Arquivo

Sindicato suspeita que Vodrages seja adquirida sem trabalhadores

STBA reclama alargamento do período de desemprego e a contagem do tempo de trabalho desde a Vodratex

O Sindicato Têxtil da Beira Alta (STBA) receia que a falência da Vodrages, decretada pelo Tribunal de Seia na semana passada, possa permitir que «alguém fique com a empresa sem os trabalhadores». A suspeita foi revelada na última sexta-feira, à margem da visita do secretário de Estado da Indústria e Inovação a Seia, a quem Carlos João entregou uma carta sobre o processo e um pedido de ajuda. O dirigente não esquece que um dos proponentes – a Beiralã – defendia a insolvência da fábrica têxtil para avançar depois com um processo de recuperação: «Temo que tudo tivesse sido programado para este desfecho, pois é muito mais difícil adquiri-la com 100 funcionários», sustentou.

Na missiva, o STBA faz o historial da empresa de Vodra e do investimento público ali aplicado, para além de reivindicar uma portaria sobre o alargamento do período de desemprego, como conseguiram em 1997, durante a anterior crise do sector. «A insolvência veio penalizar os funcionários, que também estão a ser prejudicados na contagem do tempo de trabalho para beneficiar do Fundo de Garantia Salarial», adianta o sindicalista, que julga tratar-se de um mal-entendido da Segurança Social da Guarda. «Para nós, deve contar o tempo desde as antecessoras da Vodrages, eles entendem o contrário e que o Fundo apenas diz respeito às novas empresas. O que achamos errado, pois o próprio tribunal considera o tempo de antiguidade desde o início», acrescenta. De resto, Carlos João considera que a última Assembleia de Credores foi «um pesadelo», pois nada fazia prever a declaração de insolvência. Em cima da mesa estavam duas propostas. João Semedo pretendia adquirir a empresa por por dois milhões de euros, a pagar em duas fases, ou por 1,7 milhões a pronto pagamento. Já a Beiralã oferecia um milhão. Ambos garantiam ainda a manutenção da totalidade dos postos de trabalho existentes aquando do fecho da empresa, em Janeiro último.

Contudo, a Beiralã, têxtil da Covilhã que adquiriu há uns anos a antiga Fisel, também de Seia, pretendia integrá-los de imediato, enquanto João Semedo tencionava reiniciar a laboração com apenas 55 funcionários e empregar os restantes só em Março de 2006. Por outro lado, Rui Cardoso, administrador da primeira interessada, anunciou que tencionava dividir a Vodrages em quatro empresas, de tecelagem, fiação, acabamento e uma última de tinturaria, para as quais disse já ter parceiros. Mas estas condições não foram suficientes para os credores, sobretudo os maiores, como o Montepio e o IAPMEI, que não terão conseguido garantias satisfatórias sobre os seus créditos, decorrentes de empréstimos concedidos nos últimos meses. «Fomos enganados este tempo todo para evitar que os trabalhadores se mexessem, convencidos de que tudo estava resolvido», lamenta Carlos João, que acusa os credores e demais instituições intervenientes no processo de terem inviabilizado a empresa, cujo património está avaliado em cerca de 10 milhões de euros. Sobre a Vodrages pende uma hipoteca de 1,2 milhões de euros e um passivo próximo dos 10 milhões de euros. Já os cerca de 100 trabalhadores reclamam apenas um ordenado em atraso e 50 por cento do subsídio de Natal. O dirigente sindical admite haver «poucas possibilidades» para recorrer desta sentença.

Sobre o autor

Leave a Reply