Arquivo

Sanatório Sousa Martins é conjunto de interesse público

Portaria publicada na terça-feira justifica classificação, entre outros argumentos, por existirem «circunstâncias suscetíveis de acarretarem diminuição ou perda da perenidade ou da integridade do bem»

O antigo Sanatório Sousa Martins, na Guarda, foi classificado como conjunto de interesse público. A portaria da Secretaria de Estado da Cultura justifica a decisão por ter sido um complexo hospitalar «de referência nas áreas social, científica e arquitetónica», mas também por existirem «circunstâncias suscetíveis de acarretarem diminuição ou perda da perenidade ou da integridade do bem», lê-se na portaria publicada anteontem no “Diário da República”.

Datada de 7 de janeiro, a classificação fundamenta-se no facto dos pavilhões do sanatório terem sido projetados no início do século XX pelo arquiteto Raul Lino (1897-1974), «num extenso parque concebido de acordo com o gosto romântico e revivalista da época, onde se distribuem espaços exuberantemente ajardinados, lagos, fontes, grutas e recantos pitorescos», recorda o documento. No agora denominado Parque da Saúde, a 1.093 metros de altitude, «entre os edifícios principais, exemplos de grande qualidade de arquitetura do ferro, destacam-se, pela sua autenticidade, o pavilhão D. Amélia e, particularmente, o pavilhão D. António de Lencastre, verdadeiro ex-libris do conjunto». A portaria lembra também que os quartos possuem amplas varandas ou “galerias de cura”, com boa exposição solar, e ainda instalações sociais, cozinha, sala de jantar e consultório, contando ainda o pavilhão de primeira classe com jardim de inverno, biblioteca, barbeiro e dentista». Contudo, ambos os edifícios estão votados ao abandono há décadas.

Além destes, há os pavilhões da administração, farmácia, laboratório, posto de radiologia, capela neo-gótica, chalets, pombal e lavandaria, que empreitada da primeira fase preservou. O sanatório foi ampliado entre 1950 e 1955, período em que foi construído o chamado “edifício-comboio”. Inaugurado a 18 de maio de 1907, o complexo batizado com o nome do médico Sousa Martins foi e continua a ser um um ex-libris da Guarda. Esta classificação implica «normas claras ao nível da salvaguarda do património em causa, bem como a clarificação da zona geral de proteção», destaca Hélder Sequeira. O investigador considera que esta portaria «é importante e há muito tempo que deveria ter sido publicada, face à importância histórica e patrimonial do conjunto arquitetónico e monumental do Sanatório Sousa Martins». No entanto, avisa que não será esta decisão que vai «garantir verbas e impedir a degradação» daqueles edifícios. «Provavelmente, se esta classificação tivesse sido feita há mais tempo não teriam ocorrido determinadas situações e não se teria desfigurado o espaço em causa, até porque não era, de todo, impossível conciliar as necessidades de uma unidade hospitalar nova, ou de um desejado desenvolvimento, com um património reconhecido por todos», considera o também colunista de O INTERIOR.

Na sua opinião, o que vai mudar é que a portaria «condiciona e regulamenta as alterações que sejam pensadas para o referido espaço, implicando um outro nível de responsabilização». Nesse sentido, Hélder Sequeira considera que a classificação como monumento de interesse público implica a necessidade de «uma nova postura» por parte dos responsáveis e não só. «Acho que a comunidade local e regional não se deve colocar à margem desta questão. É importante que as pessoas estejam atentas ao que ocorre etenham um atitude construtiva, pois o que está em causa – embora para muito boa gente estas questões nada signifiquem, infelizmente – é uma expressiva parcela da identidade guardense, uma instituição que foi uma referência nacional e mesmo internacional, uma unidade de saúde que em muito contribui para a projeção da Guarda e para o seu desenvolvimento», sublinha. Recordando ter sido também no contexto do Sanatório que nasceu a Rádio Altitude, o investigador acredita que a preservação e salvaguarda implícitas na classificação «pode propiciar investimentos, postos de trabalho, desenvolvimento desde que equacionadas e desenvolvidas as soluções adequadas, que não estejam condicionadas por calendários eleitorais ou estratégias políticas».

Luis Martins Pavilhões Rainha D. Amélia (na foto) e D. António de Lencastre estão votados ao abandono há décadas

Comentários dos nossos leitores
Estrela Iberica estrela.iberica@gmail.com
Comentário:
A Guarda é uma cidade cheia de interessantíssimos prédios antigos que estão a precisar de um bom restauro. O próprio Hospital Sousa Martins, o cinema, que é uma beleza, e muitos outros prédios, quintas, etc. A antiga judiaria poderia ser um exemplo de boa reconstrução de uma cidade. A Guarda fica perto de Espanha e, olhando para Espanha com a mentalidade e sensibilidade lusa, pode encontrar a oportunidade. A Guarda é muito desconhecida em Espanha. Se viajamos de Salamanca para a Guarda, em nenhum lugar há qualquer indicação do que há depois da fronteira. As indicações só dizem Portugal. À trabalho a fazer na divulgação da região em Espanha e tudo o que se faça será positivo. Boa sorte, o interior é uma magnífica região ibérica.
 

Sobre o autor

Leave a Reply