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Seguro-te camarada!

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Estou plenamente convencido que existiu uma estratégia de empobrecimento crítico e de apoucamento de António José Seguro para construir uma alternativa enquanto o tempo de esquecimento decorria. Houve uma derrota histórica na rejeição popular de Sócrates que se iniciou numa manifestação de professores inesquecível (março 2008) e depois numa manifestação em Lisboa com centenas de milhares de pessoas (março 2011). Em junho de 2011, o PS saiu esfrangalhado e isso inclui dezenas de pessoas que têm alergia ao anonimato e borbulhas à travessia do deserto. Foi uma derrota eleitoral dantesca.

Surgiu das cinzas António José Seguro e não António Costa. Surgiu também Assis e perdeu as eleições internas. Veio um tempo cinzento em que era preciso assumir a história e defender as pessoas que nela estiveram implicadas. Na realidade, era preciso fazer como os presidentes novos das grandes empresas – não rasgar os contratos pregressos. Assim se portou Seguro, que agora é criticado também por isso. Como se ouvíssemos à gestão nova da Sony ou da Coca-Cola dizer mal da gestão anterior. Caminhou-se lentamente, com alguma descrição retórica, mas com muita persistência, para o primeiro desafio: as autárquicas. Seguro, com menos votos que nas anteriores, ganhou em número de Câmaras conquistadas. Uma vitória em que se inclui a de Costa, ou aquela é só dele?

Os portugueses, depois de mais uma enorme manifestação (agora contra Passos Coelho), estão perplexos, com dificuldade em acreditar em alguém e por isso não votam. Votaram em Costa 50% dos lisboetas que foram votar. (48% de abstenções, mas na altura não era pouco) Isso é indiscutível. Mas também votaram nos Açores, avermelharam o Alentejo e deram mais cinco câmaras ao CDS. A leitura podia ser uma vitória de parte do Governo. Perversões de leitura! Foi uma vitória de Seguro? Ou já essa foi pouco? Depois, entre cinquentões (Costa, Assis, Seguro, Beleza e outros), escolheram Francisco Assis para a peleja Europeia. Definiram juntos um caminho e perderam. Perderam todos, como Costa perdeu a caminhada do burro contra um Ferrari. Perdeu sobretudo a estratégia discursiva de Assis que tentou o jargão “o PS nunca cometeu erros” e que lhe é totalmente imputável.

O que nunca tinha acontecido era ganhar umas eleições e alguém dizer que era pouco. Chegar à frente é ganhar, mas não chega. Não chega ganhar porque é preciso ganhar por muitos. Este é um discurso tão demagógico como o de alguém se afirmar a si próprio moderno, imprescindível e importante. Porquê? O elogio na boca do próprio é vitupério. O discurso demagógico da modernidade é em si próprio uma forma de venda de ideias e, portanto, propaganda sem conteúdo. Vivemos, pois, uma caminhada: primeiro apoucar o líder com o apoio de muitos comentadores do PS e PSD. Construir-lhe uma imagem negativa, construir-lhe um cenário. Depois lançar o candidato levado ao colo nos mesmos media, agora cheio de modernismo, “importantismo” para apanhar o caminho construído durante três anos com muito suor e muito combate na adversidade. Eu testemunhei e agora seguro-te camarada!

* Para que conste, sou vereador do PS em Valença do Minho

Por: Diogo Cabrita

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