O que parecia inevitável tornou-se mesmo uma certeza após o Governo confirmar a subida da taxa do IVA na restauração de 13 para 23 por cento. À semelhança do que sucede um pouco por todo o país, os empresários do ramo no distrito da Guarda olham para o futuro com incerteza. Entre vários comerciantes ouvidos por O INTERIOR, há quem admita ter que despedir pessoal e quem tema pelo futuro dos seus estabelecimentos.
Para António Gonçalves, proprietário do restaurante “A Colmeia”, a subida do IVA é «a pior barbaridade que este ramo sofre nos últimos anos», pois é uma «subida astronómica que se vai refletir no já depauperado bolso dos portugueses». O dono do estabelecimento localizado nos Galegos (Guarda) sustenta que «10 por cento é uma subida muito acentuada» e só vê duas alternativas quando a medida entrar em vigor: «Ou fazemos refletir nos preços ou suportamos o aumento do IVA», sustenta. De resto, o empresário prevê «o encerramento de cerca de 50 por cento dos restaurantes, em termos nacionais, porque vai ser impossível a sobrevivência de algum tipo de restauração menos honesta». No seu caso, perspetiva um «abatimento ainda maior nas vendas», daí não esconder que, «em princípio, vou ter de mandar dois funcionários para o desemprego porque é impossível continuar com eles».
Um desfecho que, por ora, o proprietário do “Belo Horizonte”, no centro histórico da cidade, não quer equacionar: «Vamos aguardar. Não temos assim tanto pessoal e o núcleo duro é constituído por pessoas da família. Só com o decorrer do tempo é que vamos ver como agir. Temos é que apostar cada vez mais na qualidade para que, pelo menos, as pessoas com maior poder de compra possam continuar a vir», refere José Castanheira. O empresário considera que o setor «vai atravessar um período de crise», até porque com «todas as medidas que têm sido anunciadas, como o corte dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos, de certeza absoluta que vai haver menos clientes». Fora da capital de distrito, o panorama não é muito diferente. O proprietário do “Lá em Casa”, em Gouveia, considera que a subida do IVA é «mais uma machadada para a já difícil situação da restauração no interior do país».
Carlos Esteves antevê «muitas dificuldades», havendo «casas a fechar e outras a despedir pessoal». No seu caso, admite estar com «receio», mas garante «tudo fazer para aguentar esta fase e vamos ter que “inventar” formas de chamar clientes». Assegura que, «por enquanto», não equaciona despedimentos e que a prioridade é reduzir custos. Para tal, pondera «baixar ordenados» e gastar menos gás e eletricidade. No “Área Benta”, em Trancoso, o proprietário prevê o «caos» no sector com a «falência de muitas empresas». Sustenta que a subida do IVA representa um «roubo aos portugueses e à restauração em particular. Será quase impossível sobreviver», admite. Júlio Rente adianta que já está «a passar por dificuldades», daí prever despedir pessoal e recear o próprio «encerramento da empresa». O empresário não compreende a posição do Governo, até porque «uma das receitas do país vem do turismo, da hotelaria e da restauração», que, é um «bem essencial».
«Obviamente que será inevitável ter menos clientes», considera, pois a subida do IVA na restauração junta-se a «todo o conjunto de medidas que está a ser tomado», exemplificando que «há muitas famílias que vão ficar sem quatro salários por ano. Se não houver consumo como é que a economia pode crescer?», questiona. A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares estima que a subida do IVA pode levar ao encerramento de 54 mil estabelecimentos e à perda de 120 mil postos de trabalho.
Ricardo Cordeiro