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RTSE ameaça pedir dinheiro do projecto do Sanatório à Enatur

Se a Pousada não for construída, Jorge Patrão quer reaver um milhão de euros gastos no projecto de Souto Moura

Se a Enatur perder o edifício do antigo Sanatório dos Ferroviários por «desleixo, negligência ou desinteresse», a Região de Turismo da Serra da Estrela vai «exigir» a verba de um milhão de euros que foram gastos no projecto do arquitecto Souto Moura para a reconversão daquela estrutura numa pousada.

O aviso é feito por Jorge Patrão, que confessou a “O Interior” estar «desiludido» com o desinteresse do Estado em salvar um património que lhe foi vendido simbolicamente por um escudo em 1999 apenas com a cláusula de que o edifício reverteria a favor do anterior proprietário, a Turistrela, caso não fosse construído. O prazo da escritura termina este mês – depois de ter sido prolongado já por duas vezes – mas até ao fecho desta edição não houve qualquer vontade da Enatur em prolongar o prazo para essa construção. Até porque «ninguém quer saber da construção do Sanatório. Nem o Estado, nem a Enatur e nem o Grupo Pestana», que detém 49 por cento do capital da empresa nacional de turismo, acusa o presidente da RTSE. Daí que avise desde já que não vai ficar «impávido e sereno» no caso da Pousada não ser construída e exigirá o dinheiro que estava destinado para a construção de um parque de campismo na Serra da Estrela.

Jorge Patrão vai mais longe e ameaça mesmo pedir «responsabilidades» às entidades públicas envolvidas «se acontecer alguma coisa ao edifício», ainda para mais quando havia disponíveis 15 milhões de euros provenientes de fundos comunitários para a construção da futura Pousada da Serra da Estrela no ponto mais alto de Portugal Continental. A recuperação do antigo sanatório dos Ferroviários em pousada correspondia a um dos investimentos anunciados pelo Governo de António Guterres, através do Plano de Aproveitamento das Potencialidades Turísticas e Ambientalistas da Serra da Estrela. No entanto, a sua construção nunca passou de uma promessa que apenas teve um novo alento com a abertura do concurso público internacional. Orçada em 10 milhões de euros, a pousada previa a construção de 56 quartos – 35 dos quais duplos, cinco familiares e 16 suites -, uma suite presidencial no último piso e um health club. O consórcio vencedor do concurso, composto pelas empresas Ramalho Rosa Cobetar e a FCC, aguarda pela adjudicação da obra há mais de um ano.

Além da ausência de financiamento, falta ainda a vontade do Grupo Pestana em levar a cabo o investimento. Recorde-se que o presidente daquele grupo, José Roquette, tinha manifestado dúvidas quanto à viabilidade da Pousada na Serra da Estrela pelo facto de existirem estruturas similares na região: as Pousadas do Convento do Desagravo, Manteigas, Belmonte e Linhares da Beira, que está quase concluída. Apesar das inúmeras insistências, “O Interior” não conseguiu falar com a Enatur sobre o futuro daquela estrutura projectada durante o Estado Novo por Cotinneli Telmo. Também o administrador da Turistrela, Artur Costa Pais, recusou-se a prestar declarações sobre o processo por «não ter nada a dizer» sobre o assunto, reafirmando que é a Enatur a proprietária do imóvel.

Liliana Correia

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