A escolha de Francisco Assis para liderar a lista do PS pelo círculo da Guarda às legislativas de 27 Setembro serenou a polémica escolha dos candidatos por parte da Federação local, mas não colocou um ponto final no assunto.
Desta vez foi Eduardo Brito quem se juntou à contestação por causa do camarada “pára-quedista”, vindo directamente do Parlamento Europeu. «A Guarda voltou a perder e sem luta e dignidade», denuncia o presidente da concelhia de Seia e candidato derrotado por José Albano, para quem esta lista resolve «alguns problemas particulares, mas ignora por completo os do distrito». O também presidente da Câmara de Seia tinha feito campanha a favor de um cabeça-de-lista residente no distrito e lamenta, por isso, que o PS «não reconheça que na Guarda há pessoas com qualidade e capacidade para representar e defender o distrito no Parlamento». A situação não é novidade por estas bandas, onde o PS nacional tem imposto quase sempre um cabeça-de-lista – as excepções aconteceram com Abílio Curto e Maria do Carmo Borges quando estes forma presidentes da Federação. Mas, em 2009, as circunstâncias são outras e, aparentemente, pouco favoráveis aos socialistas.
«Esta é uma lista com a qual será mais difícil chegar à maioria», vaticina Eduardo Brito, recordando que «as pessoas passam e o distrito fica». Contudo – como é de bom nestas ocasiões –, o dirigente promete «lutar por ela [lista] com vontade e determinação», mas sobretudo pelo «reconhecimento das capacidades e pela dignificação do distrito». Um desafio que admite «demorar mais algum tempo», mas que acredita poder ganhar. A polémica também parece ter amainado na concelhia da Guarda: «Teria preferido uma lista cujos dois primeiros candidatos fossem do distrito e o cabeça-de-lista da Guarda. Francisco Assis é uma imposição do secretário-geral do partido [José Sócrates] e essa lista foi aprovada na Comissão Política Nacional, pelo que o assunto está encerrado. Agora vamos lutar para o PS possa vencer as legislativas e as autárquicas», declarou Virgílio Bento na segunda-feira. No entanto, o líder da concelhia da capital de distrito não deixou de referir que os socialistas da Guarda mantém a sua posição inicial, isto é, que a lista aprovada «não é representativa do distrito».
Mesmo assim, garante que Francisco Assis, «como todos os elementos da lista», poderá contar com «o apoio, a intervenção e a dinâmica da concelhia da Guarda». Quem já não entra na corrida é André Figueiredo, que na sexta-feira, após saber da imposição de Assis, abdicou do lugar para que a Guarda (com Rita Miguel) não descesse ao modesto quarto lugar. «Espero que tenha contribuído para a estabilidade desta lista e para que o partido não fique fragilizado nestas eleições», declarou nessa noite. Além do mais, o também secretário nacional adjunto do partido acrescentou que esta função ocupa-lhe «muito tempo». Quanto a Francisco Assis, as suas primeiras declarações foram: «Fui convidado por José Sócrates para aceitar encabeçar a lista de deputados pelo círculo da Guarda, e, uma vez eleito, representá-lo-ei com muito orgulho, mas não deixarei de concentrar a minha intervenção política no Porto, onde resido», declarou ao jornal “Público”.
A transferência do ex-eurodeputado do sétimo lugar da lista do Porto para o primeiro na Guarda foi uma das surpresas da noite. Mesmo assim, o antigo presidente da Câmara de Amarante recusou a ideia de ser um “pára-quedista”, atribuindo esta colocação a «uma tradição da política portuguesa».
Luis Martins