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Saramago propõe unir Aldeias Históricas num itinerário

Nobel da Literatura percorreu a rota de Salomão, desde Belém a Castelo Rodrigo, passando pelas aldeias narradas na “Viagem do Elefante”

«Parece que o elefante ganhou vida», afirmou José Saramago na sua passagem por Figueira de Castelo Rodrigo, na última quinta-feira, ao constatar que poucas das suas obras conseguiram a recepção que a última alcançou junto do público. E destacou a que encontrou nas gentes que moram nos locais por onde os «amigos de Salomão» passaram. A aventura começou no dia anterior, quando o escritor saiu de Lisboa rumo a Castelo Rodrigo, percorrendo a rota portuguesa que imaginou para Salomão. A viagem acabou por resultar num desafio lançado pelo escritor: unir as Aldeias Históricas da Beira Interior num itinerário.

Aos 86 anos, Saramago encontrou um pretexto para percorrer as terras do interior do país com um livro nas mãos, a “Viagem do Elefante”, respondendo assim ao repto lançado pela Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo – que o desafiou a viajar pelos locais que citou na obra. O percurso incluiu Constância, Fundão, Sabugal, Sortelha, Castelo Novo, Cidadelhe e, por fim, Castelo Rodrigo. Todos locais onde o romancista esteve pela última vez há 30 anos, regressando agora com uma comitiva de 16 pessoas, entre amigos, elementos da Fundação José Saramago e jornalistas. Quanto à viagem do elefante – que, em 1551, foi de Lisboa a Viena como oferta do rei D. João III ao seu primo, sem que haja registos do percurso –, o Nobel da Literatura disse que o importante não está em «fazer acreditar as pessoas que ele passou por aqui ou por ali», bastará «dizer-lhes que podia ter passado». Já a opção de o fazer passar por Castelo Rodrigo foi justificada de forma simples: «Veio por aí acima até a um sítio para passar para o lado de Espanha. Passou por aqui porque Castelo Rodrigo está onde está», disse no salão nobre da Câmara, onde esteve antes de seguir para a Aldeia Histórica.

O escritor recordou a viagem que fez em 1979 pelas aldeias da Beira Interior, mostrou-se surpreendido por ter encontrado pessoas «que conhecia desde então» e notou «as muitas boas palavras» que ouviu ao longo da rota, para depois referir que «a memória vence o tempo». O escritor referiu depois o problema da desertificação, tendo considerado que «terras [a região] já tem, precisam é de repovoá-las». Também não ficou alheio à beleza dos sítios que visitou, o que o levou a sugerir a criação do itinerário em torno das Aldeias Históricas da Beira Interior. «Que o Salomão possa contribuir para isso», disse, reconhecendo a importância que provocou nos locais escolhidos para esta viagem. O presidente da Câmara, António Edmundo, congratulou-se com a passagem dos «amigos de Salomão» por Figueira, garantindo que Saramago «acabou de promover um roteiro por aldeias e vilas que reclamam um novo olhar» num «Portugal desigual e ímpar». «Em boa hora Castelo Rodrigo foi chamado à viagem», congratulou-se.

Na Aldeia Histórica, onde chegou já depois das 19h30, com mais de duas horas de atraso em relação ao previsto, o escritor visitou as ruínas do Palácio de Cristóvão de Moura, descerrou uma placa no edifício da Junta, que assinala a sua passagem, e ainda teve fôlego para uma sessão de autógrafos. O Nobel da Literatura ali pernoitou e seguiu viagem para Valladolid (Espanha) no dia seguinte.

O escritor chegou à última etapa da rota portuguesa de Salomão ao fim da tarde

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