Como ex-doente e trabalhador do Sanatório tenho que me regozijar com esta comemoração centenária e louvo a feliz ideia dos seus proponentes, já que, para mim, é de todo merecida. Poderei dizer que, na minha opinião, a feliz iniciativa da Rainha D. Amélia, quando no início do século XX procedeu à sua inauguração, foi talvez o maior acontecimento, ou dos maiores, que a nossa cidade teve no decorrer do século. Esta unidade de saúde, implantada depois de alguns estudos feitos, onde haverá que realçar o nosso clima, nessa altura frio e seco, como convinha ao combate da tuberculose, flagelo que já vinha do século anterior, viria a demonstrar o quanto certa tinha sido esta resolução, indo ao ponto de a nossa terra passar a ser conhecida como a “Cidade da Saúde”, já que as curas começariam a surgir.
Inicialmente, o Sanatório possuía apenas três pavilhões, o chamado principal, que é hoje ocupado pelo Centro de Saúde e administração distrital, e o D. Amélia e D. António de Lencastre, mais tarde chamados pavilhões 3 e 2, respectivamente. Além destas unidades havia vários chalets normalmente ocupados por famílias com posses, que na ânsia e desejo da cura aqui permaneciam. Como se calcula havia unidades de apoio como raio-x, laboratório, lavandaria e administração (hoje instalações da Rádio Altitude), bem como a capela.
Relativamente aos primeiros 50 anos de vida do Sanatório, foi tudo isto que eu pesquisei nos meus tempos de doente, já que havia uma magnífica biblioteca com mais de 3.000 mil volumes que, naturalmente, se foram perdendo e cuja Caixa Recreativa dos doentes organizava e da qual era responsável. Saliente-se ainda que haviam actividades no pavilhão principal, como salão de festas, a sala dos espelhos e até passagem de modelos.
Entretanto, o Estado vendo talvez a necessidade de satisfazer a vontade de muitos doentes que iam aparecendo, mas sem posses, construiu todo aquele grande pavilhão com cerca de 200 metros e três pisos na parte direita e dois na parte esquerda, que viria a albergar quase 300 camas, destinadas à classe pobre, cuja inauguração veio a acontecer na década de 50. Foi a partir dessa altura que surgiu um novo director, o Dr. Manuel Martins Queiroz, distinto clínico vindo do Caramulo, cuja acção desenvolvida, transformou o Sanatório num verdadeiro pólo de actividades múltiplas com terapêuticas diversas e condizentes com o estado de saúde de cada um dos doentes. Também a partir desta altura começou a verificar-se uma nova fisionomia do Sanatório. O pavilhão um ficou apenas destinado à classe feminina e os restantes passaram a ter outra numeração. O pavilhão D. António de Lencastre viria a ser o dois, o D. Amélia o três, o quatro, também chamado de anexo, estava situado onde agora funciona a secção de psiquiatria, o cinco, já no novo pavilhão, era uma espécie de serviço de admissão ou estudo, já que todos os doentes do sexo masculino ali permaneciam durante algum tempo, vindo depois a ser transferido para outros serviços. O serviço seis era onde presentemente está instalada a Maternidade e a Pediatria, o sete é hoje a Medicina, o oito a Cardiologia e o nove tem agora a Pneumologia, a Oto e a Oftalmologia. Funcionavam ainda neste grande pavilhão todos os serviços administrativos, sala de conferências médicas, etc. os serviços de cozinha ficavam localizados na parte posterior do pavilhão e onde agora funcionam.
A. Ferreira, Guarda