Num julgamento rodeado de fortes medidas de segurança, António Tapada Almeida, popularmente conhecido por “Ruço” e “Bin Laden das Beiras” viu, na quarta-feira da semana passada, o Tribunal da Guarda condená-lo a um cúmulo jurídico de 11 anos e meio de prisão efectiva. Acusado de 37 crimes, o arguido foi condenado apenas por 14: um de furto, outro de furto qualificado, um de explosão e ofensa à integridade física, um de explosão negligente, um de resistência e coacção a funcionário do Estado, dois de ameaça, um de posse de arma proibida, um de detenção de explosivos, três de falsificação de documentos e dois de condução sem habilitação legal. A advogada oficiosa de defesa ainda não decidiu se vai recorrer da decisão.
Entre os crimes que não foram dados como provados pelo colectivo de juízes, presidido por Heitor Osório, encontram-se os 11 de homicídio qualificado na forma tentada. Desta forma, não foi considerado que o arguido tenha tido intenção de matar ninguém, mas apenas o propósito de «amedrontar e de impedir a sua detenção», quando disparou na direcção de bombeiros e de agentes da Guarda Nacional Republicana, bem como no caso do rádio armadilhado que explodiu no quartel daquela força policial na Guarda. O Tribunal absolveu ainda o arguido de cinco crimes de detenção ilegal de armas, um crime de explosão, quatro de detenção de explosivos, um de falsificação de documentos e dois de condução sem habitação legal. Durante a leitura do acórdão, que demorou mais de uma hora, o juiz afirmou que o arguido, que mostrou alguns sinais de impaciência, agiu de «forma deliberada, livre e consciente», padecendo de uma «perturbação anti-social de personalidade», embora com «plena consciência» dos actos praticados e «capacidade para avaliar» as consequências dos mesmos. O juiz referiu ainda o facto do arguido ter «confessado parcialmente os factos», o que, de alguma forma, acabou por atenuar a pena. Contra si, esteve a reincidência de um crime de condução sem habilitação legal pelo qual já havia sido condenado pelo Tribunal de Celorico da Beira.
António Tapada Almeida, de 42 anos, natural de Aldeia Viçosa (Guarda) terá praticado os crimes de que foi acusado entre Novembro de 2000 e Setembro de 2002, quando foi detido no Centro de Saúde de Celorico da Beira, depois de ter sofrido ferimentos nos membros inferiores, provocados pela explosão de uma armadilha que o próprio instalou na serra. No final do julgamento, Carla Freire, a advogada oficiosa de defesa, afirmou que ainda não sabia se ia ou não apresentar recurso da sentença: «Vou analisar o acórdão, lê-lo em condições e depois se houver matéria susceptível de recurso muito bem», disse. No banco dos réus também se sentou um empresário da construção civil de Celorico da Beira, que comprou uma arma que tinha sido furtada por “Ruço” na Guarda. O Tribunal condenou-o ao pagamento de uma multa de 1200 euros. No exterior e interior do Tribunal da Guarda estiveram vários guardas prisionais e agentes da Policia de Segurança Publica. Casado, pai de três filhos menores e de «modesta condição económica», o “Bin Laden das Beiras” andou escondido em “cavernas” localizadas na Serra, entre Novembro de 2000 e Setembro de 2002, altura em que ficou detido preventivamente.
Ricardo Cordeiro