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«Temos medo de cair ainda mais no esquecimento»

O INTERIOR quis saber o que pensam os cidadãos de quatro aldeias da região que deixaram de ser freguesias. As opiniões dividem-se, mas há uma preocupação comum: as populações não querem perder identidade nem serviços.

Pêro Soares (Guarda), Colmeal da Torre (Belmonte), Freches (Trancoso) e Ervas Tenras (Pinhel) são algumas das freguesias que deixaram de o ser com a entrada em vigor do novo mapa administrativo. Esta reorganização, que durante vários meses dividiu opiniões e juntou territórios, saiu finalmente do papel e, no passado dia 29, os moradores já votaram para eleger o executivo da sua nova freguesia.

Foi o que aconteceu em Pêro Soares, que se juntou às aldeias vizinhas de Vila Soeiro e Mizarela, onde vai ficar a sede da freguesia, encabeçada por Armindo Fernandes, o último autarca da Junta do outro lado do rio Mondego. No entanto, os moradores de Pêro Soares não se mostram preocupados com as alterações, pois acreditam que tudo vai ficar na mesma. «Vai correr tudo bem porque somos amigos uns dos outros», refere Maria Cunha. Segundo a habitante, os três eleitos, cada um de sua aldeia, já descansaram a população: «Se a junta ficasse só numa aldeia ia causar algum transtorno, mas eles têm cá uma reunião todas as semanas e podemos ir lá», adianta. Já em relação à reforma administrativa, a moradora diz ter concordado «porque já temos poucos habitantes e assim estamos todos juntos».

Também José Marques, que encontramos alguns metros mais adiante, acredita que a junção não vai trazer problemas: «Ainda não vi isso com bons olhos, mas parece que se trata tudo aqui na mesma», afirma. «Estávamos habituados a ser freguesia, pelo que com respeito a unirem-se ainda não estou dentro do assunto», frisou o morador, que normalmente se desloca à cidade sempre que precisa de alguma coisa. «Pouco me tenho servido de papéis daqui da Junta, não temos precisado de nada felizmente», acrescenta José Marques.

Aldeias mais pequenas temem ser esquecidas

O município de Belmonte perdeu uma das suas cinco freguesias, com o Colmeal da Terra a juntar-se à freguesia urbana da sede de concelho, solução que não agradou a todos. Joaquina Gomes é muito crítica da mudança: «Queria que continuássemos como freguesia, aceitei muito mal», confessa a moradora, salientando que «uma aldeia próxima de nós, com menos habitantes, não foi agregada», referindo-se a Maçaínhas. Algo pessimista em relação ao futuro do Colmeal, a habitante aponta o dedo à reforma administrativa: «Acho que devia ter continuado como antes, não concordo com as agregações», critica, reiterando que «não sabemos como vamos ser integrados, pensamos é que vamos ser mais maltratados».

Por sua vez, Luciano Gonçalves, proprietário de um dos cafés da aldeia, espera que os assuntos possam continuar a ser revolvidos no Colmeal: «Se fizerem o que prometeram, de ficar com as mesmas condições, acho que está muito bem», declara, lembrando que «há pessoas que não têm transporte ou que não se podem deslocar, pelo que se tivessem de ir a Belmonte seria um transtorno». Quanto à reorganização administrativa, o comerciante não tem dúvidas: «Acho que foi mal feito porque, sendo freguesia, a terra tem outro valor que não tem agora. Por si já é fraca, sem freguesia pior fica», lamenta.

No concelho de Pinhel, a junção de Ervas Tenras e Cerejo levou a uma nova denominação da freguesia, que passa a ser conhecida como Terras do Massueime. Para Jessica Rodrigues, com residência em Ervas Tenras, a união tem aspetos positivos e negativos: «É uma coisa boa porque Cerejo tem sido bastante ativa, mas vamos perder a atenção especializada que tínhamos», considera. «Temos medo de ser uma anexa, pois, a partir desse momento, caímos ainda mais no esquecimento», antecipa, comparando a dimensão das duas aldeias vizinhas. Na opinião desta estudante em Braga, a reforma administrativa é importante pois «corta em gastos, o que se repercute a nível nacional, e, de certa forma, acaba o militarismo nalgumas juntas», defende. Todavia, a habitante acredita que as freguesias mais pequenas deveriam ter sido protegidas: «Espero que sejam salvaguardadas, se não acabam por perder identidade, além da atenção que tinham», adverte.

Em Trancoso, a união das aldeias de Freches e Torres é uma das seis registadas no concelho. Maria Sousa, que reside na primeira, considera que «vai ficar tudo na mesma, o facto de estar agregada talvez os beneficie mais a eles [Torres], pois são um povo mais pequeno». A reorganização tem sido um tema frequente na localidade, uma vez que «as pessoas questionam o que vai mudar e qual a vantagem», adianta. Ainda assim, a moradora concorda com a redução do número de freguesias, pois «o país está em crise e, como há menos gente nos executivos das juntas, economiza-se em termos de salários», salienta Maria Sousa.

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