1. Depois de mais de dois meses encerrado, o Teatro Municipal da Guarda (TMG) reabriu na passada semana. Como sabemos, o atual executivo municipal optou por gerir a despesa com grande parcimónia e moderação, o que deve merecer o aplauso de todos, ainda mais nestes tempos de sacrifícios e dificuldades. Porém, esta opção tem riscos, não apenas pelo impacto que ela tem nas contas do município, mas também na vida cultural da cidade.
O TMG afirmou-se no panorama regional, e conseguiu mesmo o aplauso nacional junto de especialistas, pela sua programação e critério. Com ousadia e um investimento elevado, apostando em companhias e espetáculos de qualidade, conquistou o público da região e impôs-se como uma estrutura relevante da cultura no interior. Como era evidente, com a mudança de executivo, o TMG mudou de orientação. E, passado o encerramento temporário (espera-se,) reabre com a apresentação da programação para o quadrimestre e, pela primeira vez nos últimos dois anos, com um programação ambiciosa e «multiplicidade de propostas», com bons espetáculos, fotografia, teatro…
Álvaro Amaro prometeu na campanha a elevação do Teatro Municipal a Nacional – seja lá isso o que for (e neste caso supunha-se que seria dar dimensão nacional e maior notoriedade ao “TNG” e conquistar apoio e financiamento no Orçamento de Estado). Mas até agora essa promessa não teve seguimento. Provavelmente já foi metida na gaveta do esquecimento. E se a parte da conquista de financiamento deve estar na prioridade das opções de gestão do TMG, a dimensão nacional conquista-se não pelo nome, mas com uma programação ambiciosa, com atividades de qualidade e constantes. Esperemos que as boas apostas que regressaram finalmente à agenda do TMG tenham continuidade no próximo ano, mesmo sabendo que a estrutura é muito pesada e o futuro da cultura tem de se fazer com zelo e gestão rigorosa, sob o risco de se tornar inviável. Seja como for, o público da Guarda está habituado e aprecia a fruição de bons concertos e bons espetáculos, que têm de acontecer para desfrute dos guardenses e a elevação da vida cultural da cidade.
2. A semana passada revelámos aqui, em exclusivo, que a única ressonância magnética da Beira Interior está parada há dois anos. Na prática, nunca funcionou. E que, quando finalmente estariam reunidas as condições para a pôr a funcionar, eis que o hélio desapareceu e, por isso, é preciso gastar mais uns milhares de euros, extra, para repor e pôr a funcionar finalmente o mais eficaz e competente meio de diagnóstico. Numa sociedade exigente muitos estariam a pedir responsabilidades; numa cidade com opinião pública forte e dirigentes responsáveis e rigorosos teriam rolado cabeças; num serviço de saúde de qualidade e eficiente que vise prestar o melhor serviço ao utente, esta situação seria inaceitável, mas entre nós está tudo bem, é normal. Um equipamento de vanguarda, de tecnologia de ponta, que pode ajudar a determinar um problema de saúde, que custou mais de um milhão de euros ao Estado e que se encontra instalado há quase dois anos sem funcionar é um absurdo inexplicável, mas que não preocupa ninguém. Entretanto, os hospitais da Guarda, da Covilhã e de Castelo Branco que deveriam utilizar este equipamento, continuam a pagar milhares de euros por exames a centros de diagnóstico privados quando deveriam ser feitos num equipamento “próprio”, público, com custos muitíssimo mais baixos.
Luis Baptista-Martins