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Solar dos Brasis já foi vendido

Uma empresa de turismo, com sede em Leiria, adquiriu edifício do século XVI em Torre de Terrenho

O Solar dos Brasis, em Torre de Terrenho, no concelho de Trancoso, foi finalmente vendido. Apesar da transacção ainda não estar completa, por falta de alguns documentos, tudo indica que dentro de um mês o imóvel já esteja nas mãos da empresa “Luso Viagem, Agência de Viagem e Turismo, Lda”, com sede em Leiria.

Segundo António Oliveira, vice-presidente da Câmara de Trancoso, a autarquia foi consultada por uma agência imobiliária, no início deste ano, por haver um eventual interessado em adquirir o solar. «Mas exigimos que fosse identificado o comprador e fomos informados que se tratava de uma empresa na área do turismo», recorda, adiantando terem sido dadas garantias ao município que a intenção dos novos proprietários é «transformar o edifício numa empresa turística». Um argumento que levou a autarquia a prescindir do direito de opção para viabilizar a transacção. Outra coisa não seria de esperar: «A Câmara não tinha disponibilidade financeira para adquirir ou recuperar o solar», refere, acrescentando que foi dado conhecimento da venda ao Ministério da Cultura por se tratar de um imóvel classificado como Monumento de Interesse Nacional. «A tutela deixou prosseguir, tal como nós», indica António Oliveira, considerando que se o imóvel do século XVI for recuperado será «uma mais-valia para o concelho».

No ano passado, “O Interior” noticiou que o Solar dos Brasis estava à venda numa agência imobiliária da Guarda desde Outubro de 2004. Na altura, os proprietários pediam uma avultada quantia, cerca de 800 mil euros. Mas, desta vez, ainda não se conhece o preço pago pelos compradores, que também preferem não revelar mais pormenores porque «ainda faltam alguns documentos», disse fonte da Luso Viagem. O imóvel está classificado pela Direcção Regional de Edifícios e dos Monumentos Nacionais (DREMN), mas encontra-se em elevado estado de degradação há vários anos. Apenas a capela tem sido alvo de algumas reparações por parte daquela entidade. O majestoso monumento guarda inúmeras histórias, tem uma torre, quiçá inspirada no nome da localidade (Torre do Terrenho), jardins com cerca de oito mil metros quadrados e uma capela dedicada a Nossa Senhora da Penha, de estilo barroco, cujo interior está repleto de grinaldas, sanefas e cortinas douradas. O ideal para uma pousada ou para turismo rural, dizia o “slogan” publicitário da imobiliária, que provavelmente, inspirou os novos compradores.

As estórias dos Brasis

Conta a história que aquele majestoso solar pertencia a Luís de Figueiredo Monterroio, natural de Santa Marta de Penaguião, antigo capitão do mar. Numa das suas várias viagens, de regresso do Brasil, onde tinha negócios em minas de ouro, foi apanhado por uma tremenda tempestade e quase metade da frota naufragou. Ele salvou-se e, chegado a Portugal, prometeu a Nossa Senhora da Penha construir um solar ou algo magnífico em honra do seu oráculo. Assim, surgiram o Solar dos Brasis e a capela dedicada à sua salvadora, tudo por 18 mil cruzados. A construção demorou dois anos, sendo que as pedras vinham da montanha em juntas de bois «que já estavam ensinadas e não eram conduzidas por ninguém, passavam o dia naquela rotina», rezam as crónicas. Da maior pedra nasceu o brasão, mas por não ter as medidas certas acabou por ficar onde ainda hoje está, no largo de S. Luís, junto à capela. Conta-se que foi onde Luís Monterroio pagou a jornada aos seus trabalhadores.

Contudo, aos 56 anos, o devoto dedicou-se ao sacerdócio, não se sabe bem porquê. Por isso na capela estão duas imagens em que está fardado de capitão (do lado direito do altar) e com as vestimentas de padre (do lado esquerdo). É também o local onde está sepultado, juntamente com a sua filha, Ursúla Matilde Angélica. As paredes da capela têm pinturas que aludem ao milagre e às tormentas que Luís de Figueiredo Monterroio viveu nos mares. Por lá, ainda há também gavetas cheias de linhos e muitas estórias cobertas por teias de aranha. A cornija da torre está ornamentada com quatro grágulas de canhão, enquanto vários santos preenchem o tecto da bela sala do Capítulo onde outrora o próprio Luís Monterroio presidiu a várias liturgias. Actualmente, o Solar dos Brasis pertencia há 20 anos a dois irmãos, radicados no Norte do país, tendo sido transmitido de geração em geração mas através dos sobrinhos, pois não havia descendentes directos.

Patrícia Correia

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