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Salazar

Era fatal que Salazar voltasse à ribalta; e o mal-estar manifestado por historiadores não é garantia da História que produzem. Explico-me: a impossibilidade de rupturas em História deriva de a identidade humana (neste caso a colectiva) não dar saltos. Ou seja: um génio benigno pode imprimir um carácter de mudança a uma Nação e a elevação do carácter, nos seus traços assim tornados essenciais, perenizar-se. Mas onde, em História, encontramos um génio benigno em estado puro? E como pode fazer-se História sem um espírito livre, lúcido?

Mais. A Universidade pode considerar-se, a si mesma, intangível. Mas qualquer superficial atenção a revela como um epifenómeno. Apenas dois exemplos: na Secção de História da Faculdade de Letras de Coimbra, imediatamente após o 25 de Abril, os institutos que a integravam mudaram automaticamente as designações que tinham para designações marxistas (que, breve tempo depois, alguns professores se sentiam embaraçosamente ruborizados…); e quando se coteja Coimbra com Salamanca a nitidez impõe-se. Não se trata de ser desprimoroso; mas contra factos…

No bar da Faculdade de Letras coimbrã, aos intervalos, frente ao balcão, não era raro os professores, fazendo grupo com os alunos, falarem em tom algo mais alto, conversa em que, por vezes, o próprio empregado do bar, instado ou não, “metia a colherada”. Em Salamanca, em aulas de 4 horas ou mais, que se dividiam ao meio para se ir tomar algo, a realidade era absolutamente de outra índole.

Aqui, o Prof., um patriarca da universidade, perguntava – com uma postura veramente aristocrática – às alunas e alunos o que tomavam. Atrás do balcão, um empregado, sempre no seu “lugar”, servia, solícito e atencioso, e, de seguida, o Prof. estendia a taça a cada um dos seus alunos.

Insisto em que não estou a diminuir Coimbra. Portugal é assim. E, no 1º de Maio de 1974, fui um dos que, na cidade do Mondego, engrossou a multidão que vitoriava a mudança. Lembre-se, aliás, que Salazar em pessoa desaparecera de cena em 1968, quando caíra da cadeira.

Neste preciso momento, o que há de melhor na sociedade portuguesa transborda de nojo pela realidade circundante. Aborto, homossexualidade, pederastia, lesbianismo, corrupção, mentira, protagonismo do Mal, falta de educação e de civismo, o Mal com pretensões a ser verdade ontológica, figurões com tempo de antena, quase total e absoluta desconfiança relativamente aos políticos, trate-se do autarca preso ou da autarca nauseante, do secretário-geral do partido ou do militante de infinitesimal categoria que conseguiu um lugar que jamais obteria em situações de equidade e decência, juventude sem norte e sem emprego, TV miseranda… E é isto, precisamente, que é insuportável.

O ex-combatente em Angola e ex-emigrante na Alemanha, a professora primária aposentada, o proprietário, o já nascido após o 25-IV mas suficientemente sabedor e empenhado, e etc., etc., etc., dizem – com a maior veemência – que “Salazar é que cá devia estar”.

A História do 25 de Abril já está feita? – Não. De então até hoje a malignidade comunista (e malignidade dada a sua ignorância e intrínseca perversão) e o laicismo “socialista” é que têm dominado Portugal – e Portugal tem um fundo religioso. Portugal está “fora dos carris” e é isso que todos sabem.

Com Salazar não havia liberdade de opinião? È incontestável. Mas havia segurança, respeito, situações claramente definidas, educação, um ensino de qualidade – e é isso que o poder político não só não tem dado, como, ainda por cima, tripudia sobre toda a Dignidade e Verdade. “Não aumentarei impostos”, dizia Sócrates, durante a campanha eleitoral. Em 1ª página um diário afirmava recentemente que, em 2 anos, aumentaram 79%. Impera o critério do “vale tudo” – e a Pátria afunda-se com todo este deletério.

Qual a dimensão do drama e do fiasco republicanos? Que trouxe de benefícios para Portugal? A impotência republicana deixou saudades? Por que razão então foi Salazar visto como “Salvador”? Que louvores, ou não, devem dar-se a este pela sua política de neutralidade durante a 2ª conflagração? E pelas finanças? E pela afirmação portuguesa no conspecto internacional? E pela sua defesa dos territórios além-mar? E pela força do escudo? E pela quantidade de ouro nos cofres do Banco de Portugal?

As respostas a estas questões estão judiciosamente fornecidas? Ou facilmente se detecta, no texto escrito, uma projecção do historiador que, evidentemente, afirma não fazer juízos de valor? Mais. Se os historiadores estão tão seguros de si, por que não mandam traduzir o que de Salazar disse Mircea Eliade? Mais. Qual o historiador que, cabalmente, poderá falar de fascismo? Sim, o fascismo é o irracional emergente. Todavia, na Itália, de 1200 professores universitários, só 12 repudiaram o juramento fascista. Os outros 1188 eram imbecis? Os futuristas aderiram à violência? E que dizia Almada Negreiros?

Cada vez mais interessado na Arte fico, porém, extremamente contente por o Museu Salazar avançar. Que seja uma concreção de Verdade.

Guarda, 3-III-07

Por: J. A. Alves Ambrósio

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