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Tão básico, como ver e… copiar. Ou da intervenção do Estado no estado da educação. (I)

O descontentamento perante as medidas que têm vindo a ser tomadas pela Ministra da Educação, não sendo generalizado, parece. Erguem-se as vozes de desconsolo de quem prefere a inércia e os privilégios da rotina e apagam-se as vozes dos que sempre se esforçaram por fazer melhor. Urge, pois, fazer ouvir a vontade dos que querem medidas reformadoras mais profundas e consequentes, dos que querem uma maior intervenção directa do Estado no estado da educação.

Pela primeira vez, desde há muito tempo, um ministro da Educação tem a coragem de iniciar reformas há muito sentidas como necessárias. A introdução do Inglês nos primeiros anos do ensino básico, a atenção redobrada dada à Matemática, o incentivo à leitura e a reposição do normal curso das aulas quando os professores estão ausentes vieram vivificar a esperança.

Mas estas acções pontuais não chegam. Para preencher o fosso que nos separa da restante Europa, o governo não se pode deter com complacências e adiamentos motivados por um eventual medo de vir a perder eleições. É necessário fazer mais, muito mais. E é premente que o Ministério se aperceba de exactamente quanto.

Sabe-se que temos resultados deficientes relativos ao sucesso escolar em geral, ou seja, à qualidade de formação que o ensino básico obrigatório oferece ao país. Sabe-se ainda que tentativas anteriores de melhoria não atingiram as metas desejadas. Por outro lado, sabe-se que os resultados têm sido muito melhores em outros países europeus.

Não se poderá, portanto, chamar solução simplista à conclusão que decorre pragmaticamente destas premissas e que, sem eufemismos, podemos sintetizar como sendo copiar e implementar em Portugal os processos educacionais de quem provou ter maior sucesso do que nós.

Não poderá servir de argumento dissuasor dizer que também eles têm problemas, pois já vivemos o suficiente para compreender que nada é totalmente perfeito e que nada é totalmente estático. Nem ninguém já acredita se nos disserem que a realidade da restante Europa é drasticamente diferente da nossa e que, por consequência, o que é bom para eles não nos serve a nós.

Não nos podemos mais dar ao luxo de querermos ser originais, com poderes descentralizados para localmente imaginarmos pequenas soluções únicas. Trata-se da educação de toda a população de um país. As respostas a dar prendem-se com uma educação alicerçante que permita igualdade de oportunidades internamente e nas relações com a restante Europa.

Copiar, ir lá buscar, transpor é a única forma de conseguir galgar o desnível que existe entre o nosso sistema (se é que existe algo digno deste nome) e o deles. Só assim se conseguirá ultrapassar a décalage existente. Depois, uma vez as medidas importadas e aplicadas, já poderemos dialogar e trabalhar em pé de igualdade com os restantes parceiros comunitários de modo a adequar o que tiver sido implementado às circunstâncias, sempre em mutação, da sociedade contemporânea. Então, sim, já poderemos ser criativos.

É necessário travar, de vez, os passos desorientados e desconexos das reformas pontuais e superficiais. A ministra não se pode ficar por duas ou três medidas que apontam para uma mudança. O que nós queremos é a própria mudança.

Por: Luísa Queiroz de Campos

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