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Silêncio, por favor!

Crónica Política

Se há uns meses a indigitação do Dr. Pedro Santana Lopes para chefe do executivo era pouco provável – pela fé que, à data, depositávamos na opção do Presidente da República e nas reservas que dos diferentes quadrantes entoavam para abortar tal possibilidade -, concretizada a nomeação e empossado o restante elenco ministerial, a expectativa geral na durabilidade da sua governação resultou definitivamente menor.

Menor, a apostar na dificuldade do primeiro-ministro em atrair e recrutar do seu habitat pessoal para o político, individualidades com reconhecidas qualidades intelectuais e profissionais e perfil ministerial.

Mas que este seria um Governo de quinta escolha já todos contávamos, agora que, para além da sua óbvia impreparação, tantos dos ministros manifestassem despudoradas vontades totalitárias não esperávamos ver num Governo democrático do século XXI.

As políticas deste Governo, quase na totalidade desajustadas das realidades social e económica, à parte de todas as legítimas contestações, poderão merecer um qualquer desagravo.

O que não é sequer de conceber é a tentativa do mesmo, decorridos largos anos de democracia, subverter as suas regras e os seus elementares valores.

O desejo de controlar tudo o que mexe, a censura contra todos os que, discordando, se fazem ouvir, torna inqualificável este Governo e embaraça, envergonha quem assiste.

A pressão e a tentativa de condicionamento dos media e dos seus protagonistas, a que vimos assistindo nas últimas semanas, não são exercidas nos ou através dos bastidores, são proclamadas e publicitadas pelos senhores ministros com a mesma naturalidade e o mesmo orgulho com que anunciam benesses.

Incapazes de avaliarem o demérito da suas acções, interiorizaram os senhores ministros que o insucesso da sua governação se poderia resolver, silenciando a crítica e amordaçando o temível conspirador – o de sexta-feira, o de sábado e o de domingo à noite.

Não se traduzindo numa prática circunstanciada ou num mero desabafo inconsequente de um qualquer ministro passadista, este Governo assumiu, por inteiro e sem complexos, a censura como a sua palavra de ordem.

Por sua vez, o Sr. Presidente da República, receando esboçar qualquer alerta que possa enquadrar-se no conceito governamental/oficial de “Cabala”, vai permanecendo a gosto, calado.

Posto isto, restará ao cidadão comum questionar-se se lhe assiste, ainda, o direito à indignação.

Estou certa, que sim. Desde que não use da palavra… (Conselho de Ministro)!

Por: Rita Cunha Mendes

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