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Será desta que a Câmara vai comprar o “Bacalhau”?

Negócio voltou a ser criticado na última Assembleia Municipal, onde Joaquim Valente não soube dizer quanto vai pagar pelo edifício

Sem surpresa, mas com muitas críticas, a Assembleia Municipal (AM) da Guarda aprovou, por maioria – com dois votos contra e 20 abstenções –, autorizar a autarquia a pagar o edifício do antigo “Bacalhau” à massa insolvente da Gonçalves & Gonçalves. Na última segunda-feira, Joaquim Valente não soube explicar aos deputados quanto vai custar afinal este negócio.

Como noticiou O INTERIOR na semana passada, a compra do imóvel tinha sido acordada por 1,4 milhões de euros, dos quais seriam deduzidas as rendas e o valor das obras efetuadas entretanto. Como a autarquia nunca pagou rendas, o proprietário, que abriu falência, reclama agora mais de 2,2 milhões de euros, uma verba que o administrador da insolvência quer cobrar o quanto antes. Na sessão de segunda-feira, o presidente do município não especificou quanto terá que pagar, apesar de Crespo de Carvalho (PSD) ter perguntado «como vai a Câmara pagar 2,2 milhões se há dez meses não houve dinheiro para 1,4 milhões?». O deputado disse não perceber o «tanto querer na aquisição» do “Bacalhau”, tal como Aires Diniz (CDU), que quis saber «o que justifica esta aquisição em termos da avaliação dos cursos da Ensiguarda e da sua taxa de empregabilidade». Para o eleito do PCP, «felizmente, a lentidão da Câmara impediu este negócio», tendo sugerido que se aproveitasse «para aplicar o dinheiro nas Grandes Opções do Plano (GOP)».

Por sua vez, Jorge Noutel (BE) perguntou qual o valor da dívida em rendas, enquanto Cláudia Teixeira (CDS-PP) desafiou o presidente do município a dizer «se este negócio é bom para a cidade». Na resposta, Joaquim Valente confirmou que há 500 mil euros de rendas em atraso e que esse valor era dedutível no negócio final, que não aconteceu porque «a empresa nunca teve os documentos necessários para concluir o processo aquisitivo». Além disso, «o imóvel tinha um ónus, logo não o poderíamos adquirir com esse encargo», acrescentou. O edil revelou também que, posteriormente, o proprietário discordou dos 1,4 milhões de euros que a Câmara estava disposta a pagar, com base numa avaliação do edifício, pelo que «não houve entendimento». Em defesa da Ensiguarda saiu Pedro Pires. O presidente da Junta de Gonçalo, e diretor pedagógico da Escola Profissional da Guarda, lamentou ter ouvido «coisas desagradáveis, tendo em conta o sucesso do projeto» e adiantou aos deputados que «40 por cento dos alunos da Ensiguarda estão a trabalhar ou ingressaram no ensino superior». O responsável recordou ainda que a Câmara só foi obrigada a comprar o “Bacalhau” porque «a escola foi despejada do IPG».

Picardia sobre Hotel Turismo

Nesta AM, o tema do Hotel Turismo esteve na origem de uma pequena picardia entre Nuno Almeida (PS) e Tiago Gonçalves (PSD). O socialista desafiou o governo PSD/CDS-PP a «honrar o compromisso protocolado» com o município de transformar a unidade num hotel-escola. «O dinheiro existe no QREN porque foi retirado aos municípios, mas a opção é não fazer esta obra e por isso rasgaram o acordo», disse, acusando que «nunca há dinheiro para a Guarda quando o PSD está no Governo». O social-democrata não gostou do que ouviu: «O PS tem a distinta lata de se pronunciar sobre este projeto quando a responsabilidade da situação atual [o Turismo de Portugal pretende vender edifício] é da Câmara», criticou, afirmando que «o pior disto tudo é que estão satisfeitos com o que fizeram e dizem agora que não têm responsabilidade nenhuma». Por sua vez, Joaquim Valente acusou o PSD de «pura demagogia» e disse esperar para ver o resultado da avaliação do imóvel que o Turismo de Portugal já solicitou às Finanças. «Vamos compará-la com a nossa e, nessa altura, saberemos se foi ou não um mau negócio para a Câmara», sublinhou.

Nuno Almeida também evocou o «folhetim político-partidário» da substituição do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde (ULS) para declarar que a equipa de Vasco Lino «parece a comissão liquidatária do Hospital Sousa Martins para favorecer o Centro Hospitalar da Covilhã». Mas João Correia (PSD) estranhou a crítica, isto porque nos CA anteriores houve «vogais e administradores que não eram da Guarda, por exemplo, Vítor Mota, oriundo da Covilhã, ou mesmo Fernando Girão, que veio da ARS Norte». Por isso, o médico foi irónico na resposta. «Quer restringir a mobilidade das pessoas no país? Só as pessoas da Guarda é que têm capacidade para gerir o hospital? Quem vem de fora é suspeito? Devemos duvidar das suas capacidades?», interrogou. Mas esta não foi a única pergunta de João Correia, que voltou a questionar o presidente do município sobre o seu projeto para a Guarda. «O saldo é negativo se compararmos o que foi feito com as propostas do seu manifesto eleitoral», disse, acrescentando que «a “mala-pata” da Guarda reflete muito mais a inépcia do presidente e do executivo do que o azar».

Luis Martins Há dez meses, prédio custava 1,4 milhões, agora serão mais de 2,2 milhões

Será desta que a Câmara vai comprar o
        “Bacalhau”?

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