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Sinapses freudianas

Observatório de Ornitorrincos

Acabou a época festiva e vem aí a época furtiva – temos eleições daqui a 31 dias. Como diria João de Deus, “mais um mês mói a mãe”. Depois do Natal, o nabal, a seguir ao Reis Magos no Estábulo, os Reis das Vacas Magras. Depois de um mês (Dezembro) em que só houve olhos para as vendas, neste outro que se lhe segue (campanha eleitoral) já contamos com vendas para os olhos. Um chefe não é um chef, mas um xerife pode ser um cher, if only… Os trocadilhos valem fortunas nos trocaderos. Os trocos dão jeito para máquinas de tabaco e maquinistas de longo curso. Ou de cursos longos, como os daqueles alunos que demoram mais tempo a fazer uma licenciatura que o Ministério a desfazê-la.

Agora que se aproximam as eleições veremos um tópico recorrente na discussões noctívagas dos nossos telejornais: os mistérios dos ministérios. Os políticos vão agora todos falar em nome dos portugueses, misturando tudo no mesmo tacho com colher de pau feito. É a hora do arroz malandrinho de povo. No fim, com o sangue dos vencidos servem-se papas de sarrabulho e faz-se uma caldeirada com este país de cadeiradas. E quem diz danças (e quedas) de cadeiras, diz dança do ventre. Um Portugal de futuro quer-se também feito de meninas bamboleantes de umbigo à mostra.

Haverá na dança mudança? Não escreveu Camões “Todo o mundo é feito de mudança”? Este homem era um lírico, responderá o leitor que veja a :2. Se Luís Vaz escrevia a pensar nas mulheres, este é o verso mais típica e universalmente feminino. Nenhuma fêmea da espécie humana se satisfaz completamente sem fazer mudanças na disposição do quarto de dormir, da sala de estar e da casa de banho várias vezes ao mês. Há lendas urbanas que falam de esposas prestimosas que mudam com mais frequência a mobília de casa do que trocam de sapatos ou de roupa interior. Mas se uma mulher que muda é a realidade, uma mulher muda só pode ser um sonho. E se a imaginarmos com um sino ao pescoço, é porque estamos a ter um sonho malhado.

Diz o povo “Quem casa quer casa, ou de jogo ou de putas”. Um apartamento é um aparte à mente, é uma foca de dois gumes. “Porra”, disse a foca em moldavo, “afinal tu és um leão-mourinho.” O gigantone levantou-se e saiu horta fora. Entretanto, uma rapariga míope, baralhando Basílica com Serra, celebrava nas Penhas da Saúde o seu matrimónio com um pinguim marreco, que ela julgava ser o seu prometido, de ressaca e com um smoking alugado. O noivo abandonado esperou longos oito minutos antes de decidiu abandonar a vida rotineira e sedentária para enveredar pelo mundo frenético das claques do Boavista e da Contabilidade Fiscal. Acabaria mesmo por se enamorar de uma fã que estava presente as todas as suas actuações nas várias repartições de Finanças do norte do país. O encore, sempre igual, era preenchido na totalidade pela recitação do velho refrão dos GNR “Eu declaro morte ao Sul”, razão pela qual estava obrigado a pagar uma taxa especial de direitos de autor a Miguel Sousa Tavares.

O plágio, do francês plage, é uma praga, palavra checa que significa “esta cidade é espectacular porque os russos tiveram muito cuidado quando entraram aqui com os tanques e só destruíram os nossos sonhos de liberdade; os monumentos ficaram inteirinhos.” Os húngaros já sabiam desde 1956 que a salada russa é como a vingança: serve-se fria, com maionese especial do Kremlin.

EU VI UM ORNITORRINCO

Jorge Sampaio

Espécie bilingue e bimoral. Em Portugal parte a loiça toda por causa de confusões políticas, na China aceita candidamente as prisões sem culpa formada e as execuções públicas. Espécie bem-educada, guarda as caneladas e cotoveladas para aqueles que com ele coexistem no mesmo habitat.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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