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Segunda Carta

CARTAS DA FACULDADE

por Maria João Pinto*

Já passaram, praticamente, três meses desde que começou a Faculdade. Desde então, já muito sucedeu – tanto que é difícil resumi-lo de modo a caber numa coluna de jornal. Não há quase palavras para descrever as muitas gargalhadas soltadas pelas ruas de Coimbra, as demonstrações de companheirismo que vão muito além das aulas, a força das novas raízes que vamos construindo. A Latada foi uma experiência única, diferente de tudo o que pudéssemos imaginar, e contribuiu em muito não só para alargarmos o nosso círculo de conhecidos, como também para cimentar as relações que já tínhamos: a amizade floresceu, enfim. Além disso, o Cortejo e o Baptismo foram momentos fulcrais na nossa vida de caloiros e, de certo, ficarão sempre na nossa memória.

No entanto, nem tudo é aquilo a que se chama “boa vida”: começaram as primeiras provas de fogo, os primeiros indícios de que, sim, estamos mesmo na Universidade! Eis que surgiu (aparentemente do nada…) uma cascata ininterrupta de trabalhos, apresentações, relatórios, fichas, testes. Não passar deixou de ser opção: as segundas oportunidades não são tão comuns como no Ensino Secundário, pelo que temos de nos aplicar desde o início. Isto, claro, se quisermos ser mais do que meros “faculdantes”.

Não estamos só a construir o nosso futuro. Mais do que isso, estamos a (re)construir-nos enquanto pessoas, alargando os nossos horizontes, redefinindo ideias e conceitos, aceitando novas responsabilidades, numa eterna procura de equilíbrio. Aprendemos com os nossos erros, mais do que nunca: se dermos um passo em falso, já não há ninguém para nos apanhar. Os professores são mais distantes, as exigências muito maiores e o tempo cada vez mais escasso. De súbito, somos todos trapezistas numa corda a 20 metros do chão, tentando equilibrar-nos com maior ou menor dificuldade, uma pilha de livros de Anatomia, Bioquímica e Biologia numa mão e os amigos, os convívios e a diversão na outra.

Mas, no final, não são as dores que nos surgem na cabeça, quando fazemos um balanço desta primeira etapa. Mesmo depois de tanto esforço, quando pensarmos no primeiro semestre do primeiro ano de faculdade, aquilo que vamos recordar com mais carinho vão ser todos os momentos de felicidade conseguidos. E, quiçá, seja por estarem misturados com esgares de dor, cansaço e frustração que os sorrisos e as gargalhadas são tão fortes na nossa memória.

* ex-aluna da ESAA, estudante da Fac. Medicina Coimbra

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