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Seminário da Guarda festeja bodas de diamante

Numa altura em que a crise de vocação se sente por todo lado, a Guarda não é excepção

O Seminário Maior da Imaculada Conceição, na Guarda, comemora as bodas de diamante das actuais instalações, durante o próximo fim-de-semana. O cónego Manuel Pereira de Matos, naquela instituição há mais de 20 anos, ainda se recorda do tempo em que a “casa” estava cheia de alunos. Hoje são cada vez menos os jovens a seguir a vida religiosa. A crise de vocação sente-se por todo lado e a Guarda não é excepção.

«A nossa diocese nem é das piores» diz Manuel Pereira de Matos, reitor do seminário há uma dúzia de anos, referindo de seguida que houve anos com «cinco ordenações, mas houve outros anos sem nenhuma». Sereno, encolhe os ombros, pensa no panorama de outras dioceses e conclui: «há bem piores». Nos últimos seis anos a média não chega a duas ordenações. «Felizmente, este ano, no dia 2 de Julho, deverão ser ordenados três Sacerdotes, dois Diáconos, um Acólito e um Leitor», assevera com satisfação. Actualmente, encontram-se «a decorrer os processos (de examinação), só no fim é que se sabe», revela. Quando voltou ao Seminário, já depois de ser pároco, há quase 22 anos, começava-se a recuperar o número de alunos, «havia poucos em teologia mas, havia mais, em estudos complementares. Hoje inverteu-se essa proporção», sublinha. O reitor guarda muitas memórias da sua vida de seminarista. Nessa altura, «o Seminário tinha bastantes alunos», murmura com saudade. Depois houve uma fase menos boa, que aconteceu depois da sua ordenação, aliás «fui o último daquela série, dos mais antigos», graceja. É que depois houve uma lacuna de cerca de 10 anos sem ordenações, recorda. No final da década de 40 e princípios dos anos 50 foi o hiato de tempo com maior número de alunos, «chegaram a ultrapassar os 100». Foi quando se assistiu «ao maior número de ordenações, em média 10 a 12, por ano», lembra. Por isso, logicamente, houve a necessidade de aumentar as instalações. No início, o edifício só tinha uma ala, depois «ampliou-se o resto da ala Norte e da Frente». Já na década de 50 foi construído um novo piso por cima da fachada.

Histórias e estórias do Seminário

Apesar de comemorar 75 anos, nas actuais instalações, no próximo domingo, o Seminário remonta ao século XVII, mais concretamente a 1601, quando D. Nuno Noronha, Bispo da Guarda, o mandou construir. Só depois do Concílio de Trento é que apareceram os Seminários, «durante séculos, a única escola de formação do clero foi a Sé Catedral», conta o reitor. O Seminário Maior e a Diocese da Guarda funcionavam «onde, hoje, está o Museu, o Paço da Cultura e os Correios», explica o cónego. Isto foi até à República. Em 1910 foi encerrado o Seminário Menor que ficava «lá em baixo, onde é actualmente o Instituto de Reinserção Social, no Colégio do Mondego», informa. Dois anos mais tarde fechou o Seminário Maior. Depois, os seminaristas e os fundadores foram para uma casa no Bonfim «chamada o Vaticano, hoje está lá um Café». Aí estiveram três anos, pouco depois foram expulsos pelos republicanos. «Nessa altura, os mais novos foram para o Fundão e os alunos de Teologia para Coimbra, lá estiveram 10 anos», relata. Após esta ausência, regressaram à Guarda, para a casa onde é hoje o Paço Episcopal, «ali estiveram, enquanto este edifício foi construído». D. José Alves Matoso começou a edificação, em 1921, mas só foi inaugurado uma década depois.

Durante séculos o Seminário da Guarda, à semelhança de outros do país, «foi o único instituto de ensino superior da região». Quanto ao afamado ensino de referência de outros tempos, «continua a sê-lo», assegura o reitor. No entanto, há cerca de cinco anos, que «os nossos alunos do secundário começaram a ir para as escolas públicas, por isso têm um ensino igual ao dos outros», graceja. De algum modo, o Seminário «ganhou com esta abertura», mas por outro lado, «não há um acompanhamento como o que havia antigamente», lamenta.

Pelo Seminário passou muita gente como D. José Alves Matoso, D. Manuel Vieira de Matos, D. João de Oliveira Matos, D. Manuel da Conceição Santos ou Monsenhor Alves Brás, entre tantos outros. Vergílio Ferreira e Malaca Casteleiro são outros dos nomes ilustres que passaram pelo Seminário da Guarda.

Comemorações

O programa das comemorações apresenta várias iniciativas durante todo o fim-de-semana. Amanhã, pelas 21 horas, está previsto um Concerto de Coros, na Sé Catedral da Guarda. Para sábado está marcado um painel, com antigos formadores e antigos alunos, no Seminário da Guarda, pelas 10h30 e uma conferência, pelas 15 horas, sobre “A Fé e a Ciência”, pelo professor Carvalho Rodrigues, no auditório da Câmara Municipal da Guarda. Também será apresentado um livro de memórias sobre o Seminário da Guarda e do Fundão. À noite estreia, pela primeira vez em Portugal, um filme produzido pelos padres e alunos de Ciudad Rodrigo, sobre a vida de Jesus. E, no domingo há o tradicional almoço com as famílias dos seminaristas. Seguido, da Missa do Jubileu, presidida pelo Núncio Apostólico, pelas 16 horas, na Sé Catedral.

Patrícia Correia

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