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Santa impunidade

As reflexões de Verão

BANCOS: Os bancos anunciam sem pudor o aumento desmesurado de lucros. Num país a chorar misérias até seria uma boa noticia, não fosse o caso de muitos destes lucros serem conseguidos explorando à centésima as famílias em problemas e os negócios em dificuldade. Taxas, juros de mora, arredondamentos pouco claros. A recém-criada Associação Portuguesa dos Consumidores e Utilizadores de Produtos e Serviços Financeiros (Sefin) denunciou que o arredondamento das taxas de juro aplicadas aos empréstimos concedidos pelos bancos em Portugal geram, pelo menos, um ganho total anual de 73 milhões de euros. Mas pode chegar aos 198 milhões de euros, refere o “Diário de Notícias”, se o cálculo for feito com base num arredondamento de um quarto de ponto percentual.

António Júlio Almeida, presidente da Sefin, afirma que «o arredondamento da taxa de juro é uma prática abusiva, que viola a Directiva Comunitária 13/93 e a sua transposição para o direito português, através do Decreto-Lei 220/95». Refere mesmo que, em Espanha, houve bancos que tiveram de devolver dinheiro a clientes após várias intervenções judiciais e por isso apresentou o caso ao Banco de Portugal.

Reflexão: Será que o Banco de Portugal não sabia? Será que a autoridade para a concorrência não sabia? Será que o Ministro das Finanças não sabia? Afinal quem controla o quê? Será que só o pequeno cidadão é controlado ao cêntimo? E agora que já sabem? O que vai acontecer… Santa impunidade!

COMUNICAÇÃO SOCIAL: Capa da revista “TV 7 dias” – José Sócrates aparece a espalhar creme solar nas costas de outro homem. Depois de tudo o que já se disse por aí, obviamente que é uma capa a chamar a atenção. Acontece que só dentro da revista se refere que o outro homem é o seu irmão. O que é um gesto fraterno e simples ganha contornos de escândalo, na medida em que muitas pessoas lêem os títulos das revistas mas não as compram.

REFLEXÃO: Em tribunal, a revista sempre terá a defesa de ter identificado o “outro homem”, mas certamente que ficará impune de ter acicatado o boato ou de ter deliberadamente enganado os leitores que a compraram a julgar que a notícia teria outro conteúdo. Ou melhor, que seria uma notícia, o que aquele texto certamente não é. Santa impunidade!

LOBIES: O director do “Público” esteve em Israel com viagem… paga pelo estado de Israel. Advoga que aceitou o convite antes de ter rebentado o conflito com o Líbano, e que a viagem paga não lhe afectou o espírito crítico e a independência com que deu as notícias. Afirmou ainda que o “Público” tinha noticiado anteriormente que o seu director se deslocava a Israel a convite do Governo local.

REFLEXÃO: Confio em José Manuel Fernandes e no seu profissionalismo. Mas… se tivesse pago do seu bolso, certamente teria escrito o mesmo? Como não sou obrigado a ler o “Público” todos os dias, enquanto leitor eu não sabia que Israel lhe tinha pago a viagem. Não tenho direito a ser informado? E qual o interesse do Estado de Israel em convidar e financiar viagens de influentes directores de jornais, para acompanharem uma, só uma, das faces da guerra? Quem controla depois a opinião publicada?

Nota: Mas esta é a ponta do iceberg, há câmaras municipais que lhes basta pagar almoços para influenciar a imprensa na cobertura das suas “guerras”. É a santa impunidade…

Por: João Morgado

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