A Sotave – Sociedade Têxtil dos Amieiros Verdes, S.A., sedeada em Manteigas, encontra-se desde a última segunda-feira em “lay off” e por um período que vai estender-se durante os próximos quatro meses. Uma medida que afecta directamente 124 dos 239 operários da empresa de lanifícios que irão ficar em casa simultaneamente, ficando parte dos seus salários a cargo da Segurança Social. Os trabalhadores e o Sindicato Têxtil da Beira Alta (STBA) já contestaram esta opção, mas a administração garante que o futuro da empresa não está em causa.
Nos próximos quatro meses, os 124 funcionários abrangidos pelo “lay off” estão divididos em dois grupos de 62 para exercer funções em regime de rotatividade quinzenal. A notícia apanhou de surpresa trabalhadores e sindicato, como adianta Carlos João, dirigente do STBA. «Nunca pensei que a Sotave pudesse vir a utilizar o “lay off”, até porque não há justificação para essa medida tão drástica por aquilo que nos foi apresentado na Comissão Sindical», refere. O sindicalista diz mesmo que uma redução de 16 por cento na produção da Sotave «não fundamenta a aplicação do “lay off”», uma vez que a quebra verificada na facturação no início do ano «é habitual» nas empresas de lanifícios visto ser uma época de feitura de amostras, o que implica a redução do volume de negócios. Neste sentido, o recurso ao “lay off” é encarado apenas como uma «mera estratégia de gestão financeira da empresa para aproveitar o pagamento pela Segurança Social de parte dos salários», acusa Carlos João. De resto, a Sotave é a primeira empresa têxtil do distrito da Guarda a aderir ao “lay-off”, depois da Rohde, fábrica de calçado situada em Pinhel. Também Armando Martins, da Comissão de Trabalhadores, não ficou satisfeito com a decisão da empresa: «Os trabalhadores não concordam mas têm que aceitar porque a lei existe. Aceitamos, porque somos quase obrigados, pois se víssemos na perspectiva da lei que havia alguma coisa que o pudesse impedir, obviamente que iríamos tentar por aí», sublinha.
Em comunicado, a administração da empresa de Manteigas assegura que esta decisão não irá colocar em causa o futuro da Sotave. «A crise conjuntural vivida no primeiro semestre de 2003 leva o Conselho de Administração, numa atitude de prudência, a tomar medidas de carácter transitório, preventivo e construtivo, no decurso do primeiro semestre de 2004, de modo a minimizar estrangulamentos económicos e financeiros para a empresa», refere o documento. Os administradores acreditam ainda que os esforços de internacionalização da sociedade, uma prioridade da Sotave, irão permitir ultrapassar a situação «a breve prazo». O grupo Amieiros Verdes, que integra também a Lanifícios Império e está cotado no mercado sem cotações da Euronext Lisboa, é tido na região como estável, apesar de em 2002 e 2001 ter apresentado prejuízos. É, de resto, um dos maiores empregadores da região, pelo que qualquer vicissitude terá um enorme impacto social. A Sociedade Têxtil dos Amieiros Verdes foi fundada em 1960, após a fusão de algumas empresas existentes em Manteigas com vista a um melhor dimensionamento do processo produtivo.
Ricardo Cordeiro