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«Só acredito numa indústria de mão-de-obra intensiva na Europa quando é capaz de ter um produto diferenciado pela moda e pelo design»

Cara a Cara – Entrevista

P-A dinamização do comércio tradicional é uma das grandes apostas da Associação Empresarial da Covilhã, Belmonte e Penamacor. Que outros projectos estão previstos?

R-A Associação tem muitos projectos em mente. O comércio tradicional é um deles, não só na Covilhã, mas também em Belmonte e Penamacor. Quanto aos outros projectos, uma das grandes apostas está na formação profissional e outra no apoio às empresas, onde dispomos de vários tipos de consultadoria e temos resposta para muitas situações. Os projectos da AECBP são de âmbito alargado e tentam cobrir o vasto leque de empresários que são nossos associados. Como professor há muitos anos, sempre acreditei que o futuro passará pela formação das pessoas. Considero formação não só a académica mas a formação geral. Daí a nossa grande aposta na formação de quadros médios, superiores e mesmo do proletariado em regime pós-laboral. Aliás, vamos construir em breve um centro de formação em instalações próprias da AECBP.

P-Onde é que será instalado esse centro de formação?

R-Depois de uma substituição de terrenos, penso que nos iremos instalar atrás do CITEVE. Vai ser um edifício construído de raiz que albergará não só o centro de formação mas também a sede da AECBP. A actual não deixará de existir, mas passará a servir como centro de apoio a algumas actividades que ainda não estão definidas, nomeadamente para alguma formação e para o Gabinete de Dinamização Empresarial. É uma questão ainda a gerir no futuro.

P-Depois da crise económica que se fez sentir sobretudo no ano passado, acha que os empresários e os comerciantes estão mais confiantes?

R-É sempre muito complicado definir o que é uma crise económica. Penso que é mais fácil falar da adaptação às novas realidades. Vivemos numa sociedade em mudança e tal como dizia Darwin, «o ser mais inteligente é aquele que é capaz de se adaptar à mudança». Penso que não devemos falar de crises, mas de uma mudança de atitudes e mentalidades. As pessoas, os empresários e o mundo em geral têm que se adaptar a esta mudança. Acredito por isso num futuro sem grandes problemas.

P-A indústria têxtil e de confecção é sempre a mais afectada nestas mudanças. Acredita que ainda é possível esta indústria sobreviver na região?

R-Não podemos confundir confecção com têxtil. Estamos a falar de duas indústrias distintas. Numa estamos a falar de mão-de-obra intensiva e na outra de uma indústria de capital intensivo. Só acredito numa indústria de mão-de-obra intensiva na Europa Ocidental quando falamos de uma indústria capaz de ter um produto diferenciado pela moda e pelo design. O produto convencional e tradicional terá de ser produzido nos países de mão-de-obra barata. No que toca à indústria têxtil, a mão-de-obra tem muito pouco significado. Falando concretamente no meu caso, pago mais de energia do que em mão-de-obra e penso que o têxtil é uma indústria com futuro na Europa Ocidental e na Península Ibérica. Daí continuar a minha aposta neste sector.

P-Acha que a criação de uma marca para diferenciar produtos da Covilhã poderá dignificar a indústria têxtil do concelho?

R-Depende do mercado a que nos estamos a referir. Se falarmos do mercado português, penso que a marca Covilhã é muito importante, tendo em conta que se fala também da Serra da Estrela e de uma região que todos conhecem, pois identificam uma zona e uma cultura do interior do país. Quando falamos de um mercado mais alargado, se nos desviarmos dois ou três mil quilómetros de Portugal, ninguém sabe o que é a Covilhã ou Portugal. Aí fará mais sentido falar de uma marca Portugal. Agora, quando falamos na Península Ibérica penso que a marca Covilhã será importante.

P-É o proprietário da Fitecom, uma das maiores empresas têxteis da região. Qual o seu segredo?

R-É o trabalho. O sucesso passa sempre por muito trabalho, muito empenho e muita dedicação por aquilo que se faz.

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