresentar instalações pesa na decisão e por isso o Centro Logístico será sempre importante para cativar empresas.

«Novo pavilhão vai baixar quase para zero os custos logísticos da feira»

P- Quando pensa lançar a obra do futuro pavilhão multiusos e quais são os detalhes previstos neste momento?

R – O que posso dizer é que tentaremos que seja o mais rápido possível. Em termos de custos, tendo em conta o que se gasta hoje na realização da Feira das Tradições, eu diria que o pavilhão está pago nos próximos quatro a cinco anos, portanto é um investimento que tem que ser urgente para Câmara Municipal de Pinhel. Com os patrocinadores que temos para a feira e com o que cobramos de entrada, há uma parte da feira que está praticamente paga, incluindo os espetáculos. Onde gastamos mais é no aluguer dos stands e das cozinhas. Esse dinheiro tem que ser obrigatoriamente investido nesse pavilhão e por isso acredito que, num curto espaço de tempo, o município terá que procurar e encontrar soluções para arrancar com o pavilhão o mais rapidamente possível.

P- Neste momento têm de pagar uma renda para utilizar os pavilhões da antiga Rohde, o que significa que ao deixarem de pagar essa renda vão passar a ter uma almofada financeira?

R- Mais do que a renda, eu refiro-me ao que alugamos para o evento. Temos de fazer o aluguer de todo o material, o que ronda os 250 mil euros. A feira tem um custo maior, mas com os patrocinadores este valor é amortizado. Com o pavilhão podemos reduzir para quase zero os custos logísticos da feira.

«Vamos criar um parque TIR em Pínzio»

P – A Câmara Municipal quer ter uma “âncora” junto à autoestrada A25 na freguesia de Pínzio, o que é que está a ser feito para aproveitar a A25 no concelho?

R- Já comprámos terrenos para a instalação de empresas, e vamos ter um parque TIR na freguesia, que acho que também é importante. É ali que os camionistas saem para a Estrada Nacional 16 e entram para a autoestrada. Com este parque TIR, que terá cerca de cinco hectares, procuramos ajudar do ponto de vista económico aquela freguesia. Mas em relação a esta zona empresarial, que terá prevista uma dimensão de 15 hectares, teremos de acabar de adquirir os últimos terrenos através de uma parceria entre a Câmara e a Junta de Freguesia, sendo que o município paga os terrenos e a Junta faz a aquisição. Queremos criar um projeto rápido para aquela área e à medida que vão aparecendo empresários interessados, nós vamos disponibilizando o terreno e fazendo as infraestruturas. Isto, no caso do quadro comunitário não nos apoiar. Independentemente de ter ou não ajudas, nós vamos fazê-lo, mas com o loteamento de uma forma faseada, consoante as necessidades do momento. Os trabalhos avançam assim que os empresários mostrarem interesse. Este é um trabalho que já começou a dar frutos. Já tive uma reunião com um jovem empresário que quer vir para Pínzio e que vai estar na Feira das Tradições com uma unidade de chocolates artesanais, estando virado para os produtos endógenos do concelho.

P- É uma aposta de futuro?

R – É seguramente. Eu acho que temos de apostar na criação de emprego para impedir que as pessoas saiam do concelho.

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