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Serra deve o nome de Estrela a Alderaban

Descoberta é de arqueoastrónomo português após medir a orientação da entrada dos dólmens existentes no sopé

Alguma vez se interrogou porque é que a serra mais alta de Portugal continental se chama Estrela? Fábio Silva, investigador na University College London, sim e encontrou a resposta entre o céu e a terra. De acordo com a sua tese, o nome deve-se à estrela Alderaban, a mais brilhante da constelação de Touro e que nasce todos os anos em abril.

O arqueoastrónomo chegou a esta conclusão após analisar a posição dos dólmens edificados há seis mil anos em redor da montanha no âmbito de um projeto de mestrado. O estudo foi publicado em fevereiro na conceituada revista científica “Papers from the Institute of Archaeology” e divulgado na semana passada pela Universidade de Aveiro, onde se licenciou em Física. Após medir a orientação de 50 dólmens, sobretudo na zona de Carregal do Sal (Viseu), Fábio Silva constatou que a entrada de todos estes monumentos megalíticos pré-históricos – também conhecidos por antas ou orcas – existentes no sopé da serra está virada para o lugar onde, no horizonte, nasce anualmente a estrela Aldebaran. «Esta estrela, muito brilhante e vermelha, há seis mil anos nasceria exatamente sobre a Serra da Estrela e, talvez mais importante, tinha o seu nascimentos heliacal (“heliacal rising”) nos finais de abril/ínicios de maio», explica.

Ora, nessa altura, o surgimento da Albaran nos céus coincidiria com o início da época em que as comunidades de caçadores/agricultores/pastores da plataforma do Mondego teriam de começar a migração de verão para os pastos da montanha. «Esta observação astronómica funcionaria então como um perfeito marcador sazonal para estas comunidades», sustenta Fábio Silva, lembrando que este tipo de relação entre monumentos megalíticos e a topografia circundante também se observa noutros países da Europa. Mas o investigador não se ficou por aqui e procurou confirmar a descoberta nos registos históricos e nas lendas locais, tendo verificado que «existem várias versões, mas todas andam à volta de um núcleo que se mantém: elas falam de um pastor que vivia no vale do Mondego e que, vendo uma estrela nascer sobre uma serra no horizonte, decide ir atrás dela. Quando chega à Serra o pastor decide dar-lhe o nome de Serra da Estrela», conta.

Quem é Fábio Silva

Licenciado em Física pela Universidade de Aveiro (2006), mudou-se para Inglaterra onde fez um doutoramento em Astrofísica na Universidade de Portsmouth. Seguiu-se um mestrado em Astronomia Cultural na Universidade de Wales que o catapultou para as estrelas. Atualmente, Fábio Silva está a fazer um segundo doutoramento em Arqueologia na University College London e leciona Arqueoastronomia, a nível de pós-graduação, na University of Wales Trinity Saint David. A arqueoastronomia estuda as crenças e práticas dos povos antigos relacionadas com o céu e os astros a partir dos registos arqueológicos que os mesmos deixaram para trás.

Luis Martins Há seis mil anos, a Alderaban nasceria exatamente sobre a Serra da Estrela e sinalizava o início da migração de verão para os pastos da montanha

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